1. Tomou recentemente posse o novo Presidente da Comissão Política Concelhia de Coimbra do PS.
Pensei que as semanas decorridas desde as eleições tivessem sido tempo de maturação de um rasgo, de um golpe de asa que permitisse abrir um tempo politicamente fecundo, gerador de uma esperança consistente de reconquistar a liderança municipal.
Ora, se os ecos da comunicação social não deixaram perder algo de importante, o que se passou na cerimónia foi trivial e previsível. Não foram ditas coisas erradas. Foram alinhados os lugares comuns do costume. Foi feita a vénia da praxe aos protagonistas anteriores. Foi dada a ferroada esperada nos adversários instituídos. Foi feita a piedosa reza para a almejada unidade e ribombou a determinação de uma vitória futura.
Tudo indica que previsíveis actores vão seguir com aplicação o roteiro do costume. Os episódios programados têm já o seu momento a esperá-los.
É certo que no incerto jogo da política as surpresas acontecem. E o que se julgaria perdido pode acabar por ser ganho. Por isso, um candidato previsível bem enraizado no bloco local de poder socialista, acolitado pelos seus segundos, terceiros e quartos, ungido pelas palavras circunspectas dos independentes de serviço, pode inesperadamente ver-se elevado ao poder municipal.
Pode acontecer. Mas não é provável que aconteça. Ora, o trabalho politico, que realmente o seja, não é seguramente uma cópia actualizada e rotineira de campanhas anteriores, como se o burocrático cumprimento de um roteiro bastasse para preencher com eficácia a agenda política de um combate autárquico difícil, confiando-se na sorte para que o inesperado aconteça.
É de facto uma imprudência temerária programar um trabalho político, contando-se com a feliz ocorrência do improvável. Todavia, fazendo-se fé neste início arrastado, o risco de que isso venha a ocorrer é grande.
2. De facto, o PS atravessa em Coimbra uma conjuntura difícil, tudo indicando que tal como aconteceu com as eleições para a concelhia, no plano distrital, as próximas eleições internas, sejam um episódio, mais ou menos colorido, que desembocará numa continuidade, mais ou menos ostensiva.
Por outro lado, Henrique Fernandes ganhou as eleições para a concelhia com uma diferença que não impediu Carlos Cidade de ficar bem acima dos 40%. Juntos não mobilizaram metade dos militantes inscritos. Por isso, mesmo que um pacto de cooperação juntasse realmente, sem reserva mental de qualquer das partes, os dois adversários, ainda ficaria de fora uma vasta fatia de militantes. E mesmo que se conseguisse o caminho para os despertar, será que desse modo se conseguiria chegar aos eleitores ?
Ou seja, uma candidatura autárquica do PS tem tudo a ganhar se conseguir ser vista pelos eleitores como uma realidade dotada de uma autonomia clara e objectiva em face do chamado aparelho do partido, do seu círculo restrito de poder; e tem pela frente uma exigente tarefa de recuperação de credibilidade perante um eleitorado que em parte fugiu ao PS. E a conjuntura nacional pode não ajudar, dado ser imprevisível em que pé estará o clima eleitoral nacional no momento das eleições.
Tem vindo a crescer dentro do PS a defesa de uma democratização da escolha dos candidatos a eleições, através de eleições primárias. Mais cedo ou mais tarde, será adoptada em todas as eleições, pelo menos, dentro do PS. Mas se os estatutos ainda hoje não impõem esse caminho, também não proíbem qualquer Comissão Política Concelhia de o pôr em prática.
E, na actual conjuntura, é o caminho com maiores virtualidades políticas, no caso de Coimbra, especialmente. Desde logo, é a maneira mais límpida e mais enérgica de gerar uma unidade na acção efectiva entre todos os militantes, projectando-a natural e virtuosamente nos simpatizantes e nos eleitores habituais.
Depois, é uma oportunidade de, no decurso das próprias eleições primárias se irem afirmando ideias e projectos que assim podem ir amadurecendo, de modo a chegarem robustos e convincentes à campanha eleitoral propriamente dita.
Por último, ficará assim objectivada inequivocamente a autonomia do candidato em face do aparelho, radicando-se a sua candidatura na vontade dos militantes e simpatizantes e não em qualquer limitado círculo de poder oligárquico.
Para completar, estar-se-á a dar um passo na senda de uma reforma do próprio Partido, abrindo caminho para paragens mais limpas e mais exaltantes. O candidato terá também o prestígio reflexo de ser a tradução de um pioneirismo, no quadro da evolução do modo de funcionamento de um partido.
Para que isto aconteça, é apenas necessário que a CPC fixe um conjunto de regras que garantam uma impecável atmosfera democrática no desenrolar das primárias, de modo a que os candidatos rivalizem apenas em ideias e projectos e se comprometam a aceitar o resultado e a apoiar sem reservas o vencedor. Tudo isto impregnado por uma vontade política de estimular a disputa entre candidatos e projectos críveis e em fazer dessa competição um exercício de democracia e de trabalho político sério e imaginativo.
Esse caminho não garantirá a vitória, mas torna-la-á de muito mais provável. O risco de uma candidatura independente oriunda de uma área próxima esbater-se-á, bem como o de a direcção do PS cair na tentação de impor um qualquer candidato, lançado de para-quedas à revelia dos socialistas de Coimbra.
Só um candidato fraco pode ter medo de se submeter a um processo como este. Mas um candidato fraco dificilmente ganha eleições.
Pensei que as semanas decorridas desde as eleições tivessem sido tempo de maturação de um rasgo, de um golpe de asa que permitisse abrir um tempo politicamente fecundo, gerador de uma esperança consistente de reconquistar a liderança municipal.
Ora, se os ecos da comunicação social não deixaram perder algo de importante, o que se passou na cerimónia foi trivial e previsível. Não foram ditas coisas erradas. Foram alinhados os lugares comuns do costume. Foi feita a vénia da praxe aos protagonistas anteriores. Foi dada a ferroada esperada nos adversários instituídos. Foi feita a piedosa reza para a almejada unidade e ribombou a determinação de uma vitória futura.
Tudo indica que previsíveis actores vão seguir com aplicação o roteiro do costume. Os episódios programados têm já o seu momento a esperá-los.
É certo que no incerto jogo da política as surpresas acontecem. E o que se julgaria perdido pode acabar por ser ganho. Por isso, um candidato previsível bem enraizado no bloco local de poder socialista, acolitado pelos seus segundos, terceiros e quartos, ungido pelas palavras circunspectas dos independentes de serviço, pode inesperadamente ver-se elevado ao poder municipal.
Pode acontecer. Mas não é provável que aconteça. Ora, o trabalho politico, que realmente o seja, não é seguramente uma cópia actualizada e rotineira de campanhas anteriores, como se o burocrático cumprimento de um roteiro bastasse para preencher com eficácia a agenda política de um combate autárquico difícil, confiando-se na sorte para que o inesperado aconteça.
É de facto uma imprudência temerária programar um trabalho político, contando-se com a feliz ocorrência do improvável. Todavia, fazendo-se fé neste início arrastado, o risco de que isso venha a ocorrer é grande.
2. De facto, o PS atravessa em Coimbra uma conjuntura difícil, tudo indicando que tal como aconteceu com as eleições para a concelhia, no plano distrital, as próximas eleições internas, sejam um episódio, mais ou menos colorido, que desembocará numa continuidade, mais ou menos ostensiva.
Por outro lado, Henrique Fernandes ganhou as eleições para a concelhia com uma diferença que não impediu Carlos Cidade de ficar bem acima dos 40%. Juntos não mobilizaram metade dos militantes inscritos. Por isso, mesmo que um pacto de cooperação juntasse realmente, sem reserva mental de qualquer das partes, os dois adversários, ainda ficaria de fora uma vasta fatia de militantes. E mesmo que se conseguisse o caminho para os despertar, será que desse modo se conseguiria chegar aos eleitores ?
Ou seja, uma candidatura autárquica do PS tem tudo a ganhar se conseguir ser vista pelos eleitores como uma realidade dotada de uma autonomia clara e objectiva em face do chamado aparelho do partido, do seu círculo restrito de poder; e tem pela frente uma exigente tarefa de recuperação de credibilidade perante um eleitorado que em parte fugiu ao PS. E a conjuntura nacional pode não ajudar, dado ser imprevisível em que pé estará o clima eleitoral nacional no momento das eleições.
Tem vindo a crescer dentro do PS a defesa de uma democratização da escolha dos candidatos a eleições, através de eleições primárias. Mais cedo ou mais tarde, será adoptada em todas as eleições, pelo menos, dentro do PS. Mas se os estatutos ainda hoje não impõem esse caminho, também não proíbem qualquer Comissão Política Concelhia de o pôr em prática.
E, na actual conjuntura, é o caminho com maiores virtualidades políticas, no caso de Coimbra, especialmente. Desde logo, é a maneira mais límpida e mais enérgica de gerar uma unidade na acção efectiva entre todos os militantes, projectando-a natural e virtuosamente nos simpatizantes e nos eleitores habituais.
Depois, é uma oportunidade de, no decurso das próprias eleições primárias se irem afirmando ideias e projectos que assim podem ir amadurecendo, de modo a chegarem robustos e convincentes à campanha eleitoral propriamente dita.
Por último, ficará assim objectivada inequivocamente a autonomia do candidato em face do aparelho, radicando-se a sua candidatura na vontade dos militantes e simpatizantes e não em qualquer limitado círculo de poder oligárquico.
Para completar, estar-se-á a dar um passo na senda de uma reforma do próprio Partido, abrindo caminho para paragens mais limpas e mais exaltantes. O candidato terá também o prestígio reflexo de ser a tradução de um pioneirismo, no quadro da evolução do modo de funcionamento de um partido.
Para que isto aconteça, é apenas necessário que a CPC fixe um conjunto de regras que garantam uma impecável atmosfera democrática no desenrolar das primárias, de modo a que os candidatos rivalizem apenas em ideias e projectos e se comprometam a aceitar o resultado e a apoiar sem reservas o vencedor. Tudo isto impregnado por uma vontade política de estimular a disputa entre candidatos e projectos críveis e em fazer dessa competição um exercício de democracia e de trabalho político sério e imaginativo.
Esse caminho não garantirá a vitória, mas torna-la-á de muito mais provável. O risco de uma candidatura independente oriunda de uma área próxima esbater-se-á, bem como o de a direcção do PS cair na tentação de impor um qualquer candidato, lançado de para-quedas à revelia dos socialistas de Coimbra.
Só um candidato fraco pode ter medo de se submeter a um processo como este. Mas um candidato fraco dificilmente ganha eleições.
7 comentários:
O PS está cada vez mais pacificado... É a paz do sepulcro. O perfume vem do Manuel Alegre, que continua a fazer da palavra uma espingarda. Pena que só o que se passa em Lisboa tenha dimensão nacional. É a sina dum país que é uma cidade ( reles cidade!) e mais
nada.
Diz Manuel Sando:
A luta política não se reduz a um concurso de tiros de pólvora seca.
Se a quisermos caracterizar através de uma metáfora, é mais apropriado compará-la com um jogo de xadrês.
Com uma particularidade: chega por vezes o tempo de disparar politicamente. Mas esses "tiros " políticos nunca devem ser de pólvora seca, sob pena de pouco mais serem do que uma comuchão mediática.
Diz Manuel Sando, repetindo a postagem anterior, com menos gralhas:
A luta política não se reduz a um concurso de tiros de pólvora seca.
Se a quisermos caracterizar através de uma metáfora, é mais apropriado compará-la com um jogo de xadrês.
Com uma particularidade: chega por vezes o tempo de disparar, politicamente. Mas esses "tiros" políticos nunca devem ser de pólvora seca, sob pena de pouco mais serem do que uma comichão mediática.
Com papas e bolos se enganam os tolos...
Lamento que a mansidão faça a bem-aventurança dos que olham um partido como se fosse a terra prometida onde corre leite e mel. Assim se busca a paz...Assim morreremos beatificados...
Cá por mim não estou interessado em nenhum paraíso...Prefiro a pólvora!
RN entra na coversa:
Como sou de compreensão lenta, pergunto:
O que têm a ver estes comentários com o texto que pretendem comentar ?
Embora não tenha nada a ver com isso,não entendo a posição de Manuel Alegre.
Quanto ao PS de Coimbra,entendo as preocupações de RN.
Por afinidade de ideias,seria o detentor do meu voto.
Há muito que deixou de ser.
As pessoas que aparecem nas listas,aquelas em que teria que votar,fazem-me pensar que eu "acredito" no partido errado.
Provocam-me objecção de consciência.
Como não tenho,nem participo em actividades partidárias também não me posso,"democraticamente",queixar!
O tal PS de Coimbra parece ter hibernado.
O LM não se candidata?
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