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2. Vale por isso a pena comparar os resultados das eleições legislativas gregas, em Novembro de 2010, com os resultados de duas sondagens feitas na Grécia durante o corrente mês de fevereiro de 2012.
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Ambas as sondagens anunciam para o PASOK uma verdadeira hecatombe política. Mas, na que lhe é mais desfavorável perde 35, 9%, descendo de 43,9 % para 8 %; a que lhe é mais favorável não deixa de ser desastrosa, colocando-o a descer 30,4%. Porém, na primeira sondagem, o PASOK passa a ser o 4 º partido da esquerda em peso eleitoral, quando nas últimas eleições teve sozinho mais do dobro dos votos que o resto da esquerda no seu todo.
Mas, se a sondagem mais desfavorável ao PASOK for a mais certeira, os seus votos mais os do partido de direita Nova Democracia, que seria o mais votado de todos, somando 39% (31+8), ficariam atrás dos três outros partidos de esquerda que atingiriam os 42,5% ( 12,5+12+18 ). Só o apoio da extrema-direita com 5%, colocaria este último conjunto em minoria, mas apenas no caso dos Verdes continuarem a não eleger deputados, já que, somados aos outros três partidos de esquerda, chegariam aos 46 %.
Se pensarmos que a extrema-direita abadonou o actual governo e que houve várias expulsões no PASOK e na ND, podemos avaliar a fragilidade de uma maioria que queira reproduzir o leque partidário que apoia hoje o governo. Mas, obtendo resultados próximos dos indicados por qualquer das sondagens, tem o PASOK o mínimo de condições objectivas para se aliar, qualquer que seja a justificação, à direita? É muito duvidoso.
3. De facto, se compararmos as penalizações eleitorais, a crer nas duas sondagens, que sofrem a direita e a extrema-direita, verificamos que são ligeiras. A ND perde um mínimo de 2,4 % e um máximo de 6,4%; enquanto a extrema direita perde um mínimo de 0,5% e um máximo de 0,6%. A sua base social parece largamente intocada, continuando no essencial a reconher-se neles.
Já o PASOK vê a sua base eleitoral completamente destruída, o que faz pensar que estamos perante um fenómeno socialmente mais fundo do que a simples variação, ainda que dramática, das intenções de voto. Podemos estar a assistir ao desfazer de um bloco social , donde resultará a irrelevância de um partido, até agora determinante na cena política grega. A direita, movendo-se num território que é afinal seu, dá assim sinais de se aguentar muito melhor do que uma esquerda que executou primeiro, partilhando depois, políticas distantes do seu código genético que muitas vezes chegaram a contrariar a sua própria razão de ser.
Poderá o PASOK levar ainda mais longe a sua marcha para um completo suicídio político? Talvez; mas não é provável, correndo aliás o risco de cair numa anemia política de tal ordem, que pode tornar a sua posição irrelevante, seja ela qual for, no plano da simples relação de forças.
4. O PSE (Partido Socialista Europeu) há muito que devia ter apostado na sua própria metamorfose; mas, nestas circunstâncias, não pode, sem potenciar muito os riscos de desmoronamento, continuar a mastigar trivialidades, preso ao efémero dos detalhes, mas inerte perante as dinâmicas de profundidade, que realmente contam. O mesmo acontece, embora em graus diversos, a cada um dos partidos socialistas da União Europeia. Nenhum deles, no entanto, pode justificar a sua própria paralisia estratégica com a inércia do PSE; fazê-lo só agravará o problema. Também no caso português, ou talvez especialmente no caso português, não se pode continuar a cultivar rotineiramente uma irrelevância após outra, como se o essencial fosse cumprir calendário e não inventar com ousadia um futuro outro, onde realmente caiba a sobrevivência da democracia como único caminho contra a desigualdade, pela justiça e pela sobrevivência durável da humanidade.
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