Com algum atraso e com a sua autorização, aqui vai mais um "Estranho quotidiano", traduzido por J.L.Pio Abreu em mais uma das suas crónicas ("O mercado"), publicadas no DESTAK.
O Mercado
"O leitor já alguma vez jogou na bolsa? Duvido que agora o faça, mas é possível que tenha cedido à tentação num momento em que todos ganhavam com isso (um "bull market"). Seguramente, andou um pouco ganancioso enquanto tudo corria bem, mas acabou por perder porque outros mais gananciosos o fintaram.
Dizem que o Mercado é o lugar onde os interesses dos cidadãos se equilibram harmoniosamente, mas não é. Apenas uma minúscula parte dos cidadãos opera directamente no Mercado. De todos, são os mais gananciosos e truculentos. São mestres do ofício de dar mais dinheiro a quem já o tem, a começar por eles próprios.
Os agentes do Mercado podem convencer-se que trabalham para fundos de pensões, dando ganhos aos reformados e aforradores que neles confiaram. No fundo, porém, estão a pensar na sua extravagante comissão. Arriscam tudo e arriscam, sobretudo, o dinheiro dos outros, sabendo que o mais que arriscam, da sua parte, é o despedimento com uma choruda indemnização. Nunca ficam pobres como aqueles que fazem empobrecer.
A população trabalhadora e pacífica sempre se sujeitou aos invasores e cúmplices locais que, sendo minoritários, eram suficientemente agressivos para imporem a sua lei gananciosa. Com a democracia, pensámos que nos livrávamos deles. Mas não. A minoria agressiva disfarça-se hoje de agentes do Mercado. Com grande sofisticação, destroem pessoas, empresas e nações. Poderão os políticos democratas lutar contra eles? Talvez não. O mais que podem, tal como dantes, é fazer acordos e enviar sinais para os acalmar". [J. L. Pio Abreu]
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