terça-feira, 30 de setembro de 2008

A via-sacra do socialismo na Europa


No domingo passado, realizaram-se eleições em dois países da União Europeia, cujos resultados devem ser muito bem pesados pelos socialistas de toda a Europa. Trazem-lhes más notícias, embora as tragam ainda piores para o Partido Popular Europeu. Estou a falar nas eleições legislativas ocorridas na Áustria e nas eleições estaduais ocorridas num dos estados federados alemães, a Baviera.

Uma particularidade comum é a de serem (ou terem sido) até agora, no plano nacional de ambos os países, governados por uma grande coligação entre sociais-democratas (Partido Socialista Europeu) e democratas-cristãos (Partido Popular Europeu).

Na Áustria, o partido mais votado foi o social-democrata, com pouco mais de 29%, o que significa um recuo de 5,5% em comparação com as eleições anteriores, realizadas apenas há dois anos, e um dos seus piores resultados de sempre. O outro parceiro e leader da grande coligação, o partido democrata-cristão, perdeu cerca de 9% em dois anos, tendo-se ficado pelos 25,9 %. A extrema-direita, dividida em dois partidos, aproximou-se dramaticamente dos 30%, ultrapassando o resultado que atingiu em 2000, antes de se ter dividido, com o qual abriu então as portas do governo pela mão dos democratas-cristãos. Os Verdes ficaram-se pelos 10%, o que reflecte uma ligeira perda de 1,5 %. Os votos por correspondência podem mudar ligeiramente este panorama, mas não é provável que abram a porta a soluções que os resultados actuais inviabilizam.

Na Baviera, os resultados, reflectindo naturalmente a especificidade desse Estado Federado, desse Land, não podem deixar de merecer uma ponderação, quanto ao seu significado nacional. O CSU, partido democrata-cristão da Baviera, desde sempre aliado à CDU nacional liderada pela Srª Merkl, governa a Baviera com maioria absoluta há várias dezenas de anos. Ainda na eleição anterior teve mais do que 60% dos votos. Mas agora ficando-se pelos 43%, não só perdeu a maioria absoluta, precisando de se coligar para continuar a governar, como recuou 17% em face das eleições anteriores, tendo obtido o pior resultado dos últimos cinquenta anos. Significaria isto que, por contraponto, o SPD subiu? Não. Os parceiros sociais-democratas que governam actualmente a Alemanha em coligação com a Srª Merkl, recuaram ainda 0,1, conseguindo com os seus modestos 19% o seu pior resultado de sempre na Baviera.

Se olharmos para o panorama dos ganhadores, não divisamos o prenúncio de qualquer alternativa consistente. Uma nova plataforma eleitoral de independentes, de cariz conservador, mas ecologista (Freie Wähler), conseguiu a sua primeira representação parlamentar com 10,2%; os Verdes tiveram 9,4%; os liberais regressaram ao parlamento estadual ao atingirem os 8%. Por último, a Esquerda, pese embora a sua conhecida fragilidade na Baviera, ficou à porta do parlamento por ter tido apenas 4,3% dos votos.

Algo que é significativo, como indicador de uma tendência de longo prazo, é o facto de os dois grandes partidos terem tido 90% dos votos em 1982, mas mão terem agora passado dos 62%. Um aviso para os grandes partidos clássicos que têm partilhado os governos europeus.

Estes dois resultados devem representar um alerta objectivo para todos aqueles que em Portugal reduzem, com ligeireza, a possibilidade de um bloco central a uma simples obediência aritmética a um certo tipo de resultados eleitorais. Na verdade, estes dois casos, não sendo por si sós demonstrativos da inanidade de uma solução política desse tipo, são por inteiro congruentes com uma visão pessimista das suas consequências.

A esquerda governamental, que é na actualidade constituída predominantemente pelos Partidos da Internacional Socialista, tem vindo nos últimos anos a deparar-se com uma crise de identidade, na maior parte dos países da União Europeia.

Na Itália, os Democratas de Esquerda, oriundos do velho PCI e membros do Partido Socialista Europeu, diluíram-se num indefinido Partido Democrático, misturando-se com alguns dos restos da antiga democracia cristã. No Reino Unido, a 3ª via parece aproximar-se de um triste fim, estando, de momento, o Partido Trabalhista com cerca de 20 pontos percentuais de atraso, em face dos conservadores. Na Dinamarca e na Holanda, os partidos da Internacional Socialista atingiram resultados alarmantes, nos mais recentes actos eleitorais. Em França, o PSF parece incapaz de ganhar um novo fôlego, como se ainda não tivesse conseguido superar a já prolongada orfandade, subsequente ao desaparecimento de Miterrand.

E é particularmente preocupante que, perante o colapso da contra-reforma neoliberal iniciada por Reagan, seja tão insípida a resposta dos partidos da Internacional Socialista, tão submissa ao paradigma que está na raiz do desastre económico actual.

Na Europa e no mundo, a vulgata mediática dominante, pseudo-cientificamente legitimada, impingiu-nos como remédio salvador aquilo que, afinal, não foi mais do que uma insidiosa e crescente intoxicação. Mas, até agora, os partidos socialistas europeus parecem ter dificuldades em romper com o paradigma falido do neoliberalismo agonizante. De facto, não têm sabido escapar ao coro dos que, em desespero de causa, se refugiam sem convicção num monótono recital de propostas paliativas que ignoram, por completo, o fundo da questão.

Aprisionados no imediatismo, mastigando melancolicamente o passado, não têm sido capazes de propor novos horizontes. E, no entanto, é este o momento para se exigir o fim da lógica ruinosa que tem abafado a União Europeia e assombrado o Mundo. É o tempo para se pôr fim à atrofiante hegemonia do Partido Popular Europeu, nesta União Europeia que se nada mudar se irá extraviando mais e mais.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Há ladrões? Matem-se os polícias!


Afinal, o sólido edifício do paraíso neoliberal, não era mais do que uma disneylandia. Os assarapantados jornalistas precisam, pois, mais do que nunca, de dizer coisas impressivas, brilhantes, dramáticas, a propósito da conjuntura.
Mas os comentadores de primeira linha não estão disponíveis para arriscar. Venha um qualquer. E vem. Acaba sempre por haver uma luminária mais ou menos desconhecida, se possível com um título ribombante qualquer, disposta a ir até ao fim do absurdo , se assim tiver que ser. E foi.

De facto, em pleno colapso da lógica neoliberal, com o capitalismo ferido na asa e um irresistível perfume a negócios mafiosos a invadir-nos as narinas, insidiosamente, acaba sempre por aparecer uma ave qualquer, disposta a recitar a cartilha de sempre, a recitar o rol das antiguidades de serviço como se ainda estivessem frescas.
Acabei de assistir na SIC Notícias a um desses episódios. Na verdade, quando tudo se vira para o Estado como último recurso, quando todos querem confiar, em última instância, no Estado (mesmo nos actuais),para salvar o circo, um jornalista televisivo conseguiu inventar um irresistível cromo.
Efectivamente, acabo de ouvir um inefável sábio com um sorriso algo tonto, afirmar em público, sem se partir a rir de si próprio, que o Estado é afinal o grande culpado de tudo o que está a acontecer na doce economia do manso capitalismo global: porque não soube produzir, não soube gerir e agora se vê que nem sabe regular.
E a legenda avisou-nos que estava ali um catedrático!
Terá sido culpa do apagador do senso comum? - pergunto eu.

domingo, 28 de setembro de 2008

Um Congresso de Economia Social


1. O 27º Congresso Internacional do CIRIEC, que decorreu em Sevilha, entre os passados dias 22 e 24 de Setembro, teve como tema geral “Inovação e Management : as respostas aos grandes desafios das empresas da economia pública, social e cooperativa”.
Tendo-se naturalmente desenrolado de acordo com o plano previsto, com abordagem das temáticas parcelares previamente programadas, foi marcado fortemente pela conjuntura de risco de desastre económico, que actualmente assinala o bloqueio do atalho neoliberal, aberto sob a égide de Reagan nos anos oitenta do século passado.
De facto, a necessidade de estimular um protagonismo mais amplo das empresas públicas, sociais e cooperativas tornou-se verdadeiramente ostensiva. E com ela, naturalmente, emergiu a legitimidade (ou até o imperativo) de submeter o neoliberalismo (e até o capitalismo, em si próprio) a um crivo crítico mais apertado. Assim, a emergência da importância da economia pública e da economia social e cooperativa, uma e outra com lógicas distintas, mas com um largo campo para exploração em comum de sinergias, foi talvez a marca mais relevante do Congresso. Marca essa, que na opinião de quem assistiu aos anteriores congressos, talvez represente uma viragem do próprio CIRIEC.

2. Abra-se aqui um breve parêntesis para dizer brevemente o que é o CIRIEC.
O CIRIEC (Centre International de Recherches et d'Information sur l'Economie Publique, Sociale et Coopérative) é uma organização científica internacional não governamental. Tem como objectivos “assegurar e promover: a colecta de informações, a investigação científica e a publicação de trabalhos.”
Foi fundado, em 1947, pelo Prof. Edgard MILHAUD, economiste francês docente da Universidade de Genève, tendo sido inicialmente denominado "Centre International de Recherches et d'Information sur l'Economie Collective".
O referido professor fora já o fundador em 1908 da revista "Les Annales de l'économie collective", cuja perenidade queria garantir através da nova organização. Essa revista, cujo nome passaria mais tarde a ser “Annales de l'économie publique, sociale et coopérative”, órgão do CIRIEC, está a festejar este ano o seu primeiro centenário.
O CIRIEC dispõe actualmente de treze secções nacionais: Alemanha, Argentina, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, Espanha, França, Itália, Japão, Portugal, Suécia e Turquia. Nos países onde não existem secções nacionais, podem filiar-se no CIRIEC directamente organizações não governamentais, cujos objectivos caibam no seu âmbito.


3. No recente Congresso de Sevilha, participaram 700 congressistas de 35 países, para além de mais algumas centenas de acompanhantes. As delegações dos vários países eram numericamente muito heterogéneas. Naturalmente, a mais numerosa era a espanhola com quase 300 participantes, seguindo-se-lhe a da Bélgica com 136, a da Áustria com 52, a da França com 47 e a de Portugal com 28. Menos numerosas, mas ainda assim com uma dimensão significativa, eram as delegações da : Alemanha, Canadá, Itália, Argentina e Venezuela. Os restantes 61 participantes repartiam-se por outros 25 países, entre os quais menciono aleatoriamente: Brasil, Japão, USA, Grécia, Senegal, México e Bangla Desh.

4. Como escrevi há dias neste mesmo blog, a conferência de Stiglitz foi um aspecto marcante do Congresso. Para além do que foi assinalado nesse outro texto, não resisto a recordar uma irónica observação que o economista americano fez, quando se referiu à chamada mão invisível do mercado, dizendo que agora se compreendia por que razão ela era invisível. E afirmou : ela é invisível, simplesmente, porque não existe.
Também ele, com simplicidade, mostrou como é um pura ilusão quase grosseira, uma pseudo-evidência, que me lembro de ter visto incluída em textos intencionalmente de esquerda, para além de fazer parte da vulgata mediática partilhada por jornalistas, por políticos de vários quadrantes e até por comentadores que se acham encartados.
Trata-se daquela afirmação recorrente que traduz a ideia de que é preciso primeiro produzir para depois distribuir, muitas vezes acompanhada com a aparente evidência de que não se pode distribuir o que não se tem, mas sempre destinada a justificar privilégios para a lógica do capital e sacrifícios para os trabalhadores.
De facto, como Stiglitz mostrou, a desigualdade social em si própria e a frustração pela penosidade das condições de trabalho prejudicam a própria produtividade, inquinam a competitividade, sendo por isso factores de degradação nos processos de produção de bens e serviços.
É a própria organização da produção e o próprio processo produtivo que têm que reflectir respeito pela pessoa humana, pelo trabalho como algo que se não reduz a uma mercadoria, para induzirem naturalmente nos trabalhadores uma motivação e uma identificação com os objectivos do que produzem, que sejam potenciadoras da sua produtividade e assim indutoras naturais de maior competitividade.
As políticas distributivas não precisarão de ser tão fortes, nem as medidas de protecção social. E, principalmente, não será tão radical o desequilíbrio entre os sacrifícios pedidos hoje aos trabalhadores, que são certos pela própria natureza das coisas, e a compensação posterior pelas políticas distributivas, que é incerta , cada vez mais incerta, e em grande parte das vezes inexistente.

5. Ainda como observações gerais, mais duas apenas. Em primeiro lugar, foi patente, ao longo das várias sessões parcelares e das duas plenárias, uma disponibilidade clara para um protagonismo crescente, por parte das organizações de economia social. Em segundo lugar, ficou bem claro o vigor da economia social na Andaluzia, bem como o forte envolvimento do poder político regional andaluz no êxito do sector.




O próximo Congresso será em Berlim, em 2010. Até lá, presidirá ao CIRIEC-Internacional, o alemão Wilhelm Georg Hanss.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Stiglitz e a Economia Social


Sem prejuízo de querer voltar a falar, numa perspectiva mais global, sobre o 27º Congresso Internacional do CIRIEC, realizado em Sevilha nos dias 21 a 24 de Setembro passados, achei que era importante dar a conhecer, quanto antes, um texto do Observatorio Espagnol de la Economia Social, datado do dia 22/09/2008, sobre a participação que aí teve Joseph Stiglitz. Foi uma intervenção que marcou o Congresso. Teria sido bom que os governos europeus (pelo menos) o ouvissem.


De facto, a União Europeia, onde são imensas as virtualidades de geração de utilidade e bem-estar social próprias da economia social, tem tido uma política cega para essas virtualidades, que oscila entre uma insípida e estéril complacência sem horizontes e uma hostilidade incompetente, que se mostra como um risco crescente.

O caso português não será tão grave, mas é estranho que o actual governo tenha estado, na prática, paralisado quanto ao que de essencial lhe caberia fazer relativamente ao sector cooperativo em particular e à economia social, no seu todo. Estranho, se pensarmos que estamos a falar de um governo do PS, um partido que se identifica profunda e historicamente com o lugar reservado na Constituição Portuguesa ao “sector cooperativo e social”.

Leia-se pois o referido texto que a seguir transcrevo:



Joseph Stiglitz propone frente al “fundamentalismo de mercado” una economía más equilibrada con un peso creciente de la economía social


Una economía equilibrada, basada en un sistema económico plural, con un sector privado tradicional, un sector público eficaz y con un sector creciente de economía social. Esa es la clave del éxito económico, según ha manifestado hoy el premio Nobel de Economía Joseph Stiglitz, en la conferencia que ha impartido en el 27 Congreso Internacional del CIRIEC, que se ha iniciado hoy en Sevilla. La mención, por parte de una autoridad económica como Joseph Stiglitz, de la economía social como un sector fundamental que favorece el “equilibrio económico”, supone un reconocimiento y un espaldarazo extraordinario a toda la pluralidad de iniciativas que componen el sector a nivel internacional.Ante una audiencia de mil congresistas de 40 países, el profesor de la Universidad de Columbia y autor de libros como El malestar de la globalización ha afirmado que el fomento de una “economía equilibrada” es la respuesta que se debe dar al “fundamentalismo de mercado”, que ha tenido como consecuencia el terremoto financiero que se ha producido en los últimos días o que, desde el punto de vista social, sólo en EEUU tres millones de personas se hayan quedado sin vivienda en el último año, y otros dos millones estén en peligro de perderla en los próximos meses. Joseph Stiglitz ha recalcado que los sucesos del 15 de septiembre han supuesto el fin del fundamentalismo de mercado, del mismo modo que la caída del muro de Berlín supuso el final del comunismo.Stiglitz ha facilitado ejemplos de países, desde Europa hasta el Este de Asia, cuyo éxito se ha basado en el equilibrio entre mercados, administración y otro tipo de entidades, incluyendo a la economía social. En Europa, y también en los Estados Unidos, las sociedades se han desarrollado tradicionalmente con el apoyo de un sector público fuerte -en aspectos como la educación, la regulación de los mercados, y el fomento de la ciencia- y con una representación esencial de entidades de economía social en sectores como el crédito, la agricultura y la vivienda. Particularmente, entre los logros de la economía social, Stiglitz ha destacado la presencia de cooperativas, mutualidades y entidades no lucrativas entre las principales empresas de éxito en los EEUU, con ejemplos reconocidos en sectores como la comunicación, agricultura, educación, la salud y una parte importante de la vivienda en ciudades como Nueva York. El propio ponente se ha sentido muy identificado con la economía social, ya que reside en una vivienda cooperativa, su editorial también es una cooperativa y la Universidad de Columbia, a la que pertenece, es una fundación sin ánimo de lucro. Stiglitz ha destacado también la aportación de la economía social como “fuente de innovación” de la que también se beneficia el resto de la economía.Valores e innovaciónPara el premio Nobel de Economía 2001, las razones de éxito de la economía social se encuentran en sus propios valores, especialmente por su forma de gestión democrática y por su manera de relacionarse con las personas “menos tendente a explotarlas”. Según el profesor, “una economía en la que prevalece el interés privado por encima del público no es innovadora”, más bien obstaculiza la innovación y la eficiencia para maximizar los beneficios de unos pocos. “Un aumento de la democracia interna en las empresas no sólo puede garantizar un entorno laboral más agradable, sino también más innovador y, con ello, una sociedad más innovadora en su conjunto”, afirma Stiglitz. Por todo ello, Joseph Stiglitz ha concluido su conferencia haciendo un llamamiento al fomento de estas “formas alternativas de organización económica”, afirmando que se debe hacer más “para identificar la contribución que están realizando a nuestra sociedad”. “Medidas como el PIB no reflejan el conjunto más amplio de valores y resultados que producen las entidades de economía social”, advierte Stiglitz, y pone como ejemplos índices de satisfacción en el trabajo o sobre el bienestar de una comunidad. Stiglitz ha manifestado que cabe crear indicadores que valoren toda esta serie de contribuciones de progreso social, con el fin de evaluar de manera más precisa a todas estas entidades.

domingo, 21 de setembro de 2008

Eu é que sou o presidente da junta!



O candidato republicano às eleições presidenciais americanas fez declarações públicas, em que tratava o actual chefe do governo espanhol, como se ele liderasse um país inimigo dos USA.
Transcrevo abaixo um texto de JAVIER DEL PINO –(Washington - 20/09/2008 ), publicado no diário espanhol “El País”.

Quando parecia que os maiores sustos podiam vir apenas da sua candidata a vice-presidente, o próprio conteúdo das reacções às incríveis declarações do candidato republicano indicia novas razões para grande preocupação.
De facto, pode ficar à frente dos USA um sujeito que , das duas uma: ou não distingue Zapata de Zapatero; ou considera um feroz inimigo dos USA um governo democrático de um dos mais importantes países da União Europeia. Enfim, a direita americana no seu melhor.

Eis o texto:

¿Zapatero o zapatista?

Las declaraciones de McCain sobre España desatan la polémica en la 'blogosfera'

A medio camino entre la mofa y la preocupación, la blogosfera política de Estados Unidos analizó con intensidad la extraña actitud de John McCain frente a España en su entrevista a Unión Radio, a la que pertenece la cadena SER; horas después, el debate había saltado a la CNN y la MSNBC y ayer estaba impreso en todos los grandes diarios del país.
"Todavía no es presidente y ya me está dando vergüenza", escribe en un comentario un lector de TPM, uno de los principales blogs políticos del país. En el blog progresista más reconocido, The Hufftington Post, que fue uno de los primeros en recoger la entrevista con un enlace a la página de la SER, la noticia generó 1.300 comentarios. El consenso general da por sentado que la frialdad de McCain hacia España no es una cuestión política, sino cultural: no sabía de qué le estaban hablando. No había acuerdo, sin embargo, en achacar el origen a la ignorancia o la senilidad. "¿Sabe McCain que ha terminado ya la guerra de Cuba?", se pregunta un lector. "Seamos justos", escribe otro, "probablemente pensó que la entrevistadora estaba hablando sobre Zapata porque, para McCain, 1910 es prácticamente ayer".
Dado que el equipo de campaña de McCain intentó convencer a los medios de que la actitud del senador era de frialdad y no de ignorancia, varios diarios nacionales rescataron su entrevista con EL PAÍS en abril, en la que se mostraba cordial y conciliador con José Luis Rodríguez Zapatero. Y, como una cosa no concuerda con la otra, la prensa no parece dispuesta a aceptar la explicación oficial. "John McCain cree que España es un país enemigo en Latinoamérica", titula Lisa Richardson en Los Angeles Times. "Dejemos de preocuparnos por los conocimientos de política exterior de Sarah Palin", escribe Richarson en referencia a la candidata a vicepresidenta, "y preocupémonos por los de John McCain". Un sentimiento parecido expresa Lisa Abend en la edición electrónica de Time y Andrew Romano en Newsweek, que se pregunta: "¿Sabía McCain de lo que estaba hablando? Quizá oyó Zapatero y pensó en zapatista o Zapata". Para todos los analistas, la otra opción, la de la frialdad permanente hacia España, es más peligrosa: "Un candidato puede hacer algo peor que confundirse: asegurar que un aliado de la OTAN puede querer hacernos daño", escribe Robert Schlesinger en las páginas de US News & World Report.
Los medios y blogs conservadores trataron de ignorar la noticia. Entre los miles de comentarios, muchos de los favorables a McCain parecían llegar desde España con acusaciones a Zapatero "por aislacionista y pro-Obama", escribe un lector que se identifica como español. Pero la mayoría en esas páginas hacían bromas con la edad y la memoria de McCain, le recomendaban que no olvide tomarse su medicación: "El abuelo no se ha tomado las pastillas".

sábado, 20 de setembro de 2008

Pixordices 18: Democrácios e humanítricos

1. Quando havia governos de esquerda não legitimados por eleições, os bem-pensantes de serviço exaltavam as eleições como única medida da legitimidade democrática, embora se esquecessem, muitas vezes, de ter o mesmo rigor de julgamento, quanto aos governos de direita, não legitimados por eleições.

Como, actualmente, há muitos governos de esquerda, legitimados por eleições (recorde-se o caso da América do Sul), os mesmos bem-pensantes descobriram que não basta eles terem a maioria eleitoral é preciso também que preencham uma série de requisitos, que vão inventando, de modo a poderem dizer que eles faltam a esse governos de esquerda queridos pela maioria do povo.

Quem deveria governar então? A direita desses países, apoiada apenas por uma parte minoritária do eleitorado ?

São os democratas maioritários: só são a favor da democracia quando ela dá a vitória à direita.

Muito edificante…

2.
Tributária da mesma idiossincrasia, a administração Bush descobriu um caminho esquisito, para se demarcar de governos de outros países que não lhe agradem. Em vez de manifestar as suas divergências políticas, confrontando-os com a correspondente crítica, prefere acusá-los de não participarem com a necessária eficácia no combate à droga.

É que se chama boa fé política, é o que se pode considerar um comportamento impecavelmente marcado pela ética .

3.
Proliferam na actualidade as organizações de defesa dos direitos humanos. Como em tudo, há que separar o trigo do joio. Há que distinguir as que se pautam por regras de imparcialidade política inequívoca, das que são meras entidades mercenárias, que apenas executam uma agenda predeterminada pelos seus financiadores; distinguir as que se batem por um mundo melhor das que são meros agentes de propaganda de uma ideologia ou de um Governo.

Mas o crivo, cujo relevo é decisivo, é o que filtra cuidadosamente os direitos humanos cuja defesa protagoniza, separando-os dos direitos humanos que por completo ignora. É um crivo perverso que marca, inapelavelmente, quem com ele se conformar.

Cada vez mais, uma verdadeira defesa dos direitos humanos não pode deixar na sombra o combate em prol de todos os direitos que estão inscritos na Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948. Pugnar por uns e esquecer os outros, é uma atitude que inquina , por completo, todos os resultados a que se chegar.

Congresso Mundial em Sevilha


No "Boletín Electrónico" nº 123 do Observatorio Español de la Economía Social, foi ontem publicada uma esclarecedora notícia sobre o 27º Congresso Internacional do CIRIEC que abaixo se transcreve. Na imagem , podem ver-se José Luis Monzón, presidente de CIRIEC-España; Antonio Romero, presidente de CEPES-Andalucía, y Manuel Chaves, presidente de la Junta de Andalucía, durante uma reunião realizada no passado mês de Junho. A notícia era encabeçada pelo sugestivo título:

El 27 Congreso Internacional del CIRIEC convierte a Sevilla en la capital mundial de la economía social

" Por fin ha llegado. A partir del próximo lunes, 22 de septiembre, y durante tres días, Sevilla se convierte en la capital mundial de la Economía Social y Cooperativa, con la celebración del 27º Congreso Internacional del CIRIEC, que bajo el lema “Innovación y Management: las respuestas a los grandes desafíos de las empresas de economía pública, social y cooperativa” prevé reunir en la capital andaluza a un millar de participantes de 40 países. Organizado por CIRIEC-España, con la colaboración de CEPES-Andalucía y el apoyo de la Junta de Andalucía, el número de congresistas confirmados convierte al encuentro de Sevilla en el mayor foro celebrado hasta la fecha en España y en el mundo sobre este importante sector de la economía. El Congreso, en el que CIRIEC ha trabajado más de dos años, prevé un gran acto inaugural, que contará con las intervenciones del presidente de la Junta de Andalucía, Manuel Chaves, y del alcalde de Sevilla, Alfredo Sánchez Monteseirín. Al acto inaugural le seguirá una conferencia del premio Nobel de Economía Joseph Stiglitz, participante destacado en el Congreso del CIRIEC, que pronunciará una conferencia sobre Innovación y Management. En un momento de enorme trascendencia para la economía internacional, la conferencia de Stiglitz cobra un interés aún mayor, a pesar de las elevadas expectativas anteriormente creadas. Según ha podido saber este Observatorio, Stiglitz hará hincapié en el fracaso del fundamentalismo de mercado neoliberal, más presente que nunca por las quiebras y los rescates de grandes bancos y aseguradoras acontecidos en los últimos días, y en la necesidad de fomentar una economía "plural y equilibrada", en la que el cooperativismo y la economía social desempeñan un papel esencial. Tras la conferencia de Stiglitz, el Programa Científico del Congreso incluye 4 talleres temáticos, que se prolongarán entre el lunes 22 por la tarde y el martes día 23. Los talleres se dividirán en mesas redondas donde, por un lado, especialistas de la economía pública y, por otro lado, de la economía social y cooperativa, tratarán temas de innovación empresarial, desarrollo sostenible y prestación de servicios sociales.El objetivo general de las diferentes sesiones del 27 Congreso será exponer la forma en la que las empresas de economía pública, social y cooperativa responden a los desafíos de competitividad y adaptación a las nuevas demandas de la ciudadanía mediante estrategias de innovación y gestión del cambio. Excepcional punto de encuentroDesde 1953, los Congresos internacionales de Economía Pública, Social y Cooperativa se celebran cada dos años en diferentes ciudades de Europa y América, y constituyen un excepcional punto de encuentro para congresistas de todo el mundo, que participan en sus debates de mayor actualidad empresarial y científica. Desde el año 2000 se han celebrado congresos en Montreal, Nápoles, Lyon y Estambul.No es casualidad que Andalucía haya sido escogida sede del considerado principal foro internacional de la economía pública, social y cooperativa. En el Informe sobre La Economía Social en la Unión Europea, las experiencias empresariales de la economía social andaluza y su modelo de relaciones con la universidad y los poderes públicos se citan elogiosamente y de forma destacada como ejemplo de "buenas prácticas".A partir del lunes se celebra en el Centro de Convenciones del Hotel Renacimiento en Sevilla. La contribución de las empresas de economía pública, social y cooperativa a los distintos aspectos de la innovación -innovación en los productos, en los mercados, en los procesos e innovación social-, así como sus implicaciones en el ámbito de la gestión, serán el objetivo de las diferentes sesiones del congreso."

Deus e os mercados


No Destak de ontem (19/9/08), foi publicada a crónica que, de seguida, transcrevo, com o devido consentimento do seu autor, J. L. Pio Abreu.



Deus e os mercados

Muitas pessoas que acreditam firmemente em Deus, também fazem profissão de fé nos mercados. Às vezes dá jeito que uma entidade exterior regule harmoniosamente a nossa vida, dispensando-nos de fazer um esforço por isso. Também é certo que o movimento da humanidade é ascendente: somos hoje muitos, mas existe mais justiça do que no tempo dos bárbaros e maior comodidade do que a do homem das cavernas. A explicação é que varia: será por causa de Deus, dos mercados, ou da maximização democrática da inteligência e esforço humanos?

Às vezes acontecem coisas que fazem duvidar de Deus, sobretudo quando a maldade impune ou a desgraça gratuita nos batem à porta. Mas os crentes têm uma resposta: foi Deus que nos quis pôr à prova, foi castigo de culpa escondida ou aviso para uma penitência devida. Os Lentes de Coimbra interpretaram deste modo o terramoto de 1755, fazendo com que a prova que contraria a crença metafísica fosse tomada em seu favor.

Agora que os mercados estão a ruir como um castelo de cartas, o que dirão os seus prosélitos? Afinal, foram eles que durante muito tempo nos atazanaram com as consequências da sua fé: que devíamos privatizar a segurança social, a saúde, tudo aquilo que é pago pelos impostos e talvez mesmo o próprio Estado. O que dirão eles agora? Vão dizer que são ineficiências passageiras, a culpa da ganância excessiva ou uma provação necessária à excelsa regulação definitiva. Mas porque é que não se lembram de dizer que foi um castigo de Deus para quem acredita piamente nos mercados?

J. L. Pio Abreu

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A estranha morte do Senhor Neoliberal

O Senhor Neoliberal morreu. Teve uma indigestão de bancos pré-falidos, de companhias de seguros desesperadas, de secretos de mercado negro e de negócios infelizes.

Ao longo da sua cintilante existência, o Senhor Neoliberal foi sempre considerado um produtivo empresário de sucesso. Os seus muitos admiradores sempre garantiram que ele era um pujante gerador de resplandecente riqueza, que ele era o elixir de uma longa e próspera vida, para qualquer sociedade; e, principalmente, que era um sujeito eterno.

Por isso, os seus cortesãos mais chegados, fossem eles dirigentes do Bando Mundial, da Reserva Americana, do Banco Central Europeu, do FMI, da OCDE; fossem eles Ministros das Finanças de um qualquer governo bem comportado, ou científicos patrões da Escola de Chicago, nem queriam acreditar que ele pudesse ter morrido; para mais vitimado por tão indignas doenças.

Houve mesmo um destacado Comissário Europeu, apesar de suspeito de uma leve e rara sensibilidade a alguns vagos perfumes de esquerda, que alegou, timidamente, que o Senhor Neoliberal não tinha morrido, apenas não pensava, não respirava, não se mexia, não falava, não via, não ouvia, não tinha sensibilidade ao tacto e não se lhe sentia o coração. Fora isso, estava bem vivo.

Consta, também, que alguns responsáveis políticos de uma certa esquerda mansa, pelo menos suficientemente mansa para poder reivindicar-se como moderna, ficaram deveras surpresos com um passamento, que, sinceramente, julgavam cientificamente impossível.

É, à luz de tudo isto, que se pode compreender a discreta brisa de esperança que veio animar os desamparados cortesãos do defunto, tendendo a dar força à tese do Comissário : o Senhor Neoliberal não morreu. É certo que não pensa, não fala, não vê, não ouve, não respira, mas nem por isso deixa de estar vivo e bem vivo.

E, se não morreu, não pode ser enterrado: nem cremações, nem funerais.

Mas se não for enterrado, nem a fé dos seus sequazes, que o olham como vivo, pode garantir que se não corra o risco (inexplicável, é certo) de vir a exalar um cheiro pestilento.

Por isso, se pediu a um Prémio Nobel da Escola de Chicago que fizesse compreender aos cortesão mais fiéis do Senhor Neoliberal, que, pelo menos, o deviam empalhar, mumificando-o como se fosse um faraó do antigo Egipto. E assim fizeram.

Por isso, desde hoje, às 17 horas e 15 minutos, hora de Lisboa. O Senhor Neoliberal está sentado a uma ampla secretária, colocada na sede do Banco Central Europeu, onde ficará durante quinze dias.

Depois, passará uma temporada no FMI, outra no Banco Mundial, outra na Reserva Federal Americana, esperando-se um convite da Escola de Chicago. Não está prevista uma temporada na Casa Branca, por receio de que o presidente Bush diga algo de inconveniente.

Assim, o que parecia uma morte trágica converteu-se numa quietude tranquila. A múmia silenciosa do Senhor Neoliberal orienta agora, judiciosamente, com o seu silêncio, os seus esforçados seguidores.

E apesar de tudo, mesmo eu, que sou pessimista, não estando totalmente convencido da utilidade do empalhamento mumificador, reconheço que o maior perigo está no risco de o irrequieto Zézinho, neto de um porteiro do Banco Central Europeu, poder escapulir-se até à sala do trono e aí, atrevidamente, gritar:

-Ó Avô, por que é que não enterram o velho ?

O capital, o trabalho e a vida


Ficámos a saber, pelo Diário de Notícias de ontem, que os TSD tomaram uma posição crítica quanto ao “Código Laboral”, tendo chegado ao ponto de afirmarem que se estava perante uma “revisão neoliberal”. Acrescentaram ainda que ela “não é globalmente favorável aos trabalhadores e desequilibra as relações laborais”, tendo sublinhado o secretariado dos TSD que "não será pela revisão das leis do trabalho, pela política de baixos salários e pela fragilização do princípio da conciliação da vida profissional com a vida familiar - como pode resultar da flexibilização da organização dos tempos de trabalho, seja através da adaptabilidade, seja através dos bancos de horas e horários concentrados - que a economia portuguesa irá conseguir convergir com as economias mais avançadas da UE". E concluíram sustentando que "os direitos laborais, os direitos sociais, numa sociedade participada como a que defendemos, não podem ser invocados como um obstáculo à produtividade e à competitividade da nossa economia".

Podíamos reagir a esta notícia com um simples alerta para a incongruência de se ver um partido completamente fiel ao essencial da cartilha neoliberal, proclamar, através da sua estrutura laboral, um tão ácido repúdio de um pressuposto da sua própria identidade. Mas a política é comparável a um complexo jogo de xadrez, correndo um enorme risco quem a percorrer como se fosse uma planície sem surpresas.

Por isso, os socialistas serão imprudentes se deixarem passar este facto como um simples episódio do teatro político. Pelo contrário, devem avaliá-lo cuidadosamente como um sintoma. Todos, ministros, deputados, militantes, revelarão grande lucidez, se repensarem, individual e colectivamente, toda esta problemática, transcendendo a conjuntura, para percorrerem com cautela o médio prazo.

Pela minha parte, não estou convencido do acerto de todas as soluções encontradas que não tenham respeitado as posições assumidas, na legislatura anterior, pelo PS, não compreendendo que, sobre matérias estruturantes da sua identidade, o PS não tenha uma linha de orientação que não mude ao sabor da conjuntura.

Mas mesmo que tudo o que está a ser feito, neste campo, seja certo, não há dúvida que o PS não foi, neste caso, politicamente capaz de conquistar o apoio de uma grande parte dos trabalhadores portugueses. Mais fácil lhe foi conseguir o aplauso de uma parte dos grandes patrões, o que, não sendo trágico, não pode deixar de causar alguma perplexidade.

Na verdade, o PS permitiu que se instalasse, numa grande parte dos trabalhadores portugueses, a convicção de que as alterações ao Código de Trabalho lesam profundamente os seus interesses. Ora, o PS não pode correr o risco de se separar do povo de esquerda, sob pena de, a curto prazo, entrar num território político de alto risco, onde a sua hegemonia política no seio da esquerda pode ser posta em causa.

E, talvez, esse mal-estar do povo de esquerda tenha as suas raízes em duas limitações de fundo da política do actual governo: 1º não inverteu a tendência de subalternização do trabalho em face do capital; 2º não teve, na prática, em conta a ideia de que os sacrifícios dos sacrificados só são suportáveis se for construída uma esperança verosímil de que estamos verdadeiramente a construir uma sociedade sem desigualdades sociais.

Eu não duvido das boas intenções do actual Governo quanto às leis do Trabalho, mas é impossível não ver como é profunda e autêntica a angústia dos trabalhadores, pelos prejuízos que acham que elas lhes vão trazer. E tenho uma certeza: o divórcio entre o PS e os trabalhadores portugueses é um grave problema para ambos.

Será possível desatar estes e outros nós, sob a atmosfera asfixiante do actual paradigma capitalista dominante ?

O desmoronamento do edifício neoliberal, a que estamos a assistir, não será suficiente para se perceber que a humanidade dificilmente sobreviverá se continuar a ser guiada pela lógica predatória do capital, à custa do esmagamento da dignidade do trabalho, com desprezo pela viabilidade ecológica da vida na terra?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Um eclipse do Norte


São, às vezes, os aspectos implícitos dos acontecimentos políticos que mais significado têm. Um bom exemplo disso foi dado pela recente cimeira de Presidentes sul-americanos, a propósito do que se passa na Bolívia.

Independentemente de terem manifestado apoio sem reservas ao poder democrático de Evo Morales, embora sem renunciarem a um papel pacificador, sempre em conjugação com o Presidente boliviano, um facto objectivo e incontornável foi a ausência dos USA.

Como vai longe o tempo dos regimes-capacho do vizinho do Norte!
Aliás, significativamente, o Embaixador dos USA foi expulso pelo Governo Boliviano, com a alegação que ele impulsionou os rebeldes amotinados. Aliás, foi patética a sua reacção, quando afirmou que terem-no expulsado ia prejudicar o combate ao tráfico de droga. De facto, ficou assim bem claro que, para o "bushismo", esse combate é principalmente uma cortina, que procura esconder ou disfarçar um intervencionismo político, cada vez menos popular entre os seus alvos.

Em conclusão, os Estados sul-americanos juntaram-se, para resolver uma questão de guerra e paz apenas entre si, respeitando um quadro democrático e ouvindo-se uns aos outros, alheados da tutela do "grande irmão" do Norte. Não partilhavam, de início, uma posição única, mas souberam encontrá-la.
Eis um efeito colateral da progressiva viragem à esquerda que tem vindo a ocorrer na América do Sul, na última década. Uma viragem porventura encorajada pela grande "habilidade" política dos "muchachos" do Sr. Bush.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Um pouco do que se não diz sobre a Bolívia


Imaginem, por um breve instante, o alarido do "ocidente” e da “comunidade internacional”, se um presidente de Direita, que tivesse acabado de ser confirmado por 67% dos votos, visse o seu poder democrático contestado por líderes regionais de esquerda que, minoritários no país, afrontassem a sua autoridade democrática nas regiões em que fossem maioritários. Certamente, a matilha dos comentadores encartados de política internacional inundaria os meios de comunicação social com uma implacável vozearia, ne defesa da “verdadeira” democracia. Mas como se trata de um Presidente de esquerda, ainda por cima não reverente para com os senhores do mundo, e como os seus aversários são de uma direita bem retinta, o complexo mediático-liberal vai deixando escorrer umas mansas notícias tão favoráveis quanto possível aos arruaceiros e tão desfavorável quanto imprescindível ao poder democrático legítimo. No seu remanso, hegemonizado pelo Partido Popular Europeu, a União Europeia vai estndo distraída. Enfim, a hábil desinformação assistida do costume.

Entretanto, na excelente revista brasileira de grande circulação CartaCapital,
Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa escreveu, há poucos dias, um pequeno texto sobre a conjuntura boliviana. É um texto simples. Mas, na sua escassa dúzia de linhas, contém um conjunto de dados que estranhamente tem escapado ao complexo mediático dominante, nas suas subtis notícias sobre a Bolívia. Eis o texto:

“O pretexto é a disputa pelas rendas de gás e petróleo. O governo de Evo Morales criou a “Renda Dignidade”, uma bolsa para todos os maiores de 60 anos, no valor de 26 dólares mensais (20 para os que já têm uma aposentadoria), financiada por 30% do imposto sobre o petróleo, tomados tanto do governo nacional quanto dos departamentos e municípios. Os recursos dos departamentos não diminuíram em termos absolutos, pelo contrário: graças às nacionalizações de Evo Morales, o bolo mais que quintuplicou, de 287 milhões em 2004 para 1,57 bilhão de dólares em 2007. Apesar da distribuição entre departamentos ter sido alterada em favor dos departamentos não petroleiros, a fatia de Santa Cruz, em particular, quadruplicou de 29 milhões para 118 milhões de dólares e a de Tarija, de 66 milhões para 237 milhões: mesmo descontando-se os 30% – parte dos quais, naturalmente, voltam para os idosos do departamento – ainda tiveram crescimentos de 185% e 152%, respectivamente, em sua renda petrolífera. O valor disputado representa 6% do orçamento dos departamentos. Ainda assim, há meses os prefectos da chamada “Meia-Lua” promovem protestos e “greves de fome” contra o “assalto” a seus cofres – e, depois de uma escalada de atos de desacato e insubordinação ao governo de La Paz e de ameaças físicas a Evo Morales, os oposicionistas passaram à guerra aberta contra o Estado boliviano na terça-feira, 9 de setembro de 2008, dois dias antes do 35º aniversário do golpe militar urdido contra Salvador Allende com a cooperação dos Estados Unidos. Na opinião de Evo Morales, as analogias vão além da proximidade de datas. No dia seguinte, ele expulsou o embaixador estadunidense em La Paz. Philip Goldberg, que se reunira quinze dias antes, a portas fechadas, com o prefecto Rúben Costas, de Santa Cruz, representou os EUA na Bósnia de 1994 a 2000 e no Kosovo de 2004 a 2006. Em 2007, posou para uma foto com um líder paramilitar colombiano. Segundo Evo, teria incentivado o desmembramento da ex-Iugoslávia nas duas ocasiões e sua missão seria repetir a dose na América do Sul com a ajuda de Costas e Branco Marinkovic, líder do movimento “cívico” de Santa Cruz, que, no dia 8, desembarcava de uma viagem aos EUA e, como grande parte da elite industrial crucenha, descende de croatas que fugiram para a Bolívia após a derrota do fascismo.”

domingo, 14 de setembro de 2008

Chomsky, os neoconservadores e a Geórgia.


No diário mexicano "La Jornada", foi publicado hoje um texto da autoria do escritor e intelectual norte-americano Noam Chomsky que abordava criticamente a posição da actual administração americana na questão russo-georgiana.
Numa conjuntura em que a vulgata mediática, o "establishement" diplomático e os representantes oficiais dos USA e da União Europeia semeiam sobre o tema um discurso quase infantil, de demonização da posição russa e de angelização dos georgianos e seus aliados, é saudável conhecer uma posição desapaixonada de um prestigiado intelectual americano. De facto, Noam Chomsky (nascido em 7 de dezembro de 1928) além de professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) tem uma vasta obra , conhecida em todo o mundo.
Eis o texto em questão, ao qual foi atribuído o título de:

"Los neoconservadores y Georgia"

Horrorizado por las atrocidades que cometieron las fuerzas invasoras estadunidenses en las Filipinas, y por el vuelo retórico acerca de las nobles intenciones que acompañan de manera rutinaria los crímenes de Estado, Mark Twain admitió que estaba incapacitado para blandir la formidable arma de la sátira.
El objeto de su frustración era el famoso general Frederick Funston. “Ninguna sátira sobre Funston puede llegar a la perfección”, lamentó Twain, “pues Funston ocupa esa cumbre por su cuenta... (él es) la sátira encarnada”. La conjetura de Twain pareció repetirse en recientes semanas, durante la guerra entre Rusia, Georgia y Osetia del Sur.
George Bush, Condoleezza Rice y otros dignatarios invocaron de manera solemne la santidad de Naciones Unidas, y advirtieron que Rusia podría ser excluida de las instituciones internacionales, al “adoptar acciones en Georgia que contradicen” los principios de la ONU.
La integridad territorial y la soberanía de todas las naciones debe ser acatada de manera rigurosa, señalaron. Cuando aludían a “todas las naciones” excluían al parecer aquellas que Estados Unidos elige atacar: Irak, Serbia, tal vez Irán, y una larga, familiar, lista de otras.
El socio menor se unió al coro. El secretario de Relaciones Exteriores de Gran Bretaña, David Miliband, acusó a Rusia de comprometerse en “formas de diplomacia propias del siglo XIX”, al invadir un Estado soberano, algo que Gran Bretaña nunca haría en la actualidad.
Tales actos, añadió Miliband, “no son la forma en que las relaciones internacionales deben concretarse en el siglo XXI”. De esa manera, sumó su voz a la de Bush, quien dijo que la invasión de un “Estado soberano vecino... es inaceptable en el siglo XXI”.
El juego entre la sátira y la vida real se hace “inclusive más iluminador”, escribió Serge Halimi en Le Monde Diplomatique, “cuando para defender las fronteras de su país, el encantador y pro estadunidense (Mijail) Saakashvili repatria parte de los 2 mil soldados que había enviado a invadir Irak”, uno de los más grandes contingentes despachados a la nación árabe, aparte de los dos estados guerreros.
Prominentes analistas se unieron al coro. Fareed Zakaria aplaudió la observación de Bush de que la actitud de Rusia es inaceptable en la actualidad, a diferencia del siglo XIX, “cuando la intervención de Rusia hubiera sido considerada un procedimiento normal para una gran potencia”. Por tanto, debemos desarrollar una estrategia para que Rusia “ingrese al mundo civilizado”, donde la intervención es impensable.
Siete de los miembros del Grupo de los Ocho, las principales potencias industriales del mundo, emitieron un comunicado “condenando la acción de nuestro miembro del G-8”, Rusia, pues aún no entiende el compromiso angloestadunidense de no intervención. La Unión Europea realizó una reunión de emergencia, algo bastante infrecuente, para condenar el crimen de Rusia. Fue la primera reunión de ese tipo desde la invasión de Irak, que por cierto no generó condena alguna de la UE.
Rusia pidió una sesión de emergencia del Consejo de Seguridad de la ONU, pero no se llegó a consenso alguno pues, de acuerdo con los diplomáticos del consejo, Estados Unidos, Gran Bretaña y otros rechazaron una frase que pedía a ambas partes “renunciar al uso de la fuerza”.
Las reacciones recuerdan las observaciones de George Orwell sobre “la indiferencia ante la realidad que exhibe un nacionalista”, quien “lejos de desaprobar las atrocidades cometidas por su propio bando... tiene una notable capacidad para no escuchar nada acerca de ellas”.
La básica historia no está seriamente en disputa. Osetia del Sur y Abjasia (que tienen puertos en el mar Negro) fueron asignadas por José Stalin a su nativa Georgia. (Ahora, los dirigentes occidentales señalan con firmeza que las órdenes de Stalin deben ser respetadas).
Las provincias disfrutaron de cierta autonomía hasta el colapso de la Unión Soviética. En 1990, el ultranacionalista presidente de Georgia, Zviad Gamsakhurdia, abolió las regiones autónomas e invadió Osetia del Sur. La guerra que siguió dejó mil muertos y decenas de miles de refugiados.
Una pequeña fuerza rusa supervisó una tregua prolongada, difícil, que fue rota el 7 de agosto cuando el presidente georgiano Saakashvili ordenó a sus fuerzas invadir.
De acuerdo con “gran cantidad de testigos”, informó The New York Times, el ejército de Georgia comenzó a “bombardear sectores civiles de la ciudad de Tsjinvali, así como la base de las fuerzas de paz de Rusia, usando artillería pesada y cohetes”.
La predecible respuesta de Rusia fue desalojar a las fuerzas georgianas del sur de Osetia. Rusia procedió a continuación a conquistar partes de Georgia, y luego se retiró parcialmente a las cercanías de Osetia del Sur. Hubo muchas bajas y atrocidades. Tal como es normal, los inocentes sufrieron mucho.
Como telón de fondo de la tragedia en el Caúcaso hay dos asuntos cruciales. Uno es el control del gas natural y de los oleoductos desde Azerbaiyán hasta Occidente.
Georgia fue elegida por Bill Clinton para circunvalar a Rusia y a Irán, también fuertemente militarizada para ese propósito. Por lo tanto, Georgia representa “un valor estratégico muy grande para nosotros”, observa Zbigniew Brzezinski.
Es de notar que los analistas se están poniendo menos reticentes para explicar los reales motivos de Estados Unidos en la región, a medida que los pretextos de sombrías amenazas y de liberación se desvanecen y se hace más difícil eludir las demandas para que retire sus tropas de ocupación de Irak. Es por eso que los editores de The Washington Post criticaron a Barack Obama por considerar Afganistán “el frente central” para Estados Unidos. El periódico recordó que Irak “se halla en el centro geopolítico de Medio Oriente y contiene algunas de las reservas de petróleo más grandes del mundo”, y que la “importancia estratégica de Afganistán empalidece con relación a Irak”. Una bienvenida, aunque tardía, admisión de la realidad de la invasión estadunidense.
El segundo tema de división en el Cáucaso es la expansión de la Organización del Tratado del Atlántico Norte en dirección al este. Cuando la Unión Soviética se derrumbó, Mijail Gorbachov aceptó una concesión que resulta asombrosa a la luz de la historia reciente y de las realidades estratégicas: aceptó que una Alemania unida se uniera a una alianza militar hostil.
Gorbachov aceptó la concesión sobre la base de “garantías” de que la OTAN no ampliaría su jurisdicción hacia el este, “ni una sola pulgada” en las exactas palabras (del entonces secretario de Estado) Jim Baker, de acuerdo con Jack Matlock, embajador de Estados Unidos en Rusia en los cruciales años de 1987 a 1991.
Clinton rápidamente abjuró de ese compromiso, y también desechó los esfuerzos de Gorbachov para poner fin a la guerra fría mediante una cooperación entre los socios. Y la OTAN rechazó una propuesta rusa para una zona libre de armas nucleares entre el Ártico y el mar Negro, que podría haber “interferido con planes para ampliar la OTAN”, según Michael McGwire, un analista de estrategia y quien trabajó en la OTAN en tareas de planificación.
Las esperanzas de Gorbachov fueron abandonadas ante el triunfalismo estadunidense.
Los pasos de Clinton fueron rápidamente escalados por la agresiva postura y las acciones de Bush. Matlock escribe que Rusia podría haber tolerado la incorporación de ex satélites de Rusia en la OTAN si Estados Unidos “no hubiera bombardeado Serbia y hubiera continuado su expansión. Pero, en definitivas cuentas, misiles balísticos en Polonia y la intención de que Georgia y Ucrania se unieran a la OTAN, cruzaron las líneas rojas. Y la insistencia en reconocer la independencia de Kosovo fue el colmo. Putin ha aprendido que las concesiones a Estados Unidos no resultaban recíprocas, sino que eran utilizadas para promover el control de Estados Unidos sobre el mundo. Una vez que tuvo la fuerza de resistir, lo hizo”, en Georgia.
Se habla mucho sobre una “nueva guerra fría” instigada por la brutal conducta de Rusia en Georgia. Hay motivos para alarmarse por contingentes navales de Estados Unidos en el mar Negro –algo homólogo en el Golfo de México difícilmente sería tolerado– y por otras señales de confrontación. Las recientes visitas del vicepresidente Dick Cheney a Georgia y Ucrania son temerariamente provocadoras.
De todas maneras, parece muy difícil que exista una nueva guerra fría. Para evaluar la posibilidad, debemos tener en cuenta con claridad la vieja guerra fría. Más allá de la retórica, la guerra fría fue en la práctica un pacto tácito en el cual cada uno de los rivales tenía libertad para apelar a la violencia y a la subversión a fin de controlar sus dominios. Para Rusia, eran sus vecinos orientales. Para la superpotencia global, la mayor parte del mundo.
Una alternativa sensata es la visión de Gorbachov rechazada por Clinton y socavada por Bush. Un consejo sensato fue ofrecido hace poco por el ex ministro de Relaciones Exteriores de Israel e historiador Shlomo Ben Ami. En un artículo escrito en la prensa libanesa, Ben Ami dijo que “Rusia debe buscar una genuina asociación estratégica con Estados Unidos, y Estados Unidos debe entender que, cuando Rusia es excluida y despreciada, puede arruinar las cosas a escala global. Ignorada y humillada por Estados Unidos desde que concluyó la guerra fría, Rusia necesita incorporarse a un nuevo orden global que respete sus intereses como una potencia que resurge, no con una estrategia antioccidental de confrontación”.

Margem Esquerda - reunião nacional


Ontem, dia 13 de Setembro, decorreu no Porto, uma reunião nacional do clube político Margem Esquerda. Estiveram presentes membros do clube oriundos dos distritos de Braga, Porto, Coimbra, Lisboa, Setúbal e Beja. Na reunião, prosseguiu o debate sobre o conteúdo de possíveis moções a apresentar ao próximo Congresso Nacional do PS, tendo sido central a discussão em torno de uma Moção de Orientação Política Geral.

Neste campo, o debate incidiu especialmente sobre os pressupostos que devem ser garantidos e as principais normas a que devem obedecer as eleições primárias para escolha dos candidatos a apresentar pelo PS nas eleições autárquicas, legislativas, europeias e presidenciais.

Foi constituída uma comissão de redacção da Moção de Orientação Geral, constituída por cinco dos presentes, tendo-se apontado o início de Novembro como data desejável para uma primeira apreciação, em reunião geral do clube, de um primeiro projecto.

Foram distribuídos, e brevemente apresentados, novos textos preparatórios de moções sectoriais, sobre regionalização e educação.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Da Nicarágua para o Mundo




No prestigiado diário espanhol “EL PAÍS”, foi hoje publicada uma entrevista a MIGUEL D’ESCOTO, Presidente eleito da Assembleia General das Nações Unidas . A entrevista, da responsabilidade de Sandro Pozzi era encabeçada por um título muito significativo : "La ONU es la última esperanza".

O sacerdote católico Miguel D'Escoto foi Ministro do Exterior no primeiro Governo da Nicarágua, liderado por Daniel Ortega logo após o triunfo sandinista de 1979. Aos 75 anos, vai presidir à 63ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas. Como nos informa o jornalista, nos bastidores da ONU, há quem o considere o Mandela da América Latina, quer pela trajectória da sua vida, quer pela energia que põe na defesa dos valores em que se radica a organização a cuja Assembleia vai presidir.



Eis a referida entrevista que com a devida vénia aqui se transcreve:



Pregunta. Se dice que viene a dispuesto a dar la batalla.

Respuesta. El mundo está pasando por una crisis realmente inmoral, y no puede aguantar por mucho tiempo. Nuestras prioridades están patas arriba, claramente confundidas. Por eso hay que dejar atrás las lamentaciones y los discursos, y ponernos manos a la obra para cambiar esta situación. Más de la mitad de la humanidad pasa hambre, mientras se gastan billones de dólares en guerras. Y no se necesita ser histérico para decir que la especie humana corre el peligro de su propia extinción, o que la tierra no tiene capacidad para sostenerse. El hambre, la pobreza, el problema de acceso al agua, la carrera armamentística, la lucha contra el terrorismo y la violación de los derechos humanos... todos tienen una naturaleza transversal y comparten una misma causa remota: la falta de democracia en esta casa.

P. En la ONU creen que éste es el organismo internacional más democrático del planeta.

R. Sí, y me recuerdan lo del principio de "un Estado un voto". ¿Pero de qué sirve un voto si no se toma en cuenta? Ahí ya no me contestan. La mayoría está de acuerdo en que hay que poner la institución a la altura de los retos del momento, para que pueda afrontarlos con eficacia.

P. ¿Eso pasa por reforzar el papel de la Asamblea General?

R. Sí, se trata de restituir el poder perdido y dinamizarla. Es inaceptable que las resoluciones de la Asamblea, constituida por los representantes de los pueblos, no tengan más que el valor de una mera recomendación y se ignoren totalmente. La gente en la calle se pregunta con razón para qué sirve la institución. La ONU es potencialmente la organización más importante del mundo, la única que puede rescatar al planeta del pantano de egoísmo demencial que nos encontramos y encarrilarnos en la construcción de otro mejor.

P. Que la figura del secretario general esté tan devaluada, ¿le favorece en su tarea?
R. El problema es el manoseo histórico de una gran potencia respecto a ese cargo. Está demasiado vulgarizado, y cuando el designado trata de independizarse, les cae encima. Es lamentable, y hay ejemplos concretos, como el de Butros Ghali. El presidente de la Asamblea General es más independiente, pero también depende de la agenda con la que uno viene a Nueva York. Si se piensa que es un peldaño para escalar, es una equivocación. Lo que intento yo es encontrar la potencialidad de lo que se puede hacer en un plazo tan corto, porque un año pasa volando.

P. ¿Cómo va a enfocar la cuestión de la reforma del Consejo de Seguridad, que lleva años empantanada?

R. Las propuestas de países y grupos giran en torno a lograr un equilibrio en la representación geográfica, y se discute si los nuevos miembros deberían ser permanentes o tener el privilegio del veto. La falta de representatividad es importante, y es un problema que hay que resolver. Pero no pone el dedo en la llaga. Lo más grave es que se ha convertido en un refugio para quienes sistemáticamente violan los principios de la Carta de Naciones Unidas con impunidad total. Si es el órgano de la ONU que pretende evitar las guerras y garantizar la estabilidad, ¿cómo es posible que se estén perpetuando las peores anomalías? Hay intentos claros de manipulación. Y la gente lo ve, pero no lo acepta ni lo entiende.

P. ¿El lenguaje diplomático no oculta entonces la realidad?

R. Sí, y es un problema muy serio, porque se usa como sinónimo de encubrimiento. No sólo no se llaman las cosas por su nombre, sino que se usan términos para describir situaciones para apaciguar las conciencias y hacernos pensar que no pasa nada. En la ONU hay además un principio que no está escrito y que se respeta, por el que nunca se debe decir nada que pueda incomodar a los poderosos. Es una norma que va hacia el fracaso.

P. ¿Cree que por eso el organismo pierde credibilidad?

R. La imagen de la ONU está en su peor momento, y es lamentable. Si no es la ONU, ¿quién va a sumir esta tarea de convocatoria, de reflexión y trabajo conjunto? La ONU es la última esperanza y no podemos permitirnos que su prestigio siga cayendo. Y además estamos en una situación en la que el prestigio de una nación muy importante en el mundo está más bajo que nunca en su historia. Es precisamente la incapacidad que la ONU tiene para llamar a ese país al orden lo que está haciendo que el prestigio del organismo se hunda.

P. ¿Cómo va a lidiar con ese país?

R. Como en el pasado: de una forma no violenta. Pero así como digo que no es correcto no llamar a las cosas por su nombre y actuar de una forma que no incomode, también creo que no es correcto pretender echarle la culpa a un país por la situación lamentable en la que se encuentra nuestro mundo. Todos sin excepción somos responsables. Claro que unos son más culpables que otros. Pero entrar en ese debate es una pérdida de tiempo. Lo que hay que hacer es trabajar juntos por un mundo más justo y solidario.

P. Su mandato coincide con el año de la reconciliación.

R. Sí. Y por eso tenemos que estar dispuestos a perdonar, aunque eso no obliga a olvidar. No hay que permitir que los tristes recuerdos se conviertan en obstáculos. Se necesita fuerza para ello. Y si no perdonamos, hemos optado por el odio y el rencor, que sólo conducen a la muerte.

P. ¿Cree que el cambio de presidente en EE UU abrirá una nueva vía de relación entre Washington y la ONU?

R. No abandono la esperanza en la humanidad, y por lo tanto en ningún país. Si todos nos empeñamos en esta institución, creo que volveremos a la sensatez y nos encarrilaremos en la construcción del mundo que anhelamos. Querer un objetivo debe significar utilizar todos los medios a disposición para lograrlo. Ésa es la diferencia entre la veleidad y el deseo.
P. Por lo que dice, parece que quiere centrarse más en el espíritu que en la letra de la Carta.

R. El espíritu tiene supremacía sobre la letra. La letra en ciertas circunstancias mata, mientras que el espíritu libera.

P. ¿Y el hecho de que sea cura no le crea recelos?

R. Lo que veo es que me ayuda mucho. Alguien muy próximo en la ONU me hizo notar que la gente se me acerca mucho, que se abre a mí. Y yo lo siento así: el respaldo, la generosidad y la concordancia. Soy una persona fácil. Se necesita hablar con franqueza y de corazón a corazón.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O gume das palavras


O diário francês "Le Monde" incluia, hoje, um pequeno texto do pensador belga Raul Vaneigem. Sendo uma das referências intelectuais do "Internacional Situacionismo", por discutível que seja, não deixa de ser estimulante. O texto que se segue tem alguma brutalidade, mas será imprudente não o lermos com atenção. Intitulando-se, "Retour toujours à Raoul Vaneigem" , eis os termos em que se desenrola:

« La colère ne suffit pas, ni les manifestations de rue. Croyez-vous impressionner les pouvoirs étatiques et patronaux, qui nous bourrent le mou avec leurs discours sur la dette publique, les ukases du FMI, la croissance économique et les impératifs budgétaires, en faisant retentir sous leurs fenêtres vos imprécations et vos doléances ? Pendant combien d’années encore allez-vous vous résoudre à ne rien entreprendre par vous-mêmes et à vous défouler en hurlant, avec les meilleures raisons du monde :« Gestionnaires de faillites, tripoteurs des deniers publics, commis voyageurs des trusts multinationaux, fanatiques de l’argent à tout prix, imprésarios politiques en quête d’une clientèle imbécile subjuguée par la peur et le dégoût, vous vous moquez de laisser à nos enfants une terre arasée de sa faune et de sa flore, stérilisée par les engrais et leurs substitus génétiques, polluée par les mafias nucléaires et pétrochimiques.Vous avez livré le secteur public au secteur privé, dont le seul souci est d’engranger des bénéfices. La privatisation précipite le délabrement d’entreprises et de services qui n’appartiennent pas à l’Etat mais aux citoyens. Ceux-ci les ont payés de leurs impôts. En les soldant aux requins de l’affairisme, vous tombez, comme de vulgaires malfaiteurs, sous le coup de l’abus de confiance et du détournement de fonds.Sermonneurs hypocrites, comment osez-vous sans vergogne prêcher les vertus du travail alors que vous liquidez des secteurs entiers de la métallurgie, du textile, de la construction, et que vous mettez en faillite les petites entreprises d’utilité publique ? Comment avez-vous le front de prôner une politique de l’emploi alors que vous condamnez au chômage des milliers de familles sur les instances des multinationales qui jugent plus rentable d’investir en bourse que dans les secteurs prioritaires ? »

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Um juiz e os desaparecidos


Pelo Diário de Notícias de hoje soube que : "O juiz Baltasar Garzón limitou-se a pedir informações, mas acabou por gerar uma polémica sem precedentes em Espanha. Tudo porque o que o magistrado da Audiência Nacional quer saber é onde estão os milhares de desaparecidos da Guerra Civil e do franquismo, de forma a decidir sobre a abertura de um eventual inquérito".

É certo que mais abaixo se informa que: " Foi graças a uma petição feita por dez destas associações de vítimas e familiares que o juiz Baltasar Garzón tomou a decisão de pedir o inventário dos desaparecidos."


De qualquer modo, perde assim força a incongruência do comportamento do referido juiz, quando, por mais do que uma vez, procurou levar aos tribunais os crimes de algumas ditaduras estrangeiras ( como, por exemplo, as da Argentina e do Chile), mas manteve silêncio quanto aos crimes do franquismo.

Acordou tarde, está ainda apenas a espregeuiçar-se, teve que ser abanado pelas associações de vítimas do franquismo, mas já acordou.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Misteriosa gravidez, quiçá, internacional


No diário espanhol Público de hoje, anuncia-se um vigoroso desmentido, divulgado por Aznar, quanto a uma suposta responsabilidade directa pela gravidez de Rachida Dati uma das actuais ministras do Governo Francês. É o que se chama política (e da boa); e um indesmentível sintoma do entrelaçamento íntimo que tem vindo a aproximar alguns partidos das direitas europeias.

Só esperamos que os governos de direita europeus moderem um pouco o acirramento com que tantas vezes se apresentam como defensores públicos de um desvanecedor feixe de virtudes. É que parece mal receitarem com desvelo as máximas virtudes, para acabarem depois por sucumbir ás mais libidinosas e demoníacas tentações, sem que lhes passe sequer pela cabeça que talvez devessem compaginar o que fazem com o que dizem.

De facto, aí se anuncia um desmentido: "a la noticia publicada en el diario marroquí L'Observateur, en la que se le atribuye la paternidad del hijo que espera la ministra gala de origen argelino y marroquí. "

E no texto diz-se o seguinte: " El ex presidente del Gobierno José María Aznar ha dado orden a sus abogados para que estudien acciones legales contra quienes han afirmado que él es el padre del hijo que espera la ministra francesa de Justicia, Rachida Dati.
De esta forma, José María Aznar respondía a la noticia publicada en el diario marroquí, L'Observateur, en la que se le atribuye la paternidad del hijo que espera la ministra gala, Rachida Dati.
"Una total y completa falsedad"
En un comunicado remitido desde la oficina de prensa de FAES, la Fundación de la que es presidente, Aznar afirma que son una "total y completa falsedad" los "rumores aparecidos en algún medio de comunicación" en los que se le vincula con el embarazo de la ministra francesa.
El ex presidente afirma en ese mismo comunicado que ha dado instrucciones a sus abogados para que "de manera inmediata" estudien "emprender todas las acciones legales contra quienes han vertido tales falsedades o quienes se hagan eco de ellas".
La ministra de Justicia de Francia, soltera de origen argelino, ha confirmado hoy que está embarazada, pero no ha desvelado la identidad del padre".