Nestes ruas de cor que nos percorrem,
algo leva, por dentro, muitas máscaras
são às vezes sinais, contentamentos,
que de tudo se mostram descuidados
uma bruxa sorri eternamente, ao lado
da tristeza de um palhaço
há um dente que cresce, cresce sempre,
e o dente vai morder, seguramente
São máscaras, são gestos, sãos trejeitos
fazendo em cada rua um Carnaval
um aroma caído, um pó de espanto,
uma corneta com a voz de um pranto
Chegam depois os filhos do diabo
na luxúria dos corpos que se enlaçam
e agora um cardeal traz a bênção,
inútil, untuosa, densa, fria
A rainha vai nua, a rebolar-se
num samba que ameaça explodir
e o rei sofre o peso de um almoço
no hálito festivo da cachaça
A mão deste coelho não tem fim
mais, sempre mais fundo, em cada bolso
um cavaco andrajoso pede esmola
e traz uma verruga no nariz
Feliz a terça-feira deste Entrudo
fecha o cortejo nua e proibida
e há ainda esta garrafa de mau cheiro
que nos troika o nariz e o dinheiro
Mas ninguém nos arranca deste dia
ninguém há-de pisar a gargalhada
que aqui guardamos firme, desbragada,
para sermos os últimos a rir.
[Rui Namorado]
domingo, 19 de fevereiro de 2012
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