O militante do PSD Cavaco Silva aproveitou o fato de ser Presidente da República para promover um tempo de antena do seu partido. Marcou a data das eleições. Perdeu-se num labirinto de instruções confusas aos eleitores, preconizando a realização de coligações, como se em Portugal elas não existissem, como se os partidos políticos devessem seguir os seus conselhos, coligando-se entre eles entusiasticamente.
Fiquei surpreendido. Estava perante
mim um misterioso agente do pensamento esotérico ou um agente despudorado, ainda
que algo emaranhado, de uma pressão política sobre o PS?
Realmente, estando ele a falar no
termo de uma legislatura, em que houve um
Governo de coligação durante toda ela, que sentido faz ele falar em coligações
como algo que não costuma existir em Portugal ? Ou será que, sem ter o
desplante de o dizer às claras, ele quer pressionar o PS para que se coligue com a direita se ele ganhar as
eleições sem maioria absoluta? Ou, pior, estará ele a tentar inculcar na
opinião pública a ideia de que pode haver uma vitória da coligação da direita sem
maioria absoluta, mas geradora do direito de ter primazia na iniciativa de formar
Governo, devendo nesse caso ter o apoio do PS ?
No primeiro caso, o PS pode
formar um governo minoritário ( como Guterres fez ) ou procurar uma coligação
ou um acordo parlamentar fora dos partidos que formam o actual Governo. Não poderá
nunca coligar-se com quem acaba de ser derrotado e de fazer contra o PS uma das mais miseráveis e mais
reaccionárias campanhas de que há memória; não poderá coligar-se com os agentes
políticos diretos dos poderes de facto financeiros que o PS terá que conter e contrariar
quando for Governo.
No segundo caso, a coligação de
direita desaparecerá no momento de fecho das urnas. Depois conta apenas o
número de deputados de cada partido para se determinar qual deles tem mais
deputados, o que lhe dá o direito de ser encarregado de formar governo , em primeiro
lugar.
Se a coligação de direita tivesse em conjunto mais deputados do que o PS, mas não chegasse à maioria absoluta e o PSD tivesse menos deputados do que o PS, seria o PS a ser chamado para formar Governo em primeiro lugar. A máquina de propaganda dos poderes instituídos está a tentar legitimar um golpe de Estado (que é aquilo que se deverá chamar a qualquer decisão do PR que, por hipótese, ignore o número de deputados conquistado por cada partido, dando à coligação de direita o estatuto de partido unificado, colocando o PS artificialmente em segundo lugar, mesmo com mais deputados do que o PSD).
Se a coligação de direita tivesse em conjunto mais deputados do que o PS, mas não chegasse à maioria absoluta e o PSD tivesse menos deputados do que o PS, seria o PS a ser chamado para formar Governo em primeiro lugar. A máquina de propaganda dos poderes instituídos está a tentar legitimar um golpe de Estado (que é aquilo que se deverá chamar a qualquer decisão do PR que, por hipótese, ignore o número de deputados conquistado por cada partido, dando à coligação de direita o estatuto de partido unificado, colocando o PS artificialmente em segundo lugar, mesmo com mais deputados do que o PSD).
O PR não sustentou expressamente esta
via golpista, mas tudo aquilo que disse não é incompatível com ela.
Por tudo isto, mais uma vez insisto.
O PS deve varrer estas toscas tentativas de perpetuar no poder os partidos da direita, mesmo sendo eles
derrotados nas eleições.
Se a coligação PSD/CDS tiver
maioria absoluta ganha as eleições , caso contrário perde-as, mesmo que tenha
em conjunto mais votos do que o PS sozinho. Realmente, sendo claro que o
PSD está muito longe do PS, finge-se que é a coligação que conta como se fosse
um partido e dá-se verosimilhança à ficção de uma disputa apertada com o PS.
O PS pode deixar correr o marfim
, calculando que a ficção da direita pode alimentar o voto útil á esquerda, mas
por mim acho mais acertado denunciar um golpe de estado, quando o vemos, ainda
que seja melífluo e suave.
Enfim, o discurso do PR de hoje
chamou a nossa atenção para a necessidade de o PS como partido tudo fazer para
impedir que a direita se perpetue em Belém. Não nos deixemos confundir . Os presidentes
de direita não tratam a esquerda da
mesma maneira que os presidentes de
esquerda tratam a direita. Não foi por acaso que o PSD tanto sonhou com
o célebre tripé que tiveram durante estes quatro anos: uma maioria, um governo,
um presidente.
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