segunda-feira, 28 de junho de 2010

Amigos, no dia inicial



A fotografia chegou-me de repente às mãos, por um daqueles acasos felizes que ocorrem de quando em quando. A memória ajudou-me. Na voragem luminosa do próprio dia 25 de Abril um pequeno grupo saiu de Coimbra, rumo ao cerne dos acontecimentos: António Leitão Marques, Alfredo Soveral Martins, Mário Vale Lima e Francisco Carrilho. Já em Lisboa na festa da multidão encontraram o Décio Sousa e o meu irmão, o Luís Namorado, jovens médicos a reiniciarem o serviço militar.

O Leitão Marques levava uma incumbência simbólica, mas transcendente: fotografar acontecimentos para o “Jornal” da Vértice. A memória não consegue desfazer uma dúvida: o Mário Vale Lima já estava em Lisboa ou foi de Coimbra naquele dia.


Mas olhemos para a fotografia. O fotógrafo de ocasião, seguindo as instruções do Leitão Marques, não faz parte da história. São quatro os personagens que sorrindo para nós num primeiro plano, nos interpelam. Do lado esquerdo de quem olha para a fotografia, o Leitão Marques tem a mão no ombro do Décio Sousa; à direita de quem olha para a fotografia, do lado de fora, o José Augusto Gil e o Luís Namorado, mais para dentro, sorriem. Ao centro, imediatamente acima, ao lado de uma jovem que não entra nesta história, já empoleirado no carro de combate, de óculos, o Alfredo Soveral Martins brinda-nos com um sorriso de quem descobriu a raiz da alegria. Curvado sobre ele, com seu farto cabelo e sua abundante barba, o Francisco Carrilho está em festa. Imediatamente abaixo, bem escanhoado, espreitando, por cima da cabeça da jovem que não entra na história, o Mário Vale Lima respira também o novo tempo.


Olho para os sete e neles antevejo um segredo de eterna juventude. E através da saudade, tão pesada, pelos que já partiram, o Soveral e o Gil, através da fraternidade, simples e natural, que envolve os outros, descubro que, também eu, estive um pouco com eles naquele dia inicial, naquele euforia fundadora que rejuvenesceu irremediavelmente as vidas de todos nós.

2 comentários:

b m disse...

Rui,

Triste notícia, pois só agora soube que o GIL já cá não está.
Mas está sempre presente entre nós.

Um abraço

( bento )

Rui Namorado disse...

Caríssimo:

Há cerca de quinze anos.

Abraço.

RN