Num número da revista VÉRTICE do já distante mês de fevereiro de 1973, nas páginas verdes do seu inesquecível Jornal, ao percorrer com saudade aquelas páginas e aqueles nomes, deparei com a versão livre de uma “velha história chinesa” escrita por Joaquim Namorado. “A narceja e a ostra” ─ era o seu título. Ei-la:
“Na praia, uma grande ostra entreabre a concha para expor-se
aos raios do sol. Uma narceja, que passava, estende o bico, querendo saborear a
carne saborosa do molusco, que fecha a concha num repente.
O pássaro tenta inutilmente libertar o bico da prensa que o
aperta.
A ostra, por seu lado, não consegue libertar-se do bico que
a prende.
Ambas não conseguem mais do que sussurrar a disputa em que
se envolvem.
A pernalta diz:
─
Se não chove nem hoje nem amanhã, vai haver uma ostra a menos.
Ao que a ostra replica:
─
Tal como entre as narcejas se não te largar o bico nem hoje nem amanhã.
Sem nenhuma querer ceder continuou a querela, até que passou
um pescador as agarrou sem dificuldade e meteu no saco.”
Imagino o sorriso do meu tio Joaquim, se pudesse fruir este
momento se suprema ironia, mais de quarenta anos depois. Quanto à narceja e à
ostra, asseguram-me que o pescador afirmou ser-lhe indiferente saber qual delas
tinha razão.
Sem comentários:
Enviar um comentário