Um observador que pudesse desembaraçar-se da poeira quotidiana e conseguisse olhar para a realidade com uma pureza quase ingénua, encontraria, na cena política do nosso país, nos tempos mais recentes, motivos para ficar perplexo.
De facto, o acirramento antigovernamental tem construído uma improvável irmandade, dentro da qual convivem com ardor de combatentes, o CDS e PSD, com o BE e o PCP. Vituperam num tom idêntico, a propósito da mais ligeira oportunidade de eco mediático, unem-se como gladiadores implacáveis em votações parlamentares. Sindicalistas de referência da CGTP dão a cara a favor do CDS, partilhando as suas derrotas parlamentares como se também as tivessem sofrido. Todos aproveitam todas as crispações sociais, não com a habitual subtileza discreta, a que aconselha a prudência da distinção entre o que é sindical e político, mas com a ostensiva ostentação de quem já se fundiu num objectivo comum.
É certo que em anos pretéritos na longínqua Grécia, por uma vez sem exemplo, já os comunistas gregos se aliaram formalmente é direita numa coligação contra os socialistas do PASOK. Foi efémera? Foi. Mas existiu. Resultados? Pouco brilhantes.
É certo que, cumprindo uma dissimulação felina, em vários dos nossos municípios, em diversas circunstâncias, autarcas do PCP têm dado uma mãozinha a maiorias relativas do PSD.
Mas a improvável orquestra política que acima referi, promete mais solidez e não tem procurado esconder-se. Estamos, portanto, perante uma novidade.
O coração combatente dos socialistas sofrerá talvez um calafrio, perante o espectro dessa nova maioria que se desenha contra eles. Mas a sua razão há-de serená-los. De facto, se essa coligação (verdadeiramente canguru, por implicar um salto por cima do PS) amadurecer e despontar, ficará o PS com o peso da concorrência de uma maioria alternativa, mas ganharão os eleitores a clareza transparente de uma alternativa. E com isso, dizem os politólogos encartados da escola da governabilidade, ganhará o país.
De facto, o acirramento antigovernamental tem construído uma improvável irmandade, dentro da qual convivem com ardor de combatentes, o CDS e PSD, com o BE e o PCP. Vituperam num tom idêntico, a propósito da mais ligeira oportunidade de eco mediático, unem-se como gladiadores implacáveis em votações parlamentares. Sindicalistas de referência da CGTP dão a cara a favor do CDS, partilhando as suas derrotas parlamentares como se também as tivessem sofrido. Todos aproveitam todas as crispações sociais, não com a habitual subtileza discreta, a que aconselha a prudência da distinção entre o que é sindical e político, mas com a ostensiva ostentação de quem já se fundiu num objectivo comum.
É certo que em anos pretéritos na longínqua Grécia, por uma vez sem exemplo, já os comunistas gregos se aliaram formalmente é direita numa coligação contra os socialistas do PASOK. Foi efémera? Foi. Mas existiu. Resultados? Pouco brilhantes.
É certo que, cumprindo uma dissimulação felina, em vários dos nossos municípios, em diversas circunstâncias, autarcas do PCP têm dado uma mãozinha a maiorias relativas do PSD.
Mas a improvável orquestra política que acima referi, promete mais solidez e não tem procurado esconder-se. Estamos, portanto, perante uma novidade.
O coração combatente dos socialistas sofrerá talvez um calafrio, perante o espectro dessa nova maioria que se desenha contra eles. Mas a sua razão há-de serená-los. De facto, se essa coligação (verdadeiramente canguru, por implicar um salto por cima do PS) amadurecer e despontar, ficará o PS com o peso da concorrência de uma maioria alternativa, mas ganharão os eleitores a clareza transparente de uma alternativa. E com isso, dizem os politólogos encartados da escola da governabilidade, ganhará o país.
Ou teremos um governo PS, ou teremos um governo dirigido por Manuela Ferreira Leite, acolitada por Jerónimo de Sousa e talvez pelos dois irmãos Portas. A sombra da ingovernabilidade ter-se-á assim esvaído e os portugueses passarão a saber de ciência certa que, votem como votarem, terão sempre um duradouro governo de maioria absoluta.
Admito que, mesmo os tenores mais visíveis desse orfeão afinado que tem arrasado o Governo, não estejam ainda psicologicamente preparados para assumirem, por completo, tão ousada coligação. Compreendo o incómodo da parte do povo de esquerda que se reconhece no PCP e no BE, quando pretenderem alinhá-lo na mesma procissão, onde sigam o CDS e o PSD. Mas não excluo que a voragem dos factos políticos, em que os quatro partidos têm emparceirado, tenha força suficiente para fazer com que os estados-maiores dessas quatro forças, com a bênção de algumas das mais mediáticas lideranças sindicais, passem das palavras aos actos.
E excluo tanto menos a coligação canguru, quanto, a fazer fé na esmagadora maioria das sondagens dos últimos seis meses, ela teria todas as hipóteses de constituir um governo maioritário. É certo que pode parecer estranho imaginar-se a Dama de Cinza marchando no Primeiro de Maio ao lado de remoçadas lideranças da CGTP, nesse caso, decerto convertidas ao entusiasmo por esse novo governo, em que Jerónimo de Sousa teria talvez a pasta da defesa , para se poder sentar nas reuniões da Nato, ao lado do amigo americano. Alguns se poderiam admirar por ver Paulo Portas. sorridente nas ruas de Pequim, confraternizando com os camaradas capitalistas chineses, e outros se poderiam espantar de deparar com Francisco Louçã confraternizando malandramente com a Srª Merkl. Mas, convenhamos que tudo isso não seriam mais do que detalhes, sempre se podendo aliar, então, qualquer voz pública menos favorável à má fé dos sicários do PS, nessa hipótese a única oposição.
Seria aliás um governo com favor mediático. Pois quando um ministro anunciasse a inauguração de um chafariz, havendo embora o risco de algum socialista surgir torcendo discretamente o nariz, sempre haveria dois esforçados cidadãos da esquerda e dois circunspectos senhores da direita que bebessem deliciados a água do chafariz , aplaudindo calorosamente o Governo.
As relações dos Sindicatos dos Professores com o Ministério da Educação ficariam salomonicamente estabilizadas. No Sul do país, seria Ministra a actual deputada Varela do BE e cada professor se avaliaria a si próprio; no Norte, seria Ministro o jovem dr. Coelho do PSD que privatizaria as escolas, deixando as tarefas de avaliação ao cuidado dos novos proprietários. Uma parte dos professores independentes manifestar-se ia em Belém, contra a ministra Varela, a outra manifestar-se-ia em Belém contra o Ministro Coelho.
Para combater a crise o novo Governo revelaria igual flexibilidade: às segundas , quartas e sextas, funcionaria como Ministro das Finanças o regressado Félix e ás terças, quintas e sábados, seria a vez do deputado Novo. Se algo de mal acontecesse ao domingo, as culpas seriam atribuídas à oposição, ou seja, ao PS.
Alguns inimaginosos comentadores políticos acolhem-se, por vezes, à básica banalidade, atribuída a um político de botas do século passado, que se traduz na ideia de que em política o que parece é. Sem me pretender melhor do que eles, não partilho essa ideia, mas se a partilhasse seria tentado a dizer que se nos últimos tempos parece estar na forja uma coligação canguru, então politicamente há que reconhecer que está na forja uma coligação canguru.
Admito que, mesmo os tenores mais visíveis desse orfeão afinado que tem arrasado o Governo, não estejam ainda psicologicamente preparados para assumirem, por completo, tão ousada coligação. Compreendo o incómodo da parte do povo de esquerda que se reconhece no PCP e no BE, quando pretenderem alinhá-lo na mesma procissão, onde sigam o CDS e o PSD. Mas não excluo que a voragem dos factos políticos, em que os quatro partidos têm emparceirado, tenha força suficiente para fazer com que os estados-maiores dessas quatro forças, com a bênção de algumas das mais mediáticas lideranças sindicais, passem das palavras aos actos.
E excluo tanto menos a coligação canguru, quanto, a fazer fé na esmagadora maioria das sondagens dos últimos seis meses, ela teria todas as hipóteses de constituir um governo maioritário. É certo que pode parecer estranho imaginar-se a Dama de Cinza marchando no Primeiro de Maio ao lado de remoçadas lideranças da CGTP, nesse caso, decerto convertidas ao entusiasmo por esse novo governo, em que Jerónimo de Sousa teria talvez a pasta da defesa , para se poder sentar nas reuniões da Nato, ao lado do amigo americano. Alguns se poderiam admirar por ver Paulo Portas. sorridente nas ruas de Pequim, confraternizando com os camaradas capitalistas chineses, e outros se poderiam espantar de deparar com Francisco Louçã confraternizando malandramente com a Srª Merkl. Mas, convenhamos que tudo isso não seriam mais do que detalhes, sempre se podendo aliar, então, qualquer voz pública menos favorável à má fé dos sicários do PS, nessa hipótese a única oposição.
Seria aliás um governo com favor mediático. Pois quando um ministro anunciasse a inauguração de um chafariz, havendo embora o risco de algum socialista surgir torcendo discretamente o nariz, sempre haveria dois esforçados cidadãos da esquerda e dois circunspectos senhores da direita que bebessem deliciados a água do chafariz , aplaudindo calorosamente o Governo.
As relações dos Sindicatos dos Professores com o Ministério da Educação ficariam salomonicamente estabilizadas. No Sul do país, seria Ministra a actual deputada Varela do BE e cada professor se avaliaria a si próprio; no Norte, seria Ministro o jovem dr. Coelho do PSD que privatizaria as escolas, deixando as tarefas de avaliação ao cuidado dos novos proprietários. Uma parte dos professores independentes manifestar-se ia em Belém, contra a ministra Varela, a outra manifestar-se-ia em Belém contra o Ministro Coelho.
Para combater a crise o novo Governo revelaria igual flexibilidade: às segundas , quartas e sextas, funcionaria como Ministro das Finanças o regressado Félix e ás terças, quintas e sábados, seria a vez do deputado Novo. Se algo de mal acontecesse ao domingo, as culpas seriam atribuídas à oposição, ou seja, ao PS.
Alguns inimaginosos comentadores políticos acolhem-se, por vezes, à básica banalidade, atribuída a um político de botas do século passado, que se traduz na ideia de que em política o que parece é. Sem me pretender melhor do que eles, não partilho essa ideia, mas se a partilhasse seria tentado a dizer que se nos últimos tempos parece estar na forja uma coligação canguru, então politicamente há que reconhecer que está na forja uma coligação canguru.
2 comentários:
Mas como o Marques Mendes afastou o Major Loureiro e senhor de Oeiras, estes vão fazer a contra-revolução e oferecer o poder de bandeja aos neo-liberais do PS...
Continuamos a querer confundir os deputados de esquerda com os da direita, muito embora eu duvido da prestação dos deputados socialistas.
Não devemos exigir aos deputados mais à esquerda do PS do que eles não podem dar.
A certeza das votações parlamentares derivam das posições do partido majoritário e este, nos últimos três anos e meio, salvo raras excepções,tem ajudado e muito às políticas direitistas.
Bem gostaria de na próxima governação assistir à unidade de todos os antifascistas no parlamento e fora dele..!
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