quinta-feira, 23 de maio de 2013

O AVESSO DO ROBIN DOS BOSQUES

Não sei se estes gaspares e estes álvaros são cínicos perversos, se são aldrabões ingénuos ou se são simplesmente imbecis.

As modificações na taxa social única tiveram que ser retiradas, uma vez que deixavam grosseiramente transparecer num único pacote de medidas o  escândalo de se irem financiar os patrões à custa dos trabalhadores, de se sugar no trabalho o que se dava ao capital.

Ora hoje, depois da  inimaginável exibição de rasteirice gaspárica feita na Alemanha, a dupla fatal exibiu-se em Lisboa com um palavreado exultante sobre "créditos fiscais".No fundo, pretende estimular-se a economia, indo ao bolso dos cidadãos em geral e dos trabalhadores em particular. E este escândalo é ainda mais grave, dado o  risco que há de que tais estímulos caiam em saco roto.

Todos os argumentos aduzidos por graves académicos, por saltitantes jornalistas, por hercúleos comentadores e até por circunspectos políticos, a que o governo recorreu, para justificar cortes em salários, cortes em pensões ( isto é, em salários diferidos) e esbulho de direitos sociais,  para extorquir dos trabalhadores o fruto do seu trabalho, deixaram agora de ser necessárias para justificarem a oferta de benefícios aos patrões. Segundo os bonzos de serviço, a nossa economia não resiste a uma justa remuneração do trabalho; mas a drenagem indirecta de recursos públicos para empresas privadas, nacionais e estrangeiras, é uma girândola de virtudes económicas. É uma trivialidade, para eles tão óbvia e tão exaltante, que nem se dão ao trabalho de a justificar eticamente. Só lhes encontram vantagens, indemonstradas é certo, mas com ligeireza dadas como adquiridas.Globalmente, tudo isso mascara uma realidade revoltante: o esbulho de bens privados  dos trabalhadores é drenado sem pudor, mesmo que  indiretamente, para o bolso do patronato.Do grande patronato, principalmente; dos pequenos empresários , por acidente.

Assim, o governo, que tem apregoado estar  possuído por um impulso irresistível de equidade , quando se trata de justificar a degradação da qualidade de vida de uma parte  dos trabalhadores,apenas porque outros estão ainda pior, esqueceu-a por completo, quando se trata de repartir com justiça os frutos da actividade económica entre o capital e o trabalho.Mais um sintoma de uma hipocrisia política de raiz.

Na verdade, uma vez mais o comité dos gaspares, em que se transformou o actual governo, foi ao bolso dos trabalhadores para estar em condições de confortar os dos patrões. As alegações numéricas, os apoios entusiastas das instâncias internacionais do fundamentalismo neoliberal, as invocações de misteriosos modelos e o linguajar economicista, são puras secreções de uma ideologia decadente, puras mistificações. A verdade crua que precisam desesperadamente de esconder e que ilustra na perfeição a sua natureza mais funda é a de que o essencial da  função deste governo  é ser o avesso do Robin dos Bosques: roubar aos pobres para dar aos ricos.


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