O insustentável presidente da república teve um lampejo de lucidez, um irreprimível assomo de generosidade, ao apelar para a urgência da ajuda aos novos pobres. Sensibilizado pela atmosfera piedosa da fala, fiquei a pensar o que teria o presidente contra os pobres de sempre, para os fazer assim preceder no rosário das suas preocupações pelos novos, apenas pelos novos pobres. Uma sombra difusa chegou a trazer-me ao espírito o insólito de uma dúvida: afinal, quem são os novos pobres?
Eis se não quando, a resposta me chegou óbvia pela voz autorizada, conquanto soturna e agoirenta, das agências de rating, que hoje fizeram pesar sobre os ombros dos generosos bancos portugueses a falta de apoios do estado. Achei! Clamei eu para mim próprio: "Hoje, os novos pobres em Portugal são os bancos!"
E foi só então que me foi possível avaliar em toda a sua extensão a inteligência e a generosidade cavaquistas. Compreendo agora por que razão o presidente da república se sentiu obrigado a desaconselhar ataques ou críticas às agências de rating. Todos estão unidos, em comunhão, na piedosa cruzada em prol dos novos pobres, os abnegados bancos mais os sofridos banqueiros.
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