Em 15 de Fevereiro passado, foi publicado um interessante texto do reputado jornalista Giorgio Bocca, no semanário italiano “L’Espresso”, intitulado “Um novo socialismo”. Desse texto, sintético e incisivo, traduzi e transcevo a sua maior parte.
Neste tempo de mistificações e superficialidades, é bom lermos um texto que nos ajuda a pensar.
" O livre mercado está a caminho da autodestruição, porque no mundo actual já não há lugar para todos os desejos e para todos os abusos. Em seu lugar, o socialismo da sobrevivência conduzirá , esperamos, ao mercado possível.
Nos jornais e na televisão continua o elogio do livre mercado, isto é , de qualquer coisa que não existe, desmentido pela realidade. E enquanto se celebra a morte das ideologias, das utopias, das promessas enganosas, surge o coro de elogios ao “capitalismo natureza”, isto é, a corrida ao lucro como único prémio para os cidadãos trabalhadores e único freio para os preguiçosos e para os desonestos. A justificação repetida até à exaustão é o habitual é assim que somos ou é assim que todos fazem. Basta abrir os olhos e ver o que sucede no nosso país e no mundo para compreender que este livre mercado não é livre concorrência, mas uma luta de gigantes que dispõem de montanhas de biliões e do apoio de políticos no poder, não livre mercado, mas repartição entre os mais fortes.
E então porque enfeitá-lo com virtudes que não tem e esconder mesmo os seus defeitos mais macroscópicos? O livre mercado, na acepção de um mercado sem regras que pode levar ao fim do género humano, é a filosofia das enxurradas, dos terramotos: ser arrastado para a ruína universal continuando a dizer que se trata de um processo natural e benéfico.
O livre mercado como selecção dos melhores? Aquilo que acontece realmente em Itália é exactamente o contrário, a corrida ao lucro selecciona os piores: há províncias no nosso Sul, nas quais a classe dirigente, a burguesia que detém o poder nos serviços e nas indústrias, a que deveria combater as associações de malfeitores, torna-se Máfia, cria a nova sociedade de cabeça para baixo na qual são premiados os delinquentes e punidos os honestos.
Do livre mercado passa-se ao partido dos negócios, do Estado de direito ao Estado mafioso onde a comandar estão as associações dos vagabundos e dos ladrões. [ … … …]
Ás vezes tem-se a impressão de que se avizinha a catástrofe final. Os vergonhosos acontecimentos ocorridos em Nápoles, uma grande cidade afogada em lixo, porque vagabundos e ladrões para ganharem dinheiro não quiseram limpá-la, mostram, todavia o caminho para um socialismo novo, não mais utópico e romântico, não mais evangélico e filantrópico, mas de estado de necessidade. Um socialismo obrigatório que se imporá pela sobrevivência, porque o mundo tem limites, porque não há mais lugar para todos os desejos e todos os abusos.
O livre mercado caminha para a auto-destruição: se não tiveres o cuidado e remover o teu lixo, virás a encontrá-lo á porta de casa. O remédio dos ricos de passarem os seus lixos aos pobres já não é fácil e indolor.
No lugar do livre mercado, o socialismo da sobrevivência conduzirá , esperamos, ao mercado possível. Acabando com o mercado livre da autodestruição, dos esbanjamentos, dos furtos, para passar para um mercado razoável dos consumos compatíveis com os recursos, do bem-estar livre dos desperdícios e das competições insensatas.[…]"
" O livre mercado está a caminho da autodestruição, porque no mundo actual já não há lugar para todos os desejos e para todos os abusos. Em seu lugar, o socialismo da sobrevivência conduzirá , esperamos, ao mercado possível.
Nos jornais e na televisão continua o elogio do livre mercado, isto é , de qualquer coisa que não existe, desmentido pela realidade. E enquanto se celebra a morte das ideologias, das utopias, das promessas enganosas, surge o coro de elogios ao “capitalismo natureza”, isto é, a corrida ao lucro como único prémio para os cidadãos trabalhadores e único freio para os preguiçosos e para os desonestos. A justificação repetida até à exaustão é o habitual é assim que somos ou é assim que todos fazem. Basta abrir os olhos e ver o que sucede no nosso país e no mundo para compreender que este livre mercado não é livre concorrência, mas uma luta de gigantes que dispõem de montanhas de biliões e do apoio de políticos no poder, não livre mercado, mas repartição entre os mais fortes.
E então porque enfeitá-lo com virtudes que não tem e esconder mesmo os seus defeitos mais macroscópicos? O livre mercado, na acepção de um mercado sem regras que pode levar ao fim do género humano, é a filosofia das enxurradas, dos terramotos: ser arrastado para a ruína universal continuando a dizer que se trata de um processo natural e benéfico.
O livre mercado como selecção dos melhores? Aquilo que acontece realmente em Itália é exactamente o contrário, a corrida ao lucro selecciona os piores: há províncias no nosso Sul, nas quais a classe dirigente, a burguesia que detém o poder nos serviços e nas indústrias, a que deveria combater as associações de malfeitores, torna-se Máfia, cria a nova sociedade de cabeça para baixo na qual são premiados os delinquentes e punidos os honestos.
Do livre mercado passa-se ao partido dos negócios, do Estado de direito ao Estado mafioso onde a comandar estão as associações dos vagabundos e dos ladrões. [ … … …]
Ás vezes tem-se a impressão de que se avizinha a catástrofe final. Os vergonhosos acontecimentos ocorridos em Nápoles, uma grande cidade afogada em lixo, porque vagabundos e ladrões para ganharem dinheiro não quiseram limpá-la, mostram, todavia o caminho para um socialismo novo, não mais utópico e romântico, não mais evangélico e filantrópico, mas de estado de necessidade. Um socialismo obrigatório que se imporá pela sobrevivência, porque o mundo tem limites, porque não há mais lugar para todos os desejos e todos os abusos.
O livre mercado caminha para a auto-destruição: se não tiveres o cuidado e remover o teu lixo, virás a encontrá-lo á porta de casa. O remédio dos ricos de passarem os seus lixos aos pobres já não é fácil e indolor.
No lugar do livre mercado, o socialismo da sobrevivência conduzirá , esperamos, ao mercado possível. Acabando com o mercado livre da autodestruição, dos esbanjamentos, dos furtos, para passar para um mercado razoável dos consumos compatíveis com os recursos, do bem-estar livre dos desperdícios e das competições insensatas.[…]"
2 comentários:
É verdade! o liberalismo não só leva ao anconsciente e à irresponsabilidade, mas deixa encaminhar os jovens para "universidades" que só têm de notável as violências e as patetices dos ritos iniciáticos. Depois o jovem caminha, muito elegramente, durante quatro anos banais, gratuitos e falsos, sem nunca ter consciência social, consciência de relações tributárias. NO fim dos quatro anos, se pagar certinho, recebe um diploma e fica num beco sem saída: É licenciado sem saber fazer coisa nenhuma.
ESte liberalismo leva o governo a não se incomodar com o poder regulador... Anda tudo em roda livre...e depois, o que tiver que acontecer...que aconteça...
É a irresponsabilidade, e a perda do sentido que a sociedade deve seguir. Não há projecto social, e o que for...que seja... e quem vier depois que feche a porta...
Bandidos e estúpidos este liberais que metem os lobos no curral das ovelhas...
Zedomar
Este sim!
É um bom texto para reflectir.
A vigarice do livre mercado.
Os vigaristas.
Os donos do "livre".
E,como diz zdm,as ovelhas a serem comidas ou,acrescento,quando se safam pretendem fazer-se passar por vacas...
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