quinta-feira, 3 de julho de 2014

O PS e as coligações


Numa reunião do PS, ontem ocorrida em Coimbra, houve um camarada que, demonstrando preferência por um dos candidatos à indicação como primeiro-ministro pelo PS, considerou a hipótese de uma aliança do PS com a direita como o caminho que preferia, ao considerá-lo o mais adequado numa estratégia de ocupação do centro político. Estratégia por que optava. Se não me equivoquei, houve pelo menos uma manifestação expressa de concordância num aparte informal proveniente de um outro camarada cuja preferência recai no outro candidato.

Este pequeno episódio ilustra bem a desfocagem que tem pairado sobre o debate em curso. Realmente, perturba-o irremediavelmente o facto de os dois blocos se enfrentarem com base em questões secundárias, embora relevantes, quando no seio de cada um deles se misturam camaradas com opções estratégicas contrapostas. De facto, têm vindo a público posições de apoiantes dos dois candidatos que no caso em apreço manifestaram posições diferentes. Nos dois casos, houve quem assumisse a preferência por coligações á direita e quem as excluísse, preferindo coligações à esquerda. Nos dois casos, alguém está equivocado.

Por mim, opto pela segunda posição, mas não é isso que está em causa. Não discuto aqui o mérito de cada um dos caminhos. O que está em causa, repito, é a esterilidade política de um debate que não se trave em torno de eixos estratégicos relevantes e claramente assumidos por cada uma das partes.

Admito que mesmo à questão das alianças se pudesse preferir uma outra linha de fractura mais estruturante, mas seguramente que essa questão é politicamente mais fecunda do que a difusa esgrima de argumentos emocionais e impressionistas que tem predominado.

Esta, bem com algumas outras questões de fundo, devia ser colocada no centro da campanha, exigindo-se a ambos os candidatos que revelassem com nitidez e sem ambiguidades a posição que partilham. Se ambos coincidirem, num ou em vários pontos, estaria reforçada essa opção, ganhasse quem ganhasse, o que era bom para todos; se os candidatos optassem por vias distintas cada militante ou simpatizante saberia sem ambiguidades o significado do seu voto nos aspectos em causa.

O PS precisa de abranger os protagonistas de ambas as posições, mas só pode seguir uma delas. Decidir qual, é algo que deve resultar de uma escolha democrática transparente. Não pode ser uma decisão  escondida em frase redondas  que dêem para tudo, ficando as lideranças com as mãos livres para optarem por um caminho que os militantes e simpatizantes poderiam não ter preferido.

Por mim, que excluo qualquer coligação com qualquer dos partidos que estão no atual governo, prefiro que o partido faça uma escolha clara, seguindo um processo democrático honesto, mesmo optando pelo caminho de que discordo, do que ficarmos todos mergulhados numa confusão de incertezas em que cada um vê, na posição dos dois protagonistas, um sinal de que vai seguir a via que prefere, sem contudo poder estar certo disso. Mas se a ambiguidade é ilegítima do ponto de vista dos militantes e dos simpatizantes do PS, pode vir a ser fatal no plano eleitoral. De facto, a ambiguidade, nesta e noutras questões que se revelem como básicas, tanto pode afastar eleitores potenciais como mais tarde atingir a credibilidade do PS , por via da desilusão dos que se julgarem enganados.


Por isso, acho urgente e politicamente salubre que os candidatos digam com clareza como agirão no plano da política de alianças, especialmente quanto a coligações de governo, se o PS não tiver maioria absoluta.

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