A
direita não é um tigre de papel.
Quando a esquerda não está fraca, a direita
desdobra-se, para poder atacar em
simultâneo, de frente e de flanco.
Uns vociferam intensamente, diabolizando tudo aquilo
que tenha o mais leve perfume de esquerda. Outros, melifluamente, ronronam
propostas de aproximação, aliciam com enormíssimos desígnios comuns,
untuosamente moderados, procurando insinuar a distinção entre uma esquerda que seria alegadamente
péssima e uma esquerda que confessam dissimuladamente admirar. Uns segregam anátemas
implacáveis, outros oferecem generosos conselhos e sussurram luminosos elogios. Cada uma das partes desempenha
o seu papel num perverso teatro de sombras.
Há pois na direita duas pulsões complementares que ela
se esforça por esgrimir articuladamente para que a sociedade continue desigual e vigiada. A
pulsão “adamastor” que troveja sobre nós como se fôssemos caravelas proibidas e a pulsão “sereia” que procura encantar-nos para, deixando-nos sem
defesas, nos poder destruir.
Mas o povo de esquerda (e quem quiser representá-lo) não deve esquecer que tanto os
“adamastores” como as “sereias” são invólucros contingentes de um sonho
recorrente que possui uns e outras. O sonho de reduzir as esquerdas a um
simbólico cordeiro sacrificial que a direita sangrará com alegria e volúpia.
Amigos e camaradas, nunca esqueçamos : a direita não é um tigre de papel !
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