“Poemas” de Bertolt Brecht é o livro que hoje me vai
servir de apoio. Vou transgredir de novo a regra de um livro- um poema. Vou
recordar vários poemas. É uma transgressão compreensível, quando temos pela
frente um livro de 667 páginas, com tantos poemas que vivamente ainda hoje nos
interpelam. A edição em causa é organizada e prefaciada por António Sousa
Ribeiro, correspondendo à versão portuguesa dos poemas da autoria de Paulo
Quintela. Foi publicada em 2007, pelas edições ASA.
Bertolt Brecht nasceu na Alemanha em 1898 e faleceu
na República Democrática Alemã em 1956, depois de em 1950 se ter naturalizado austríaco.
Exilou-se em 1933, por causa do nazismo, tendo vivido em vários países.
Regressou à Alemanha (RDA – Berlim Leste), em 1949. Comunista, resistente ao
nazismo, não deixaria de assumir alguma distância crítica em face do regime pró-soviético
da RDA, como se pode depreender do primeiro poema transcrito. Foi um dos
maiores dramaturgos do século XX e foi também um grande poeta.
Poemas de Bertolt Brecht
A
(DIS) SOLUÇÃO
Depois
da revolta de 17 de junho
Mandou
o secretário da Associação de Escritores
Distribuir
panfletos na Stalinallee
Nos
quais se podia ler que o Povo
Perdera
levianamente a confiança do Governo
E
só a poderia reconquistar
Trabalhando
a dobrar. Pois não seria
Então
mais fácil que o Governo
Dissolvesse
o Povo e
Elegesse
outro?
MAS
QUANDO CAMINHAVA PARA O CEPO
Mas
quando caminhava para o cepo onde o iam matar
Caminhava
para um cepo que fora feito pelos seus iguais
E
também o machado que agora o esperava
Fora
feito pelos seus iguais. Apenas eles tinham partido
Ou
tinham sido expulsos, mas estavam sempre ali
E
presentes na obra das suas mãos. Nem mesmo a luz
Nos
corredores por onde passava para a morte
Haveria
sem eles. Nem a casa
Donde
era levado, nem qualquer outra casa.
Porque
é que
Tem
ele de estar sozinho, ele que falou por tantos?
Por
isto:
Os
opressores juntam-se
Mas
os oprimidos andam desunidos.
QUEM
É O TEU INIMIGO
Ao
faminto, que te tirou
O
último pão, olha-lo como inimigo.
Mas
ao ladrão que nunca passou fome
Não
lhe saltas às goelas.
LOUVOR
DO REVOLUCIONÁRIO
Quando
a opressão aumenta
Muitos
se desencorajam
Mas
a coragem dele cresce.
Ele
organiza a luta
Pelo
tostão do salário, pela água do chá
E pelo
poder no Estado.
Pergunta
à propriedade:
Donde
vens tu?
Pergunta
às opiniões:
A
quem aproveitais?
Onde
quer que todos se calem
Ali
falará ele
E onde
reina a opressão e se fala do Destino
Ele
nomeará os nomes.
Onde
se senta à mesa
Senta-se
a insatisfação à mesa
A comida
estraga-se
E reconhece-se
que o quarto é acanhado.
Pra
onde quer que o expulsem, para lá
Vai
a revolta, e donde é escorraçado
Fica
ainda lá o desassossego.
1 comentário:
Excelente escolha,Rui.
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