Um pequeno conjunto de marionetes da vulgata neoliberal apossou-se de algumas alavancas do poder político em Portugal. É mau. Mas o pior é que na Europa, no FMI, no Banco Central Europeu, na OCDE e na OMC, dominam os respectivos mestres.
Pela verdura, quase ingénua, que os envolve, aqueles portugueses pequenos levam a sério todos os lugares-comuns ideológicos com que os empanturraram. Os mestres vêem nesses lugares comuns um simples veículo, usado para legitimar a prossecução dos interesses parcelares que representam, bem como para a sedução enganosa das vítimas; mas, sabem também, que deve ser usado com a relatividade com que se recorre às ideologias. As nossas marionetes, pelo contrário, sugaram ferozmente as trivialidades economicistas de que estão possessos, embriagando-se com elas. Agora, ajoelham perante elas, tomando-as por cientificas. E aplicam-nos cegamente como se fossem mandatos divinos.
A realidade imprudente desobedece. E as marionetes até podiam ter o lampejo de arrepiar caminho. No entanto, possuídas por uma fé perigosa e inabalável, baixam a cabeça e investem contra ela. Os mandantes dão-lhes meia dúzia de rebuçados, fazem-lhe pequenos agrados, sorriem com bonomia perante a sua fidelidade canina e lá continuam a demolir, discreta mas persistentemente, o que resta do sonho europeu.
Esses adolescentes políticos vão acumulando displicências e dislates. Deram-lhes o poder político, confundem-no com um jogo de guerra. Deram-lhes uma enorme responsabilidade e eles imaginaram-se protagonistas de uma aventura de fim de semana.
A realidade indiferente segue a sua marcha desregulada, os mestres europeus vão sendo reduzidos a uma substância mole e pegajosa que escorre ao longo dos problemas sem os resolver. Ora, acontece que isto, que pode parecer pouco, é um drama humano pungente para milhões de pessoas. E o respectivo sofrimento é, ainda por cima, dia após dia enxovalhado, miseravelmente, por uma corte de políticos reaccionários e de tecnocratas imbecis. Idiotas, que falam nos massacres sociais com que mimoseiam essas vítimas, como corajosas acções políticas de que se podem vangloriar. É, na verdade, de uma enorme miopia politica, aliás eticamente bem rasteira, que os próprios agressores descrevam as agressões sociais que cometem como actos de coragem. E tudo isso, muitas vezes, temperado por um sorriso alvar, envolvido pela indiferença indecorosa dos mandantes. E, para enlamear , por completo, a conjuntura mencione-se aquiescência pastosa de muitos profissionais da comunicação social, que consentem ser reduzidos a um papel de simples rafeiros, ao serviço de quem suga e atropela os cidadãos, escarnecendo do povo.
Pode ser que o imprudente cinismo reinante não consiga empurrar os povos europeus para uma devastadora rebelião generalizada, mas seguramente que ele não se inclui entre os factores que podem contribuir para a evitar.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
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1 comentário:
Talvez falte incluir o PS (o partido das abstenções violentas) nos marcadores. Quanto ao resto, parabéns.
José Dias
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