domingo, 10 de fevereiro de 2008

Os monárquicos subreptícios



Num dos jornais de hoje, noticia-se um poderoso evento: o herdeiro do trono português está irremediavelmente de candeias às avessas com o PPM, o único partido português que ostenta garbosamente a opção monárquica.
Para o sucessor do Sr. D. Miguel, tudo se resume ao azedume do Sr. Presidente do PPM, pelo facto de o nosso pré-monarca não ter dado prontamente ao referido dirigente o direito de usar o título de Dom. Para este dirigente político, reconhecendo, é certo, a realidade dessa desfeita, as coisas têm raízes mais fundas. E a principal está no facto de não ser reconhecível como pré-rei alguém que tem como título único de legitimidade monárquica o sangue do Sr. D. Miguel. Sangue esse que é muito justamente apodado como sangue de usurpador. Direi eu , à laia de suplemento, que é também sangue de alguém que, em nome da recusa da introdução do liberalimo na instituição monárquica, se permitiu desencadear e liderar uma mortífera guerra civil entre os portugueses.
Que uma tão baça linhagem tenha tido os favores do Dr. Salazar, nós compreendemos. O Sr. D. Miguel e o Dr. Salazar comungavam na mesma desconfiança inabalável, em face de tudo que tivesse qualquer leve perfume democrático. Que a República de Abril tenha deixado continuar o descendente miguelista ostentar a sua qualidade de pretendente a algo que não existe, nós compreendemos. De facto, se há pelo menos um personagem que ostenta o garboso título de Rei dos Frangos, sem ser conhecida qualquer consulta democrática aos ditos, por que se havia de embirrar com alguém que, embora sem nos consultar, tem a prudência de se considerar apenas um mero pretendente.
Já é um pouco mais estranho, terem-no deixado misturar-se com a actual nomenclatura republican em cerimónias oficiais, bem como ter havido Presidentes da República que passearam com sua Pretedência nos Jardins de Belém. Mas não nos vamos zangar com tais deferências. O nosso bom povo aceita tudo isso com bonomia. É até capaz de uma festinha na bochecha da infanta, de se deliciar com as travessuras do príncipe e de colocar Sua Pretendência, ao lado do Rei dos Frangos na sua saudável tolerância, perante qualquer cidadão que se lembre de ostentar ( ou sugerir que pretende ostentar) o título de Rei, seja lá do que for. Aliás, num brasileirismo fraterno, copiando hábitos dos nossos irmãos, afloram já aqui e ali glorificados Reis do Carnaval magestosamente acompanhados por exuberantes Rainhas.
Por isso, certamente, o povo aceitará também que o Sr. Presidente do PPM, tenha descoberto que inquinada Sua Pretendência, D. Duarte Pio, pela mácula sem perdão do usurpador miguelista, quem verdadeiramente pode ser Pretendente é um pacato cidadão que vive anónima e tranquilamente algures, dado ser um legítimo sucessor dos monarcas liberais que aceitaram ser limitados pelas celebradas Constuituições. De facto, consta que nas profundezas do Portugal eterno dorme a sesta da vida um quinto bisneto de uma sétima prima da segunda tia de uma quinta filha do Sr D. João VI, que sempre esteve ao lado do irmão Pedro contra o renegado irmão Miguel.
Se eu fosse juiz de pretendências, não hesitava, dava já razão ao ramo liberal, pela razão simples de que prefiro sempre os que deixam votar.
Aliás, ao que parece, o herdeiro do Sr. D. Miguel ficou tão furioso com o PPM que se pôs descobrir monárquicos no PSD, no CDS, garantindo que os havia entre os deputados do PS e que até nas inóspitas paragens do PCP se encontravam alguns entre as respectivas franjas autárquicas. Não se sabe se por esquecimento o BE escapou, bem como todos os pequenos partidos, incluindo o próprio PPM.
Ficámos pois a saber que não há afinal monárquicos no PPM, para sua Pretendência Real D. Duarte Pio, abundando os monáquicos subreptícios nos grandes e médios partidos nacionais, embora se mantenham higienicamente longe dos pequenos.
Por mim, registo este drama histórico entre o partido monárquico acusado de não ter nenhum e o Pretendente ao trono acusado de ter sangue de usurpador. Mas como socialista, curioso de conhecer todos os meandros do meu partido, espero que em tempo de eclosão de correntes internas, a par das várias de esquerda que certamente vão aparecer , da corrente realista que certamente continuará maioritária, se mostre a vigosorosa corrente dos monárquicos, que, sem com isto me querer intrometer, podia ostentar o vistoso nome de "socialistas esotéricos".

2 comentários:

Anónimo disse...

Saudações Meridionais
Quanto à cisão da causa real não é um assunto novo. Esta situação reflecte apenas a falta de qualidade da maior parte nossa nobreza e dos seus partidários. O PPM deixou de ser verdadeiramente monárquico no dia em se criou o MPT(não sou filiado nem num nem noutro) e a maioria dos seus melhores quadros o abandonaram.
Aliás é no concelho do Rei dos Frangos que o "Braveheart" português o Remexido e último dos apoiantes do Rei D. Miguel teve um assomo de altivez.
D. Miguel representou o último dos nossos reis românticos o que numa época em que a ética e a moral estão nos seus últimos estertores é ainda mais necessário um "Fundamentalismo Romântico".

Anónimo disse...

O único problema disto tudo é que o Duarte Pio muniu-se de "amiguinhos" para o ajudarem na promoção das mentiras e na conservação do trono e, em troca, concede-lhes umas medalhinhas e honras afins.

Para que conste: a única sucessora directa da coroa portuguesa foi D. Maria Pia de Saxe Coburgo Bragança, filha do Rei D. Carlos I de Portugal com D. Maria Amélia Laredo e Murca e, consequentemente, irmã do Rei D. Manuel II.

A seu tempo a verdade virá ao de cima e cairão por terra muitos dos monárquicos que andam enganados pela falsa Causa Real Duartina.