Moderno é uma palavra que, em política, se transforma, quase sempre, num passe de magia. Mas isso não acontece desde ontem. Recordo ainda o meu discreto sorriso interior, quando há uns tempo atrás, lendo um texto do século XIX, aí vi afixada a designação fatal.
De facto, uma figura, cujo nome me fugiu, pugnava aí acirradamente pelo “socialismo moderno”. Ficou desde então gravado na minha memória um inesperado alerta: os modernos afinal são muito antigos.
Confesso que não deixei de me interrogar. Que razão levará alguém a recorrer a um carimbo tão gasto pela usura do tempo, com a aparente candura de quem nos oferece uma novidade ?
Uma hipótese me atravessou o espírito: quando desconfia que a proposta que nos apresenta tem um perfume demasiado intenso a ligá-la a outros territórios ideológicos e é, por isso, indispensável que esse incómodo odor se perca numa ilusão de novidade.
Ou uma outra, menos subtil: quando as características substanciais do que se apresenta, sendo distantes do que deveriam ser, impedem que com verosimilhança se alegue para elas outro mérito que não seja a fugidia qualidade de serem modernas, isto é, de serem o próprio rosto da modernidade.
Por isso, tenho feito a mim próprio uma recomendação insistente: quando vires alguém usar paroxisticamente o carimbo da modernidade, observa-o com atenção . Provavelmente, em vez de estar a anunciar, realmente, a luz forte dos dias novos, está a fazer passar no bojo da palavra”moderno”o veludo perdido das noites sem regresso.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
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1 comentário:
Vamos estar atentos, pois, se esta artimanha do recurso ao termo moderno fica demasiado exposta, ainda passam a usar o termo pós moderno.
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