terça-feira, 21 de julho de 2015

COM RAZÃO OU SEM ELA


Num número da revista VÉRTICE do já distante mês de fevereiro de 1973, nas páginas verdes do seu inesquecível Jornal, ao percorrer com saudade aquelas páginas e aqueles nomes, deparei com a versão livre de uma “velha história chinesa” escrita por Joaquim Namorado. “A narceja e a ostra” era o seu título. Ei-la:

“Na praia, uma grande ostra entreabre a concha para expor-se aos raios do sol. Uma narceja, que passava, estende o bico, querendo saborear a carne saborosa do molusco, que fecha a concha num repente.
O pássaro tenta inutilmente libertar o bico da prensa que o aperta.
A ostra, por seu lado, não consegue libertar-se do bico que a prende.
Ambas não conseguem mais do que sussurrar a disputa em que se envolvem.
A pernalta diz:
Se não chove nem hoje nem amanhã, vai haver uma ostra a menos.
Ao que a ostra replica:
Tal como entre as narcejas se não te largar o bico nem hoje nem amanhã.
Sem nenhuma querer ceder continuou a querela, até que passou um pescador as agarrou sem dificuldade e meteu no saco.”

Imagino o sorriso do meu tio Joaquim, se pudesse fruir este momento se suprema ironia, mais de quarenta anos depois. Quanto à narceja e à ostra, asseguram-me que o pescador afirmou ser-lhe indiferente saber qual delas tinha razão.

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