quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A noite dos prodígios ou a surpresa da recontagem



A noite dos prodígios ou a surpresa da recontagem

A contagem dos votos desenrolava-se com fluidez. No estado-maior dos “ roxos” o perfume do êxito insinuava-se como luz nascente. Respirava-se júbilo. Parecia certo que um dos seus “generais” ia entrar para o governo da cidade pela porta grande dos votos.
Mas à medida que os votos iam sendo contados a melodia de esperança  e regozijo começou a murchar. A noite foi ganhando um tom sépia. O tom  que prenuncia os outonos. Até que foram contados os votos da  última urna ; e a noite estendeu-se  como um manto fúnebre sobre uma alegria que não chegou a nascer.
A serenidade saiu assutada do estado-maior dos “roxos”. Explodia por todos os lados uma raiva surda contra as outras cores. Especialmente contra os de “cor rosa” que haviam conquistado aos “ roxos” o lugar sonhado.

Mas, para grandes males, grandes remédios: exige-se a recontagem dos votos. Exigiu-se e os “roxos” venceram a árdua batalha: os votos foram recontados à sombra de um juiz.  Durante dias, a alegria perdida projetou uma ligeira esperança de voltar.
O juízo final chegou, enfim. E ó desgraça das desgraças! os  de “cor rosa” mantiveram o lugar que já tinham e os “roxos” continuaram sem ele. O perfume da alegria perdida que ainda restava esvaiu-se sem remissão.

E a sombra tornou-se um pouco mais sombria, quando na recontagem para uma assembleia coadjuvante se verificou que, aí sim, os de “cor rosa” perderam um lugar. Perderam-no para os “vermelhos”; não para os “roxos”. Consta que os “ vermelhos”  fizeram uma festa. Uma festa tanto mais suculenta quanto a ficaram a dever à fúria vencida dos “roxos”. Os de “cor rosa” perderam um lugar na assembleia, mas conservaram os que tinham-no governo. Nem caso para deitarem foguetes, nem para porem luto.


Moralidade: As paróquias das pequenas raivas são espaços asfixiantes. E quando se respira mal raramente se decide bem.

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