Os números do desemprego sobem. Isso significa sofrimento, aflição
e frustração para mais portugueses.
Os amanuenses da economia explicam, garantindo com segurança
que estava tudo previsto.
Os partidos políticos do governo, os partidos políticos da
oposição, os sindicatos, as associações patronais, dizem exactamente o que se
esperaria que dissessem, depois de tantas vezes terem reagido a notícias idênticas.
Os partidos políticos da direita do alto do seu governo parecem
zombies desorientados, prometendo como solução medidas iguais às que causaram
este agravamento do desemprego. Os patrões começam a desconfiar da capacidade destes seus apaniguados para os fazerem sair por cima na actual crise.
Os partidos políticos da esquerda, acantonados na sua oposição,
tal como os sindicatos, todos seguindo o impulso que lhes dita o respectivo ADN
político, insistem no facto de que eles bem disseram que era preciso
crescimento, que austeridade sobre austeridade teria que dar nisto, que a
austeridade não tem sido repartida com justiça. Enfim, pequenas coisas muito razoáveis, mas evidentemente carecidas de nervo alternativo.
Por isso , não resisto a perguntar a mim mesmo: se o Governo se comportasse como as
oposições preconizam os portugueses, que
realmente sofrem a crise enquanto seres humanos, sairiam só por isso do sufoco em que estão
?
Se por obra de um milagre, que nem os mais crentes acham provável,
o crescimento económico surgisse e se mantivesse, por dois ou três anos, num
patamar relevante, o desemprego desapareceria e o pais ficaria, só por isso, diferente
para melhor, tornando-se mais justo e menos vulnerável ao risco da rapacidade
dos senhores da finança e da imbecilidade política dos zombies do neoliberalismo?
Não me parece.
Por isso, seria bom que para além das declarações previsíveis, presas ao imediato, se começasse a dizer também que sem empreendermos a urgente
viagem de superação do capitalismo nada de consistente se conseguirá melhorar
duravelmente. Sem uma radical contenção da rapacidade do capital financeiro que
coloque a banca no seu devido lugar, pondo fora do alcance da sua apetência predatória o nosso destino, tudo o que for feito será com um castelo de
cartas.
Responder ao imediato sem dúvida, com competência e decisão.
Mas, desde logo, é preciso perceber que o imediato, podendo ser o ataque a
problemas urgentes da banca, em nenhuma circunstância pode esquecer os problemas
pessoais dos seres humanos. E, por outro lado, passar também a integrar na equação que se tem que resolver
a impossibilidade de podermos deixar que decida sobra a nossa vida um sistema que
já perdeu o norte. Um sistema em que uma frase tacanha de um ministro alemão pode
deixar na penúria milhares de trabalhadores de outros países europeus, em que um burocrata
do FMI pode fechar fábricas ou destruir sistemas de saúde, em que um tecnocrata de Bruxelas pode deixar os reformados de alguns países à míngua e as crianças sem ensino pré-escolar, em que um director imprudente e reaccionário de uma agência de notação, após um fim de
semana menos bem passado, pode pôr em causa a nossa segurança quotidiana.
As alavancas
da economia portuguesa e europeia têm de passar para as mãos de quem tenha
representatividade democrática e possa ser chamado a prestar contas pelos seus erros e
desmandos. O desemprego, flagelo humano, social e económico, não pode ser apenas
combatido com medidas homeopáticas que realmente, na melhor das hipóteses, o
influenciam muito marginalmente. Tem, realmente, que se ir mais longe, caminhando-se com realismo, mas com decisão, para a repartição do trabalho e dos rendimentos , porque só dessa maneira se poderá não
desistir da democracia, da liberdade e da justiça.
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