Vou hoje transcrever mais um texto da página virtual
da CartaCapital, revista brasileira a que recorreo frequentemente , datado do
passado dia 18 de agosto, que pode ajudar a compreender o que se está a passar
atualmente no Brasil, ao trazer-nos um tipo de informação diferente daquele que
nos é dado por outros textos já aqui divulgados. O seu autor é Renan Truffi, repórter da CartaCapital. “Quem são os
manifestantes de 16 de agosto ?" ─ é a pergunta a que o texto procura
responder.” Ei-lo:
“Apesar de ter sido o terceiro grande protesto contra o governo
petista e pelo impeachment da
presidenta Dilma Rousseff, a manifestação de 16 de agosto mostrou que essa série de
movimentos continua sendo
constituída majoritariamente por uma única camada
da sociedade brasileira.
É o que revela uma pesquisa com os participantes do
ato em São Paulo, estado com o maior número de manifestantes. O perfil de quem
tomou as ruas da capital paulista é: homem (57,30%), branco (73,60%), com idade
entre 30 e 60 anos (59,2%), renda familiar superior a R$ 3.940 reais (70,9%) e
alto nível de escolaridade (65,40%).
“A nossa ideia era um pouco ver se o protesto
continuava homogêneo, pessoas com ensino superior completo, brancas. E a
primeira conclusão é que o protesto não conseguiu incluir outras classes
sociais. É um protesto muito excludente”, afirma Esther Solano, professora de
Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Ela conduziu o estudo com Pablo Ortellado, filósofo da Universidade de São
Paulo (USP), e Lucia Nader, da Fundação Open Society, para o Grupo de Pesquisa
em Políticas Públicas para o Acesso à Informação, da USP. O levantamento foi
realizado junto a 405 pessoas, entre as 12 horas as 17 horas e 30 minutos
do domingo 16, em toda a extensão da Avenida Paulista, tem 95% de nível
confiança e margem de erro de 4,9%.
Segundo o estudo, os homens representam 57,30% do
público, contra 42,70% das mulheres. A maioria das pessoas possui ensino superior
completo (65,40%), enquanto que 13,30% estudaram somente até o ensino médio.
A faixa etária mais representativa é de pessoas com
idade entre 50 e 60 anos (22,70%), seguida dos manifestantes que têm entre 30 e
40 anos (22,20%) e daqueles que possuem entre 20 e 30 anos (19,30%).
Na questão da classe social, a maioria (28,9%) possui
renda familiar entre 7.880 e 15.760 reais. O segundo grupo mais representativo
é o dos que possuem renda familiar com valor entre 3.940 e 7.880 reais: eles
são 22,5% dos ouvidos na pesquisa. Além disso, 19% das pessoas dizem ter
renda de mais de 15 mil reais.
Quase metade dos
manifestantes (48,4%) tem renda superior a 7 .880 reais
A pesquisa também ajuda a desmistificar a tese
de que, assim como os grupos Movimento Brasil
Livre (MBL) e Vem Pra Rua, que organizam os protestos, os manifestantes tenham um
pensamento liberal sobre questões que envolvam a presença do Estado na vida dos
cidadãos.
Os pesquisadores questionaram as pessoas sobre seus
direitos e a grande maioria se mostrou a favor de educação (86,9% dos
entrevistados) e saúde (74,3%) providas de forma gratuita. Somente a gratuidade dos
serviços de transporte foi rejeitada pelos participantes (48,90%) do protesto em São Paulo.
Apesar de defenderam serviços públicos gratuitos, mais
de 80% dos manifestantes também se mostram a favor da redução de impostos de
uma maneira geral no País. A explicação para essa contradição pode estar em outra pergunta
da pesquisa: quase 90% dos entrevistados acredita que o problema da má
qualidade nos serviços públicos se deve à corrupção. Outros 93% colocam o
problema como resultado de má administração, e 73% discordam de que a razão
seja a “falta de recursos” para manter serviços para todos.
Outra questão foi sobre o financiamento
empresarial de campanha. Entre as pessoas que estavam presentes na avenida Paulista, 73% não
concordam com esse modelo de financiamento
eleitoral. Outros 17,8%
defendem o formato e 8,6% dizem que não têm uma opinião sobre o assunto.
A pesquisa também se debruçou sobre as opiniões dos
manifestantes quanto ao sistema político. Praticamente todas as pessoas que
foram protestar na avenida Paulista, aproximadamente 96,80%, estão
insatisfeitas com a política no Brasil. Mas a maioria delas, ou 64,20%, pensa
que a solução para a crise política é “entregar o poder para um político
honesto”.
Outra parcela considerável (43,70%) pensa que os
problemas serão resolvidos se o poder ficar a cargo de um juiz honesto, o que
remete a figuras como as do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa e o juiz Sérgio Moro, à frente da Operação Lava Jato.
Se, por um lado, os manifestantes parecem acreditar em
uma solução personalista, uma esmagadora maioria (71,10%) rejeita entregar o
poder para os militares.
A percepção da corrupção no Brasil também parece
variar, mais ou menos, de acordo com o escândalo citado. Aproximadamente 99%
dos entrevistados consideram graves as descobertas da Operação Lava Jato e do “Mensalão”. Esse percentual diminui um
pouco quando o assunto é o “mensalão do PSDB” e esquema de cartel no Metrô de
São Paulo. Ainda assim,
mais de 80% dos entrevistados os classificam também como graves.
Parte dos
entrevistados nega gravidade de casos como o mensalão do PSDB e mal conhece
Operação Zelotes
A diferença é mais significativa, no entanto, quando
se trata da Operação Zelotes, que investiga 74 processos
de sonegação de impostos por parte de empresas, entre 2005 e 2013, que envolvem
um montante de 19 bilhões de reais. Neste caso, 58,80% dos manifestantes
admitem que o caso também é grave, enquanto que 38% não sabem classificar a
denúncia.
O que explica, então, o fato de os protestos se
voltarem somente contra o PT? “A percepção é de que as pessoas acham que o
sistema todo é corrupto. Aí o jogo dos organizadores é canalizar esse
descontentamento geral com o sistema só no PT. O PMDB está sendo poupado de
tudo, não é alvo, mas é considerado altamente corrupto”, afirma Esther.
Esse fenômeno apresenta uma variação maior quando os
manifestantes são questionados sobre figuras políticas. Quase 90% responderam
que consideram a presidenta Dilma
Rousseff (PT) corrupta. O
percentual é maior ainda sobre o presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), considerado um político envolvido em corrupção para 93,80%.
Apesar de rivalizar com o governo petista, nem o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), passa ileso : mais
de 70% dos entrevistados o considera corrupto. O prefeito de São Paulo,
Fernando Haddad (PT-SP), também é colocado no mesmo grupo por 77%.
Já o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), é classificado
como corrupto para apenas 41,70%, contra 36,30% que rejeitam acreditar na
participação dele em esquemas. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) também é
corrupto para 37,80%, enquanto outros 35% negam essa pecha para o tucano.
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