quarta-feira, 22 de maio de 2013

O NÓ DO PROBLEMA


O irrequieto comentador Marcelo, há anos em pré-campanha presidencial nas televisões, acha que a realização de eleições seria mais um novo problema do que uma solução .

Esqueceu-se de precisar que elas seriam realmente um problema para a direita, em virtude do desastre eleitoral que ela prevê e receia.

Ou seja, ele(s) sabe(m) que o actual governo tem apenas o consentimento de uma pequena parte do eleitorado, para prosseguir a obra de demolição em curso.

Formalmente, enquanto o Adormecido de Belém o quiser e o saltitante Portas o consentir, o Governo continuará cambaleante a cavar mais fundo a desgraça dos portugueses. Mas substancialmente, eticamente, a sua legitimidade escoa-se com velocidade crescente. E essa legitimidade é tanto mais diminuta quanto mais longe for o Governo na destruição do Estado social e na corrupção da democracia; quanto mais longe for no caminho do arbitrário e mais evidente for a degradação civilizacional que está a produzir; quanto mais óbvio for o desastre económico causado e mais vergonhoso for o agravamento das desigualdades perpetrado.

Por tudo isso, quer o irrequieto comentador (aliás, douto), quer a espuma mediática do discurso dominante, escorrem pela superfície efémera da realidade sem verdadeiramente a sentirem. De facto, para além das rotinas institucionais e do arrastado teatro político, o fundamental aproxima-se irresistivelmente da evidência. Correndo o risco de me repetir (o que também pode querer dizer que a realidade permanece estagnada), insisto: Se o sistema capitalista só consegue salvar-se sacrificando o povo, não será mais que legítimo, e até  necessário, que o povo resolva salvar-se sacrificando o sistema?