Uma sociedade estruturalmente injusta, cuja natureza é capitalista, segrega necessariamente situações injustas, atitudes individualistas, sofreguidões lucrativistas, omissões comportamentais. Se nos concentrarmos nesses epifenómenos, que são pouco mais do que projecções dos fenómenos politico-económicos realmente importantes, por natureza menos evidentes e menos centrados em comportamentos individuais, estaremos a perder o essencial. E perder o essencial não é apenas um primarismo político ou uma distracção sem consequências.
De facto, se olharmos com calma à nossa volta já podemos ver como temos perante nós problemas globais de difícil solução, cujas causas foram medidas e omissões políticas que alguns de nós denunciaram há anos atrás ; pelo que fomos então olhados com desdém, pelo senso comum da altura. Podendo não parecer, realmente, estamos cercados.Não é por isso tempo de permitirmos que os erros que alguns de nós cometam sejam agigantados pela pseudo-ética de uma direita pérfida que nada exige de si própria e tudo de nós.
É certamente tempo ( é sempre!) de não cometermos erros, mesmo menores. Mas é tempo também de compreendermos que se deitarmos pela borda fora todos aqueles de entre nós que cometam erros, que não sejam perfeitos, corremos o risco de ficarmos demasiado poucos para podermos influenciar a marcha das coisas.
Em Portugal, na Europa e no Mundo, não se anunciam tempos fáceis. Esquecê-lo , revela a maior ligeireza e uma imprudência crassa. As esquerdas só podem condicionar positivamente as dinâmicas sociais se forem capazes de se renovarem, de pensarem sobre a realidade com honestidade crítica e de aprenderem a entreajudar-se, mesmo mantendo a sua heterogeneidade
.Não é nada fácil, mas é esse o problema central. Quanto ás direitas e aos seus patrões do capital financeiro, elas ligaram já o piloto automático rumo a uma destruição civilizacional e podem ter êxito se continuarmos apenas a tricotar o nosso modo habitual e tolhido de fazer política, ao mesmo tempo que reagimos politicamente ao que se passa à nossa volta da maneira que mais convém à direita. Cheios de boas intenções, naturalmente!
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