segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Um pouco do que se não diz sobre a Bolívia


Imaginem, por um breve instante, o alarido do "ocidente” e da “comunidade internacional”, se um presidente de Direita, que tivesse acabado de ser confirmado por 67% dos votos, visse o seu poder democrático contestado por líderes regionais de esquerda que, minoritários no país, afrontassem a sua autoridade democrática nas regiões em que fossem maioritários. Certamente, a matilha dos comentadores encartados de política internacional inundaria os meios de comunicação social com uma implacável vozearia, ne defesa da “verdadeira” democracia. Mas como se trata de um Presidente de esquerda, ainda por cima não reverente para com os senhores do mundo, e como os seus aversários são de uma direita bem retinta, o complexo mediático-liberal vai deixando escorrer umas mansas notícias tão favoráveis quanto possível aos arruaceiros e tão desfavorável quanto imprescindível ao poder democrático legítimo. No seu remanso, hegemonizado pelo Partido Popular Europeu, a União Europeia vai estndo distraída. Enfim, a hábil desinformação assistida do costume.

Entretanto, na excelente revista brasileira de grande circulação CartaCapital,
Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa escreveu, há poucos dias, um pequeno texto sobre a conjuntura boliviana. É um texto simples. Mas, na sua escassa dúzia de linhas, contém um conjunto de dados que estranhamente tem escapado ao complexo mediático dominante, nas suas subtis notícias sobre a Bolívia. Eis o texto:

“O pretexto é a disputa pelas rendas de gás e petróleo. O governo de Evo Morales criou a “Renda Dignidade”, uma bolsa para todos os maiores de 60 anos, no valor de 26 dólares mensais (20 para os que já têm uma aposentadoria), financiada por 30% do imposto sobre o petróleo, tomados tanto do governo nacional quanto dos departamentos e municípios. Os recursos dos departamentos não diminuíram em termos absolutos, pelo contrário: graças às nacionalizações de Evo Morales, o bolo mais que quintuplicou, de 287 milhões em 2004 para 1,57 bilhão de dólares em 2007. Apesar da distribuição entre departamentos ter sido alterada em favor dos departamentos não petroleiros, a fatia de Santa Cruz, em particular, quadruplicou de 29 milhões para 118 milhões de dólares e a de Tarija, de 66 milhões para 237 milhões: mesmo descontando-se os 30% – parte dos quais, naturalmente, voltam para os idosos do departamento – ainda tiveram crescimentos de 185% e 152%, respectivamente, em sua renda petrolífera. O valor disputado representa 6% do orçamento dos departamentos. Ainda assim, há meses os prefectos da chamada “Meia-Lua” promovem protestos e “greves de fome” contra o “assalto” a seus cofres – e, depois de uma escalada de atos de desacato e insubordinação ao governo de La Paz e de ameaças físicas a Evo Morales, os oposicionistas passaram à guerra aberta contra o Estado boliviano na terça-feira, 9 de setembro de 2008, dois dias antes do 35º aniversário do golpe militar urdido contra Salvador Allende com a cooperação dos Estados Unidos. Na opinião de Evo Morales, as analogias vão além da proximidade de datas. No dia seguinte, ele expulsou o embaixador estadunidense em La Paz. Philip Goldberg, que se reunira quinze dias antes, a portas fechadas, com o prefecto Rúben Costas, de Santa Cruz, representou os EUA na Bósnia de 1994 a 2000 e no Kosovo de 2004 a 2006. Em 2007, posou para uma foto com um líder paramilitar colombiano. Segundo Evo, teria incentivado o desmembramento da ex-Iugoslávia nas duas ocasiões e sua missão seria repetir a dose na América do Sul com a ajuda de Costas e Branco Marinkovic, líder do movimento “cívico” de Santa Cruz, que, no dia 8, desembarcava de uma viagem aos EUA e, como grande parte da elite industrial crucenha, descende de croatas que fugiram para a Bolívia após a derrota do fascismo.”

3 comentários:

aminhapele disse...

Mais um bom assunto para reflexão.
Um abraço.

JM Correia Pinto disse...

Boa! A matilha tem muita força. O poder ideológico está compleramente nas mãos da direita, como não me lembro de estar nos últimos 50 anos.
Bem, vamos continuando. Água mole...
Abraço
CP

Anónimo disse...

Saber que os amigos nos lêem, é um poderoso estímulo para que não fiquemos calados.

RN