Homenagem a Paul Singer
“Paul Israel Singer, muito obrigada!” é o
título do texto de Eliane Rosandiski que
é professora-extensionista da
PUC-Campinas [São Paulo- Brasil], economista, doutora em economia social pela
Unicamp. O texto é publicado na pàgina virtual da importante revista brasileira
CartaCapital.
É um texto de homenagem a Paul Singer
que recentemente nos deixou. Já neste ano foi publicada na coleção Horizontes
Solidários um livro seu, “Ensaios sobre Economia Solidária” (Almedina ,
Coimbra). Paul Singer veio por diversas vezes á FEUC , como conferencista. A
sua voz vai continuar a ecoar por toda a economia solidária como uma criativa
imaginação socialista ddo futuro.
Como é dito na abertura do texto: “Coerente
com sua crítica ao neoliberalismo, o professor dizia que a marcha para o
socialismo dependia de ampliar a democracia nas relações de produção”
O texto de Eliane Rosandiski merece ser lido.
Ei-lo:
“Ao longo do dia de ontem, vários textos nas mais diversas formas de mídia
prestaram lindas homenagens ao professor Paul Singer. Li muitos
deles e percebi que havia um sentimento comum que os ligava: a
gratidão. Me questionei a razão deste sentimento, pois também o
tenho. Penso que a resposta pode ser encontrada no engajamento presente na sua
história de vida.
Como amplamente divulgado, Paul Singer nasceu na Áustria em 1932. Chegou ao
Brasil em 1940, fugindo do nazismo. Aos 20 anos, trabalhando como
eletrotécnico, filiado ao Sindicato dos Metalúrgicos, ajudou a organizar a
greve dos 300 mil. Sua atividade político-partidária se iniciou em 1980 com a
fundação do Partido dos Trabalhadores.
Foi secretário de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de São Paulo na
gestão da Luiza Erundina. Integrou ao lado de outros intelectuais a equipe do
Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
Finalmente, em 2003 assumiu a Secretaria Nacional de Economia Solidária
(Senaes) no Ministério do Trabalho e lá permaneceu até 2015. Era economista com
pós-graduação em sociologia e lecionou na USP. Escreveu dezenas de artigos e
livros. Descrever sua trajetória, dessa forma impessoal, não dá a dimensão da
importância do Paul Singer no campo da transformação social.
Não tive a sorte de participar de nenhuma das atividades profissionais ao
lado do professor, meu encontro com ele ocorreu de outra forma. Sou economista
e ministrava um curso de Economia do Trabalho. Insatisfeita com os diagnósticos
sombrios acerca da exclusão social, decidi ampliar meu repertório na busca por
soluções.
Nesta busca me deparei com um texto, cujo título já era uma resposta às
minhas inquietações: “É possível levar o desenvolvimento para as comunidades
pobres”. Este pequeno texto, escrito em 2004, trazia uma série de elementos de
política pública para promover o desenvolvimento local, mas, diferentemente dos
demais, trazia proposta de preservar a identidade dessas comunidades.
Fiquei muito intrigada e comecei a buscar mais publicações desse autor um
tanto desconhecido para mim até aquele momento. Como todos os que adentram no
universo de Paul Singer, me deparei com o livro “Introdução à Economia
Solidária”, escrito em 2002, no qual os princípios de propriedade coletiva dos
meios de produção, a autogestão e solidariedade eram defendidos como uma nova
forma de organização da produção.
Este livro, coerente com sua visão de mundo crítica ao neoliberalismo,
mostrava que a marcha para o socialismo
consistia em ampliar a democracia nas relações de produção. Para Singer,
aprofundar a democracia seria a única opção capaz de promover a justa
distribuição da riqueza gerada no processo produtivo.
Tal como para muitos que leem este livro pela primeira vez, tais princípios
me pareceram um pouco utópicos. Felizmente, as evidências práticas mostram o
equívoco dessa primeira impressão e que, de fato, uma outra economia é
possível. As informações coletadas pelo SIES/Senaes mostram que no Brasil
existem aproximadamente 20 mil empreendimentos organizados segundo os
princípios da Economia Solidária, que atuam em diversas áreas, em especial agricultura familiar,
abrigando mais de 1 milhão de trabalhadores.
A mobilização política dos atores sociais também vem sendo exitosa; ao
longo desse período de atuação da Senaes foram realizadas três Conferências
Nacionais de Economia Solidária (Conaes) que desembocaram na elaboração de um
Projeto de Lei para Política Nacional de Economia Solidária, aprovado pela
Câmara dos Deputados em 2017.
Internacionalmente, o tema da Economia Solidária também vem ganhando
destaque. Em 2010 Paul Singer participou do Fórum Social Mundial
e as Conferências da OIT começaram a tratar a Economia Social como solução para
a exclusão.
Importante destacar que toda sua trajetória de ação sempre buscou juntar a
teoria com a prática e esta prática, na visão do próprio Singer, deveria sempre
que possível desembocar numa ação política, transformadora. Com isto, Singer
nos mostra que o caminho mais efetivo de praticar o socialismo não é por meio
do autoritarismo, mas sim por meio da democracia praticada no interior do
sistema capitalista.
Sim, o professor Singer era um otimista. Tenho certeza de que seu legado
está vivo em todas as sementes que ele jogou e que germinaram, regadas pela
admiração e respeito aos seus ideais e à sua atuação. Hoje, um grupo de
intelectuais, pesquisadores, técnicos, pequenos produtores urbanos e rurais,
levam adiante seus ensinamentos simplesmente porque perceberam que a Economia
Solidária é uma realidade que comprova que uma outra forma de economia é
possível.
“Figura doce”, esta é a característica pessoal que o professor nos deixa,
sempre atento, sempre capaz de ouvir as pessoas ao seu redor, independentemente
da classe social ou nível intelectual. Tive algumas chances de dialogar com ele
e sempre, com os olhinhos azuis atentos, escutava e era capaz de dizer que
tinha aprendido muito com minha dúvida. Coisas que só os grandes mestres são
capazes de fazer. Muito obrigada, professor!”