Quando se trata de optar entre vários atalhos, talvez seja
realista dizer-se que há uns melhores do que outros.
Mas, em política, parece-me ilusória a ideia de se poder alcançar
o que está à frente de um caminho evidente, através da falsa esperteza de um
atalho.
Ora, para ir ao que hoje interessa, há um caminho cada vez
mais óbvio para a escolha dos candidatos do PS em todas as eleições, que alguns
de nós propõem há quase dez anos: eleições primárias abertas a todos os eleitores
habituais do PS. Entretanto, tem crescido o número de partidos de esquerda de
outros países que escolhem esse caminho. Há pelo menos um exemplo recente (França)
em que a escolha deste método foi uma das causas que mais contribuiu para uma
vitória, que muitos consideravam impossível.
A camada dirigente do PS já percebeu que não é possível
fingir que essa questão não existe. Todavia, a maioria saída do mais recente
Congresso Nacional caiu na ilusão de que podia enfrentar este problema através
da hipocrisia de uma solução híbrida. Foi o que fez, mesmo correndo o risco de escolher
uma via pior do que uma recusa assumida, que apontasse com clareza para a manutenção do
que estava.
O caso de Coimbra é apenas mais uma ilustração das
dificuldades que a opção seguida está a criar e vai criar, cada vez mais
fortemente. O boato de que vão ser feitas sondagens para ajudar a escolher o
candidato do PS à Câmara de Coimbra apenas mostra que a solução nacional
adoptada não é uma mudança assumida e sincera, mas uma simples manobra de diversão
para diminuir os custos políticos da recusa de primárias abertas. Na verdade,
quem adira realmente à solução saída da Comissão Nacional do PS (aliás, tomada
através de um processo de duvidosa legalidade) quanto a eleições autárquicas, não
pode promover estas sondagens, uma vez que elas não se encaixam na lógica por
que o PS optou. Mas, se isto assim é quanto a quaisquer sondagens, muito mais o
é quanto a sondagens feitas apenas com base em alguns nomes. De facto, a
escolha desses nomes representa uma distorção grosseira do processo eleitoral,
tal como os actuais Estatutos do PS prevêem, pois desfavorece gravemente qualquer
nome que não seja testado relativamente aos que o são. Ora, o caminho
consagrado nos Estatutos, embora cave uma incompreensível diferença entre
candidatos “oficiais” e candidatos “de oposição”, não atribui a ninguém poder e
legitimidade para escolher quem deve e quem não deve ser submetido a qualquer
tipo de sondagem.
Ainda estamos a tempo: alcancemos um acordo autêntico no
seio da Concelhia de Coimbra, aceite quer pela Federação quer pelo Secretário-Geral,
no sentido de fazermos primárias abertas para escolha do nosso candidato à Câmara.
O acordo da Concelhia implicaria que ela se comprometia a designar o candidato
escolhido nas primárias abertas e a organizar essas primárias( nomeadamente, elaborando um regulamento
realista e honesto que tivesse em conta a situação concreta vivida e fosse homologado quer pelo Presidente da
Federação, quer pelo Secretário Geral ).
Seria um exemplo que poderia ser seguido noutros concelhos
ou até noutros distritos. Uma luta leal em que cada pré-candidato se
identificasse pelas propostas e pelas ideias, garantisse apoio ao vencedor no
caso de perder e mostrasse na prática como se pode ser um entusiasta pelo que
se defende, ao mesmo tempo que se respeita realmente quem concorre connosco. Uma luta assim seria uma preciosa pré-campanha que realmente uniria o PS,
fixaria os eleitores habituais e ganharia espaço entre os eleitores que poucas vezes ou nunca
votam em nós. O
candidato prestigiar-se-ia e o PS também.
Este é um caminho urgente que vale a pena ser seguido. Escolher
um atalho, seja ele qual for, não significa com absoluta certeza uma derrota,
mas seguramente que significa que será muito mais difícil vencer.
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