sábado, 26 de janeiro de 2008

A direita na sua forma monárquica


Alguma direita tem a nostalgia da monarquia. Não há nisso uma contradição estrutural com os seus valores tradicionais, mesmo que seja verdade que a maior parte da direita é hoje republicana, ou, pelo menos, acha que seria estúpido sacrificar-se, lutando pela restauração monárquica. Se lha oferecessem talvez não se revoltasse contra ela, mas não tem nenhum interesse em correr riscos por causa dela.



Já a esquerda, que não tenha ficado mole no cerne da sua própria identidade, não pode deixar de ser republicana. Não por acreditar que a República é um antídoto infalível para qualquer mau governo, ou que o invólucro monárquico de uma democracia a arrastará necessariamente para soluções políticas piores do que as de qualquer república. Mas, principalmente, por que o princípio democrático de legitimação do poder, que se traduz, no mínimo, pela escolha democrática dos detentores de todos os lugares de chefia no seio de um Estado, é incompatível com o princípio monárquico pelo qual o rei é escolhido numa lógica hereditária, sendo estruturalmente irremovível. De facto, não se pode admitir, se quisermos respeitar realmente os valores democráticos em toda a sua amplitude, que a escolha de um Chefe de Estado não resulte directa ou indirectamente da vontade livremente expressa pelos cidadãos eleitores, válida para um mandato temporário, periodicamente posto à prova por novos processos eleitorais.


Não é esta a única razão que tem levado a uma preferência crescente da forma republicana da chefia do Estado, em detrimento da forma monárquica, mas está nela o cerne da ilegitimidade democrática intrínseca de qualquer monarquia. E é esta uma das razões pela qual seria absurdo admitir que, no quadro de uma República democrática, se admitisse sujeitar a referendo a perenidade da República, perguntando aos cidadãos eleitores se preferem submeter-se a uma Monarquia.


De facto, é absurdo pensar-se que é compatível com os princípios que regem um Estado de Direito democrático conceder-se a uma hipotética maioria de cidadãos a faculdade de apoucarem em definitivo o conjunto dos eleitores, bem como o das gerações vindouras. Na verdade, compreende-se que seja legítimo que os eleitores de uma época garantam a liberdade de escolha às gerações vindouras, quanto à escolha do Chefe de Estado, mas não é igualmente legítimo que se permitam retirá-la. É democraticamente legítimo que uma maioria garanta a liberdade de escolha mesmo a uma minoria que esteja disposta a abdicar dela, mas não é igualmente legítimo que uma maioria retire a uma minoria essa liberdade de escolha contra a sua vontade. No segundo caso, estar-se-ia a ferir uma dignidade que no primeiro caso se respeitaria, não havendo , por isso, qualquer simetria entre as duas hipóteses.


Efectivamente, no segundo caso estar-se-ia a pôr em causa a estrutural igualdade dos cidadãos perante a lei e o Estado num ponto crucial: o direito a ser-se escolhido para ocupar, mediante opção livre e democrática dos cidadãos eleitores, a Chefia do Estado. A nossa Constituição exclui expressamente a possibilidade de se alterar a forma republicana do Estado, mas mesmo que não houvesse essa proibição expressa, a opção pela forma monárquica poria em causa a sua lógica democrática mais profunda, sendo só por isso incompatível com ela. Admitir o contrário seria o mesmo que admitir, por exemplo, que, no seio de um regime democrático, se optasse através de um referendo, entre continuar a viver em democracia ou aceitar viver sob um poder político ditatorial.


Aliás, no caso português, é bem claro que a opção monárquica é apenas uma das correntes de opinião dentro da direita. Não passa de artifício propagandístico mencionar, como se fosse realidade, uma preferência monárquica que, alegadamente, se espraiasse por todo o espectro político. Basta ver as opções assumidas pelo PPM ou conhecer as opiniões políticas do alegado pretendente ao hipotético trono para se verificar isso mesmo. Aliás, os portugueses foram já governados durante a República por um regime que reflectiu o poder pessoal de um monárquico confesso, Salazar. Sabem muito bem qual é a matriz política dominante entre os monárquicos portugueses .



E quando, nestes últimos dias, temos visto espalhar-se um tão grande esforço para santificar D. Carlos e demonizar os republicanos de há cem anos, aproveitando as circunstâncias violentas e dramáticas da sua morte, seria bom lembrar que o alegado pretendente ao hipotético trono português nem sequer descende dos Reis de Portugal (e, portanto, de D. Carlos). Descende sim de D. Miguel, irmão de rei e usurpador, líder da rebelião absolutista contra a monarquia liberal e grande fautor de uma longa guerra civil que ensanguentou Portugal durante vários anos. E, se atentarmos em tudo o que ao longo dos anos, antes e depois do 25 de Abril, o nosso candidato a pretendente disse publicamente, vemos que ele faz jus ao seu antepassado, sendo ostensiva a sua ligação ideológica ao que há de mais conservador e reaccionário na direita portuguesa.
É neste contexto que deve ser avaliado o modo como se tem tentado reanimar mediaticamente o regicídio, ocorrido há cem anos. Reanimá-lo, não como um facto histórico dramático que merece estudo e análise, contextualizando-o adequadamente, para nos ajudar a compreender melhor o nosso passado, mas como um acontecimento político, quanto ao qual há que tomar partido, estigmatizando postumamente os seus autores e beatificando a vítima, como se tudo tivesse acontecido ontem. E, subliminarmente, amarrar-se a República ao Pelourinho e enviar-se a Monarquia para o Olimpo. Enfim , uma operação primária e absurda. Tão absurda como o teria sido querer hoje acusar D. João I de ser um perigoso assassino, por ter apunhalado o Conde Andeiro; ou acusar D. João II de ser um bárbaro matador da família, por ter apunhalado pessoalmente um cunhado; ou debater apaixonadamente a questão de saber qual dos dois bárbaros mandantes merece a maior censura: D. Afonso IV, por encomendar o assassinato de Inês de Castro, ou D. Pedro I , por mandar arrancar o coração aos matadores da sua amada.










Enfim, tiremos da nossa História as lições que ela contém, situemos objectivamente os seus dramas, mas não embarquemos na utilização tonta de alguns dos seus acontecimentos, para os usar como elementos de propaganda política ou de proselitismo ideológico imediatista.

19 comentários:

carlos freitas nunes disse...

O problema que se pode levantar é que a 1ª República era ser igualmente um regime de partido único, ou seja propôe e efectiva a tomada do poder por um único partido. As consequências da fórmula foram visiveis. A redução do acesso ao voto que protagonizou teve como consequência o generalizado anarquismo que as correntes populares protagonizaram, tivessem ou não sido promovidas por interesses monárquicos, a questão da Igreja, facto é que existiram, como sabe e que envolvem o processo (um processo revolucionário) da criação da República numa ambiguidade e enredos que dificilmente controlou ou não controlou. No fundo hoje defendo este sistema Repúblicano em que vivemos, mas não defendo o que foi proposto em 1910. Mas como esta é longa conversa apenas remato que em outros aspectos estou claramente de acordo com o que escreve.

Anónimo disse...

RN entra em diálogo:

Regime de partido único foi o salazarismo em que só era admitida a União Nacional. Na República houve sempre vários partidos.

E uma coisa é criticar o hegemonismo do Partido Democrático ou as suas escolhas políticas, bem como as limitações da democracia então vivida, nomeadamente, o modo como lidava com o Movimento Operário; outra, bem diferente, é falar em "regime de partido único" que a nossa 1ª República nunca foi.

Também eu prefiro a actual, mas não esqueço que estamos num outro tempo.Aliás, a nossa actual República não veio substituir a primeira. Nasceu da remoção da segunda, aliás, bem pior que a primeira. Pode até dizer-se que a segunda foi a República de que a grande maioria dos monárquicos gostou.

Realmente, cada uma das nossas repúblicas teve o seu tempo histórico, nunca se devendo esquecer que a segunda, verdaeiramente, foi uma "república anti-republicana".

Quanto à questão religiosa, é bom ter-se sempre em conta, que o sectarismo anti-católico de muitos republicanos da altura era simétrico do reaccionarismo político de uma Igreja que, tendo-se dado mal com a República democrática, viveu como deus com os anjos com a República salazarista.

Anónimo disse...

Curiosamente há cada vez mais monarquias ditas republicanas no Mundo em que o poder passa de pais para filhos ou irmãos.

Veja-se a Coreia do Norte, a Síria, a Líbia, a República do Congo (Kinshassa), Cuba, etc.

No Japão, o actual PM é neto de um PM e a maioria dos deputados de todos os partidos são filhos, netos ou sobrinhos de outros deputados.

Não estou com isso a defender as monarquias, mas apenas a salientar a hipocrisia de alguns regimes que até pretendem ser progressistas.

Devemos cuidar da nossa democracia e evitar desentendimentos exagerados. Convém não esquecer que fez ontem 75 anos que o facínora Hitler foi eleito democraticamente no Reichstag para passados poucos meses fazer aprovar as leis de excepção que o tornaram ditador depois de mandar matar muitos deputados da oposição na sequência do incêndio do edifício do parlamento em que foram os próprios nazis a atear.

Por mim grito Viva a República, apesar de que teria preferido que o Rei D. Carlos tivesse sido deposto no 5 de Outubro.

Dieter Dellinger

http://alutablog.blogs.sapo.pt

Anónimo disse...

RN acrescenta:

Uma ligeira observação:

Embora esteja inscrustrado no discurso político corrente aquilo que dizes acerca da subida ao poder do Hitler, deve ser mencionada uma pequena "nuance". O Hitler nas eleições que o levaram ao poder perdeu votos relativamente às precedentes, pelo que foi preciso que um dos partidos da direita clássica o apoiasse para ele poder formar governo.
Ou seja, ele subiu ao poder, porque a direita aristocrática lhe deu suporte precisamente na eacto eleitoral em que começou a perder peso.

Anónimo disse...

desculpe que lhe diga mas vai aqui uma grande confusão. Primeiro o "actual pretendente" D.Duarte é descendente de Reis de Portugal : da parte do pai por D.Miguel e da parte da mãe por D.Pedro IV.
Não existe mais ninguém com varonia real como D.Duarte.
Segundo a monarquia é transversal, há monárquicos de várias cores políticas inclusive comunistas. Manuel Alegre até a favor do referendo sobre o regime e já sugeriu que o protocolo de estado fosse alterado para acomodar a Família Real. O problema dos republicanos é que pensam mais nos interesses próprios do que nos interesses do Povo e da Pátria.
Veja as economias mais fortes e das 10 primeiras 7 são monarquias, são democráticas e os cidadãos fazem-se ouvir nunca pondo em causa a sua Liberdade.
Os monarcas na Europa gozam mais de 70% de popularidade, Chefes como D.Juan Carlos inspiram uma nação a andar para frente, não estar a ver isso com um presidente pois não ? ainda mais quando o Cavaco só foi eleito por 30% da população total ( 40% de abstenção, só conseguiu 50% dos votos = 50% de 60% dá 30% do total ). Precisamos de um comandante e não um marinheiro ao leme.
Depois há o problema ideológico que diferencia um presidente de um monarca :

O monarca é imparcial politicamente, não existem reis militantes políticos e nunca houve. Ao contrário dos presidentes que tivemos nos últimos 30 anos os últimos 3 foram militantes de partidos. Segundo os presidentes têm sempre um 1º mandato calmo para terem apoio político do partido do primeiro ministro para serem eleitos no 2º mandato, com um Rei tal nunca aconteceria.
Qual é que tem mais força para defender o Povo ? qual é que não tem problemas de estar dependente de lobby's económicos e políticos ? Qual é que pode defender melhor o Povo ? Não é um presidente como já disse antes ... é um Rei
Precisamos de uma governação estável e não um presidente de 5 em 5 ou de 10 em 10 anos em acção de formação. Hoje os problemas exigem rápida solução.
Não me diga que o Estado Novo era monárquico, e que Salazar era monárquico ... informe-se por favor :

" 1951 III Congresso da União Nacional em Coimbra. Marcello Caetano assume-se contra a restauração da monarquia, defendida por Soares da Fonseca. No discurso inaugural Salazar considerou que a monarquia não pode ser, por si só, a garantia da estabilidade de um regime determinado senão quando é o lógico coroamento das demais instituições do Estado e se apresenta como uma solução tão natural e apta, que não é discutida na consciência geral. comando de um só Em 23 , Marcello Caetano assinala: o comando político apoiado no snetimento e na vontade da nação, cujos anseios profundos e legítimas aspirações interpreta, exprime e realiza, esse é que é a forma que o novo tipo de Estado solicita para poder corresponder à extensão e profundidade das tarefas que os homens dele esperam … A História está a gerar novos regimes de Governo por um só, diferentes das monarquias antigas cuja estrutura social obedeceu a condições de vida muito diferentes das actuais. No dia 24 Miranda Barbosa defende que a restauração monárquica seria o complemento da situação política. Da mesma opinião foi o deputado Avelino de Sousa Campos. Marcello defende que Salazar deveria ascender à Presidência da República que permitiria que ele mesmo presidisse à sua substituição na chefia do Governo, e assim habituasse o País a ver na presidência do Conselho um homem vulgar, ainda que experiente, sabedor e devotado ao bem público. Diz que faz essa proposta desde 1947, contra a opinião de Salazar.”

Mas o sec.XX ensinou-nos da pior maneira que as ideologias não servem o Povo, milhões de mortos às mãos de fascistas e comunistas ... Conheceu algum país com estas ideologias em que o Povo tivesse progresso ? eu não ...

Precisamos de um país forte, e talvez por causa deste vazio que a republica criou durante estes anos todos as pessoas não acreditem em ser portugueses, não sabem o que é patriotismo e não conseguem empurrar o barco para a frente porque toda a gente não acredita no homem que vai no leme e todos remam para o seu lado ...

Os republicanos hoje gostam de se desculpar com a Democracia e Liberdade mas em 98 anos da vossa menina de peito ao léu ela teve 64 anos de amnésia democrática. Quando é que assumem os erros ? Quando é que não têm vergonha da vossa história ?

Se quer que lhe diga nos últimos 100 anos Portugal só tem perdido com a republica, já "dividimos o mundo" com Espanha onde estamos hoje ? Somos um satélite de Espanha.

Desculpe mas eu sou e quero ser português, sou militante do partido socialista, católico em monárquico.

Anónimo disse...

Gostaria de acrescentar que a democracia não é a palavra mas conhecida da republica, este regime nunca foi votado pelo povo ! Será isto uma democracia ou ditadura ? Quando uma minoria em 1910 conquistou o poder pela força quando só tinha 7% no parlamento ? Pois ...

Anónimo disse...

RN em diálogo:

1ºA confusão mais irremediável é a de quem só vê clareza nas suas crenças e só vê confusão nos pontos de vista de que discorda.

2º A desinformação mais irremediável é a que, apoiando-se em pouco, vive na ilusão de que conhece tudo.

3º A forma monárquica de governo não é a única limitação da democracia, mas não há nenhuma democracia que se possa considerar completa se não for republicana.
De facto, se o nascimento outorga a todos os seres humanos a mesma dignidade, como se pode aceitar essa desigualdade máxima de outorgar a chefia do Estado por nascimento, retirando a todos os outros cidadãos esse direito?

Se um Estado democrático é o que funciona com base no princípio de que a legitimidade do poder político assenta no voto livre e periódico dos cidadãos, como pode caber dentro da sua lógica a aceitação de que a Chefia do Estado fique à margem desse princípio?

4º A República não foi referendada, a Monarquia também não.
Mas na actual República, o partido monárquico existente ( pelos vistos agora renegado pelo pretendente ao trono) nunca chegou a ter 2% dos votos. Se há monárquicos noutros partidos é porque aceitam a República e secundarizam a restauração monárquica.
Mas se há monárquicos em partidos de esquerda, que no cerne da sua identidade têm pelo menos a aceitação da igualdade inata dos cidadãos perante a lei, ou estão enganados no partido ou na opção monárquica, em virtude do que atrás disse. Mas a liberdade de estar enganado é uma parte irrenunciável da liberdade...

5º Que o Salazar era monárquico era algo para nós tão evidente, quando vivíamos sob o seu domínio, como o facto de ser de Stª Comba. Não impôs a restauração monárquica, por razões tácticas. Talvez, por receio de que a impopularidade da forma monárquica fragilizasse o regime, aumentando os riscos de precipitar a sua queda.

6º Os reis como qualquer ser humano tem ideias crenças e conviccções. Têm uma ideologia.São de direita , de esquerda ou do centro. No caso português,basta ler duas ou três entrevistas do actual Pretendente para ver que ele é um homem de direita conservador e reaccionário. Aliás, é alguém que nunca teria a mínima hipótese de chegar à chefia do estado numa eleição livre.

7ºA União Nacional ponderou sem escândalo se o seu regime devia evoluir no sentido monárquico, o que nunca seria concebível, nos termos em que o foi, se o salazarismo fosse um regime republicano autoritário suportado por republicanos. Na verdade, foi um regime com poucos republicanos e muitos monárquicos. Pelo contrário, na oposição ao regime estavam muitos republicanos e poucos monárquicos. Poucos? Eu diria, raríssimos.
Esses merecem-me, aliás, naturalmente todo o respeito.

8º Por falar em fascismo:Mussolini dominou a Itália sob uma monarquia.
Das outras duas potências do Eixo, o Japão era uma monarquia.

9ºEsquecer o capitalismo e os níveis de desenvolvimento e de dependência e procurar ver graus de eficácia económica necessariamente diferentes entre as monarquias e as repúblicas é entrar no pensamento mágico.Aliás no mundo actual vive sob monarquias uma percentagem da população mundial apenas residual.

10ºDas duas uma: ou o Rei é apenas um símbolo sem poder, como aliás acontece nas monarquias europeias, e, em si, não é, nem deixa de ser um factor de continuidade da governação; ou detem um poder político efectivo, podendo ser um factor de estabilidade da governação, mas deixa de ser compatível com a democracia, na qual todo o poder político efectivo deve ter a sua fonte em escolhas eleitorais.O que não pode é ser inofensivo ou decisivo conforme o argumento que se está a usar.

Anónimo disse...

Então leia o seguinte :

“Na 1ª República, quando hegemónico, o Partido Republicano ( depois Partido Democrático ) recorreu aos meios repressivos ( censura prévia,polícia política, desterro ) adaptados pelo Estado Novo. Interditou o direito de voto aos rurais analfabetos, prendeu e deportou (desde monárquicos a anarquistas ) e, através da Carbonária, usou o terrorismo de Estado. Seria assim fácil a Stanley Payne concluir que “a I Republica portuguesa ( 1910-1926) nunca foi democrática.” Houve 16 “revoluções”, 45 governos e a participação na I Guerra Mundial ( 7908 mortos em dois anos ); o único Presidente da República eleito por sufrágio universal ( Sidónio Pais ) acabou morto a tiro; o primeiro ministro em funções ( António Granjo ) e o pai militar da República ( Machado dos Santos ), foram assassinados pelos ocupantes da “camioneta da morte” na noite sangrenta ( 19 de Outubro de 1921 ). Portugal ostentou os mais altos índices de violência política da Europa Ocidental”

Fonte : Os Espanhóis e Portugal, José Freire Antunes

Depois diga alguma coisa :)

Anónimo disse...

Esquecia-me ... mas a história é para se saber e não ocultar-se como Salazar fazia :)

“A República notoriamente não instituiu o sufrágio universal. A lei eleitoral de 1911 deixava votar os maiores de 21 anos que soubessem ler e escrever ou que fossem chefes de família há mais de um ano. Infelizmente, na «eleição» de 1911 não se votou, por pressão do Partido Republicano, em quase metade dos círculos. Pior ainda, nos círculos em que se votou, bandos de terroristas «fiscalizaram» o acto. Na eleição seguinte, em 1913, o Partido Democrático restringiu o voto a maiores de 21 anos, do sexo masculino [ai que diriam, hoje, os fundamentalistas da igualdade de género!] e letrados: um corpo eleitoral mais pequeno que o da Monarquia.” Tudo visto e ponderado, nos primeiros tempos, a República não passou de “uma ditadura do Partido Democrático”, superiormente orquestrado pela sinistra batuta do Dr. Afonso Costa." vasco polido valente

Anónimo disse...

RN continuando a conversar:

1.Citou dois autores que, para mim, estão longe de ser fontes de certificação como inquestionáveis das opiniões que exprimem.

2. Mas mesmo que fosse indiscutível a sua credibilidade,os defeitos da "1ªrepública" não a tornam pior do que a monarquia nem do que o Estado Novo.

3. A "minha" república é a actual.

4. A minha preferência não se baseia na ideia de que aquilo que prefiro é perfeito. Baseia-se na convicção de que a república democrática é o contexto mais adequado à construção de um futuro livre, justo e solidário.

Anónimo disse...

"Contra factos não há argumentos ..." Quando houver um referendo sobre o regime aí já pode dizer que esta sua republica é democrática :)

Anónimo disse...

Então mas que autores queria que citasse ? Fernando Rosas um historiador que devia ser imparcial mas que não tem ética nenhuma quando confunde o partido que representa no parlamento com a história do país ?

Anónimo disse...

RN disse:

1.A monarquia fez algum referendo para perguntar aos portugueses se preferiam a República?

2. Os monárquicos exigiram alguma vez um referendo durante o salazarismo para saber se os portugueses queriam a continuação dessa república?

3. É curioso que se permita contestar o carácter democrático do actual regime, ao arrepio do que é o juízo generalizado da comunidade internacional e das instâncias rpresentativas do povo português, esquecendo-se que se situa dentro de uma organização que teve um comportamento vergonhoso durante o salazarismo, como pode verificar pessoalmente se se der ao trabalho de ler o órgão da Causa Monárquica publicado durante esse período.

4. Aliás, como argumentei no texto que tem comentado, fazer um referendo para perguntar se queremos a monarquia é tão absurdo como fazer um referendo a perguntar se queremos a democracia.
Como disse, optar pela monarquia significa não poder mudar democraticamente o Chefe de Estado, ter que aceitar os seus filhos , netos e bisnetos,como Chefes de Estado sucessivos e retirar o direito a ser escolhido para a Chefia do Estado a todos os cidadãos que não pertençam à família do potencial monarca.

5.Para mim, a Monarquia é um anacronismo que contraria o cerne dos estados de direito democráticos, só podendo existir dentro de alguns deles por que se reduziu a uma instituição simbólica.

As monarquias democráticas são por isso, verdadeiramente, regimes parlamentares atípicos em que uma das instâncias políticas representativas ( a Chefia do Estado) é substituída por uma instância meramente simbólica.

Anónimo disse...

"1.A monarquia fez algum referendo para perguntar aos portugueses se preferiam a República?"

Sim realmente e acha que foi a maioria da população que fez o 5 de Outubro ? o Partido Republicano assaltou o poder porque sabia que nunca ia ganhar as eleições, tinha sempre 7% dos deputados do parlamento !

O que acha se o PCP tivesse conseguído o PREC e hoje fôssemos uma Cuba na Europa ? também achava legítimo ? O problema é o mesmo, sou democrata não acredito em Utopias que nunca deram bem estar e Liberdade a ninguém !

O Povo é soberano então deixem-no votar ! Não o deixam votar porque têm medo de perder os tachos.

E sabe que mais esta republica é cara sai-nos todos os dias dos bolsos. Segundo um estudo da Revista Visão que saiu no dia 5 de Outubro, a Coroa Espanhola gasta 9 milhões de euros anuais quando a presidência portuguesa gasta 16 milhões !!! A família real espanh9ola paga impostos, tem família para sustentar e património para preservar ... onde é que o Cavaco gasta tanto dinheiro ?

Mas afinal quer ou não o bem estar do Povo ? É isso que está em questão, o votar no presidente não paga contas ao fim do mês e nem acaba com a fome ! Mas os países monárquicos da Europa estão com economias fortes e à frente de Portugal que desde 1910 está sempre à rasca.

Eu preocupo-me com o meu Povo e quero o melhor para ele, ninguém vai acreditar num homem que só foi votado por 30% da população !

Um Rei não pode ser votado ? façam como fizeram em Espanha, em 1978 a Constituição Monárquica foi a referendo ! O Povo legitimou D.Juan Carlos !

Se as monarquias fossem um anacronismo os povos das monarquias europeias não gostavam dos monarcas ... mas a verdade é que todos gozam de mais de 70% de popularidade e o Cavaco quanto goza cá ?

Bem digo que em vez de termos um Comandante ao leme temos um marinheiro ... e esse é o problema ...o marinheiro não consegue governar a Nau e todos remam para o seu lado.
No final o barco não sai do sítio :) É um anacronismo prático !

Anónimo disse...

RN disse:

Acho que teve oportunidade de exprimir o que pensa sobre as questões em causa.Não me convenceu, como eu não o convenci a si.

Apenas acho estranho que alguém com um pensamento conservador, como me parece ser o seu caso, se afirme como militante do PS. Por mais amplo que seja o espectro polítco abrangido por esse Partido dificimente vai tão longe que abranja as posições que assume.

Anónimo disse...

Eu sou apoiante de Manuel Alegre, não me revejo na direcção de Sócrates.
E não me tenciono "filiar" no Grande Oriente Lusitano como muitos dos socialistas que aparecem diariamente na TV. Não o faço para ter um tacho, sinceramente não é isso que mais me preocupa.
Ser monárquico não é ser conservador. Pode juntar a isso ser católico, mas Guterres não é também católico ? Jaime Game é simpatizante da Causa, o pai do Miguel Sousa Tavares foi militante do PS e era monárquico, Arq. Ribeiro Teles foi da lista de Mário Soares na Primavera Marcelista. Há mais pessoas do centro esquerda que se afirmam monárquicas.
Mas pode ter a certeza de uma coisa sou democrata, não vejo bem ditaduras quer sejam de esquerda ou direita. O Povo está primeiro, e digo mais como lhe demonstrei não luto por esta Causa para colocar alguém no trono, luto porque é mais justo para o Povo.

Anónimo disse...

Para finalizar deixo-lhe a carta que enviei à bancada do meu partido e a Vital Moreira, para além de Manuel Alegre :

"Camarada Alberto Martins

Vi ontem no Telejornal a sua intervenção sobre o Voto de Pesar feito pelo deputado do CDS-PP a propósito dos 100 anos do Regicídio. Gostaria de lhe dizer que discordo com a posição assumida pelo PS, no nosso partido há militantes monárquicos para além de republicanos e há simpatizantes do PS que são monárquicos. No mínimo podiam ter-se abstido da votação mas quiseram ter uma posição que é contra a esmagadora maioria da população portuguesa, o CESOP em 2002 fez uma sondagem onde 75% da população portuguesa condenava abertamento o regicídio. Pode pensar que estava em causa a Questão de Regime, pode pensar à vontade assim mas contradiz por completo os princípios humanistas que fazem parte do património de esquerda do PS. Nenhum ideal político ou religioso tem o direito de tirar a vida a quem quer que seja, ao pactuar com o Regicídio o PS está ao lado do Terrorismo. Gostaria de saber que posição o PS terá se infelizmente houver um ataque da Al-Queda em Portugal ?
Sinceramente é triste especialmente para o PS que se acha herdeiro do legado do Partido Socialista Português de Antero de Quental, o qual em 1909 foi chamado por El-Rei D.Manuel II para negociações a constituir um governo porque El Rei dizia “que o Partido Socialista era o partido que representava melhor a vontade do Povo”, desculpe que lhe diga mas com esta atitude no parlamento o PS traiu o seu legado. À 100 anos o PSP era uma coisa o PRP era outra.
A Casa que vossas excelências frequentam todos os dias antes de ser Assembleia da Republica era a Câmara dos Pares, vocês representam o Povo português e não a republica. Era a vida de um Chefe de Estado Legítimo que tinha sido tirada à 100 anos. Quanto ao 1 de Fevereiro e à legitimidade de D.Carlos, bem sabe que os Reis desde D.Pedro IV até D.Manuel II eram aclamados no Parlamento ou votados pelos deputados ( inclusive os republicanos ). Como o senhor é a favor da rectificação do Tratado de Lisboa pelo Parlamento então reconhece a legitimidade dos Reis Constitucionais de Portugal, o instrumento é o mesmo … O Parlamento.

Quanto à luta pela Liberdade, gostaria de lhe dizer que para além de Monárquico sou Militante Socialista, porque acredito no Estado Forte, na luta pelos mais desfavorecidos e votei favoravelmente a Lei do Aborto embora seja contra a liberalização total. Penso que só isto quê lhe disse me caracteriza como sendo de esquerda, quanto a ser monárquico e patriota a cor política não está em causa.
Na minha família existe uma tradição de mais de 100 anos pela luta pela Liberdade, a minha família também como o senhor é do Porto. Manuel Vilela meu avô esteve na comissão de Honra quando da candidatura de Humberto Delgado, foi preso duas vezes pela PIDE e era monárquico. Durante a 2ª Guerra Mundial prestou serviços aos Serviços Secretos Americanos com um louvor escrito pelo presidente do EUA, hasteava no seu jardim o Porto a Bandeira Americana. Além disso era um fervoroso simpatizante do Partido Democrata. A Luta pela Liberdade não é património do PCP como eles julgam, a luta pela Liberdade também é nossa mas para ela seja válida não pode colidir e nem pode contradizer os princípios da Esquerda Democrática que é frontalmente contra o uso de violência para atingir os seus fins.

Obrigado pela atenção

Rui Monteiro
Militante do PS nº34045

p.s. : Esta Carta é Aberta"

O socialismo democrático não é incompatível com a monarquia.

Anónimo disse...

RN diz:

1.A sua identificação política dentro do espectro abrangido pelo PS torna, para mim, mais marcada a incongruência entre várias das suas frases e alegações, por um lado, e as suas opções políticas, por outro.

2. Esta minha opinião sobre as suas opiniões não envolve qualquer menosprezo pela sua liberdade em pensar como entender.

3. Sendo a sua posição a que mencionou, por último, no quadro do PS, é certo que teremos opiniões próximas quanto a outros temas e questões, tal como temos opiniões muito distantes quanto àquilo que discutimos.

Anónimo disse...

Como digo a questão de regime não é uma questão esquerda direita, até há simpatizantes e militantes do PCP que são monárquicos ... isso sim é anacrónico.
Sou socialista democrata ou social democrata no sentido mais lato ou correcto da social democracia europeia que é de esquerda.

Mas também não me revejo no CDS-PP e no entanto a esmagadora maioria deles são monárquicos. Não vou por aí, não defendo as políticas deles nunca os vi a fazerem pacotes legislativos para combater a miséria, só se preocupam com idosos, feiras e patrões ... o resto da população que são a maioria parece que lhes passa ao lado.
Quanto ao resto há aspectos da republica que penso que como D.Duarte diz "é bom como símbolo" mas que na prática não é justa.

Todos sabemos como correm as eleições, sabemos que as máquinas políticas não são iguais e o dinheiro que se gasta em campanha também não é igual, fora os lobbys económicos que também as financiam . São milhões de euros perdidos de 5 em 5 anos, não acha também isso um atentado para a população ? Não estou a dizer que uma ditadura seria melhor "atenção", mas que a eleição de um presidente não é justa é verdade, se ponta o dedo a dizer que nem toda a gente pode ser Rei eu também posso dizer que as probabilidades de alguém ser presidente sem ser militante político e sem apoios de partidos é extremamente limitada ou praticamente nula. Será isto justo ? da mesma forma que nem toda a gente pode ser Rei, nem toda a gente pode ser presidente ...