quinta-feira, 3 de junho de 2010

Caprichos italianos

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Foi recentemente difundida na imprensa italiana a sondagem que consta da imagem que acima se reproduz. Se através dela se verifica que a direita actualmente no poder, sob a liderança de Berlusconi, está em perda, não pode deixar de se estranhar que, desde as últimas legislativas em 2008, apenas tenha descido 2,5% (de 49,2 % para 46,7%), tendo em conta não só a crise geral a que a Itália não escapou, mas também os gravíssimos problemas políticos internos ocorridos dentro do PDL ( Partito della Libertá), entre Fini e Berlusconi. Em contrapartida, a esquerda no seu todo, nos mesmos dois anos, experimemtou o magro sucesso de uma subida de 1,3% ( de 41,7% para 43%). Por último, o sector centrista dos democrata-cristãos que se manteve fora dos dois grandes blocos experimentou uma ligeira progressão de 1,8% ( de 5,6% para 7,4%), o que, sendo pouco como imoulso superador da bipolarização, dada a relação de forças existente, pode ser suficiente para dar a este pequeno centro (UdC - Unione di Centro) a chave de uma futura estabilidade governativa.
Mas, se olharmos com um pouco mais de atenção para os dados da sondagem, podemos ver que, no seio da coligação liderada por Berlusconi, o seu próprio partido (PDL) desde 2008 desceu 4,2% (de 37,4% para 33,2%), mas a Liga Norte (ultra-direitista) subiu 3,8 % (8,3 % para 12,1%). Estas oscilações conjungadas alteraram profundamente a relação de forças interna no seio da coligação berlusconiana. Antes, o PDL valia mais do que quatro Ligas Norte, agora não chega a valer três. Algo de paralelo ocorreu na esquerda, o PD (Partido Democrático ) desceu 6,2% (de 33,2 % para 27%), enquanto a Lista Di Pietro (Itália dos Valores) subiu 3,7 % ( de 4,4% para 8,1%). O resto da esquerda, fragmentado em três blocos, passou no seu todo de 4,1 % nas eleições de 2008, para 7,9% na sondagem em causa. Também no seio deste segundo bloco político houve uma alteração relevante da relação de forças interna. O PD em 2008 equivalia, em termos de força eleitoral, a quase oito vezes a IdV, mas, de acordo com a sondagem actual, está longe de valer agora quatro vezes. O resto da esquerda continua perigosamente pulverizada.
Estes dados permitem antever grandes dificuldades para a direita italiana num previsível pós-berlusconianismo, mas revelam também que a criação do Partido Democrático, como movimento de afirmação de uma redinamização da esquerda italiana, foi uma opção falhada. A crescente crispação interna das facções, que no seu seio se degladiam entre si, não parece ser a melhor atmosfera para reverter esta situação. Aliás, olhando o quadro acima publicado, como ilustração de grandes tendências, é provável que nos próximos anos se desencadeiem novos terramotos políticos na Itália, quer à direita , quer à esquerda.
Num certo sentido, o trajecto que levou à criação do Partido Democrático foi o desenvolvimento lógico da terceira via britânica, com a qual aliás o sector hegemónico dos antigos Democratas de Esquerda se identificava. Parece claro que, também aqui, a terceira via se tem revelado como um caminho cinzento para o vazio.

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