O fundamentalismo radical deste Governo, transformou-o numa
cobaia, usada num exercício experimental por instâncias de poder mais amplas, que
querem talvez saber até onde podem desafiar a paciência dos cidadãos. Mas, alterou
também os termos em que a política pode ser uma resposta eficaz aos problemas
que o nosso povo enfrenta.
É agora insuficiente discutir e preparar alternativas apenas
institucionais de poder, visando desfazer os dislates mais gritantes e
regressivos deste Governo, contrariar as pressões mais intoleráveis dos poderes
de facto, nacionais, europeus e mundiais, e abrir um fresta de esperança nas
janelas do futuro. Chegados aonde chegámos, é agora indispensável olhar para
mais longe e compreender que só uma metamorfose social, que nos conduza a uma
sociedade outra e nos faça regressar aos terrenos de uma civilização melhorável,
pode com realismo restituir-nos um futuro que seja susceptível de se inscrever
naquilo que sonhamos.
Na verdade, se o capitalismo não consegue, dada a sua
própria natureza, deixar de agravar as atuais desigualdades sociais, de reproduzir a miséria, a exclusão, a fome e a
infelicidade, por que razão nos temos que conformar com ele, continuando a
deixar-nos guiar docilmente pelos seus ditames, subordinados aos interesses
egoísticos da pequena camada social a quem ele convém?
Ainda por cima, essa lógica predatória que esmaga as pessoas,
é também uma agressão, cada vez mais alarmante, ao equilíbrio ecológico, que
ameaça, já hoje, a própria sobrevivência de vida na Terra.
A nossa necessária atenção ao processo de regressão
civilizacional em curso, para o travarmos e combatermos, para não permitirmos
que se consume por completo o confisco do futuro , e a destruição da própria
sociedade, não pode desviar-nos do objectivo estratégico de última instância: começar
a sair do capitalismo organizadamente, já. Organizarmo-nos, para pilotar uma
saída, tão pouco dramática quanto possível, rumo a um pós-capitalismo, que se
anuncia cada vez mais como hipótese de sobrevivência da humanidade, prenunciando-se através de um vasto arquipélago de
iniciativas, que já resistem no seio do
capitalismo, afirmando uma lógica própria, humana, civilizada e alternativa.
Não se trata já de tricotar alianças eleitorais e pequenas
soluções, para pequenos governos com pequenas ambições. Trata-se de suscitar uma
aliança político-social robusta na sua determinação de abandonar o barco furado
do capitalismo, antes que nos afundemos com ele. Trata-se de assumir um
reformismo emancipatório e transformador, que possa acelerar a metamorfose da
sociedade em que vivemos, rumo a um pós-capitalismo que consubstancie e
potencie todos os valores das lutas libertadoras, que impulsionaram a
humanização das sociedades ao longo da História. Trata-se de fundir numa grande
corrente todos os processos sociais e institucionais, de os congregar num conjunto flexível e
plural, internamente solidário e externamente decidido, que possa modificar a atual
correlação de forças, de modo a abrirmos
de novo a janela da esperança.
2 comentários:
Caro Rui
Que quem tiver ouvidos te ouça!
O pior é que há muitos que fazem "orelhas moucas"...
Meu Caro Rui,
Não posso estar mais de acordo com o teu comentário.
Mas,como diz o Horta Pinto, há muitos que fazem orelhas moucas.
Como dizes,e bem,
" Não se trata já de tricotar alianças eleitorais e pequenas soluções, para pequenos governos com pequenas ambições. Trata-se de suscitar uma aliança político-social robusta na sua determinação de abandonar o barco furado do capitalismo, antes que nos afundemos com ele. Trata-se de assumir um reformismo emancipatório e transformador, que possa acelerar a metamorfose da sociedade em que vivemos, rumo a um pós-capitalismo que consubstancie e potencie todos os valores das lutas libertadoras, que impulsionaram a humanização das sociedades ao longo da História. Trata-se de fundir numa grande corrente todos os processos sociais e institucionais, de os congregar num conjunto flexível e plural, internamente solidário e externamente decidido, que possa modificar a atual correlação de forças, de modo a abrirmos de novo a janela da esperança."
E aqui não pode haver vistas estreitas ou partidarites, seja de quem for !
Um forte abraço do teu,
bento
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