O irrequieto comentador Marcelo, há anos em pré-campanha
presidencial nas televisões, acha que a realização de eleições seria mais um
novo problema do que uma solução .
Esqueceu-se de precisar que elas seriam realmente um problema para a
direita, em virtude do desastre eleitoral que ela prevê e receia.
Ou seja, ele(s) sabe(m) que o actual governo tem apenas o
consentimento de uma pequena parte do eleitorado, para prosseguir a obra de
demolição em curso.
Formalmente, enquanto o Adormecido de Belém o quiser e o
saltitante Portas o consentir, o Governo continuará cambaleante a cavar mais
fundo a desgraça dos portugueses. Mas substancialmente, eticamente, a sua
legitimidade escoa-se com velocidade crescente. E essa legitimidade é tanto
mais diminuta quanto mais longe for o Governo na destruição do Estado social e
na corrupção da democracia; quanto mais longe for no caminho do arbitrário e
mais evidente for a degradação civilizacional que está a produzir; quanto mais
óbvio for o desastre económico causado e mais vergonhoso for o agravamento das
desigualdades perpetrado.
Por tudo isso, quer o irrequieto comentador (aliás, douto),
quer a espuma mediática do discurso dominante, escorrem pela superfície efémera
da realidade sem verdadeiramente a sentirem. De facto, para além das rotinas institucionais
e do arrastado teatro político, o fundamental aproxima-se irresistivelmente da
evidência. Correndo o risco de me repetir (o que também pode querer dizer que a
realidade permanece estagnada), insisto: Se o sistema capitalista só consegue
salvar-se sacrificando o povo, não será mais que legítimo, e até necessário, que o
povo resolva salvar-se sacrificando o sistema?
2 comentários:
Concordo plenamente.
Concordo
Enviar um comentário