Numa reunião do PS, ontem ocorrida em Coimbra, houve um
camarada que, demonstrando preferência por um dos candidatos à indicação como
primeiro-ministro pelo PS, considerou a hipótese de uma aliança do PS com a direita como o caminho que
preferia, ao considerá-lo o mais adequado numa estratégia de ocupação do centro
político. Estratégia por que optava. Se não me equivoquei, houve pelo menos uma
manifestação expressa de concordância num aparte informal proveniente de um
outro camarada cuja preferência recai no outro candidato.
Este pequeno episódio ilustra bem a desfocagem que tem
pairado sobre o debate em curso. Realmente, perturba-o irremediavelmente o
facto de os dois blocos se enfrentarem com base em questões secundárias, embora
relevantes, quando no seio de cada um deles se misturam camaradas com opções
estratégicas contrapostas. De facto, têm vindo a público posições de apoiantes
dos dois candidatos que no caso em apreço manifestaram posições diferentes. Nos
dois casos, houve quem assumisse a preferência por coligações á direita e quem
as excluísse, preferindo coligações à esquerda. Nos dois casos, alguém está
equivocado.
Por mim, opto pela segunda posição, mas não é isso que está
em causa. Não discuto aqui o mérito de cada um dos caminhos. O que está em
causa, repito, é a esterilidade política de um debate que não se trave em torno
de eixos estratégicos relevantes e claramente assumidos por cada uma das
partes.
Admito que mesmo à questão das alianças se pudesse preferir uma
outra linha de fractura mais estruturante, mas seguramente que essa questão é
politicamente mais fecunda do que a difusa esgrima de argumentos emocionais e
impressionistas que tem predominado.
Esta, bem com algumas outras questões de fundo, devia ser
colocada no centro da campanha, exigindo-se a ambos os candidatos que revelassem
com nitidez e sem ambiguidades a posição que partilham. Se ambos coincidirem, num ou em vários pontos, estaria reforçada essa opção, ganhasse quem ganhasse, o
que era bom para todos; se os candidatos optassem por vias distintas cada
militante ou simpatizante saberia sem ambiguidades o significado do seu voto
nos aspectos em causa.
O PS precisa de abranger os protagonistas de ambas as posições,
mas só pode seguir uma delas. Decidir qual, é algo que deve resultar de uma
escolha democrática transparente. Não pode ser uma decisão escondida em frase redondas que dêem para tudo, ficando as lideranças com
as mãos livres para optarem por um caminho que os militantes e simpatizantes poderiam não ter preferido.
Por mim, que excluo qualquer coligação com qualquer dos
partidos que estão no atual governo, prefiro que o partido faça uma escolha clara, seguindo um processo democrático honesto, mesmo optando pelo caminho de que discordo, do que ficarmos
todos mergulhados numa confusão de incertezas em que cada um vê, na posição dos
dois protagonistas, um sinal de que vai seguir a via que prefere, sem contudo
poder estar certo disso. Mas se a ambiguidade é ilegítima do ponto de vista dos
militantes e dos simpatizantes do PS, pode vir a ser fatal no plano eleitoral. De
facto, a ambiguidade, nesta e noutras questões que se revelem como básicas,
tanto pode afastar eleitores potenciais como mais tarde atingir a credibilidade
do PS , por via da desilusão dos que se julgarem enganados.
Por isso, acho urgente e politicamente salubre que os candidatos
digam com clareza como agirão no plano da política de alianças, especialmente
quanto a coligações de governo, se o PS não tiver maioria absoluta.
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