terça-feira, 3 de junho de 2014

Melancolias Políticas


 1. Pertenci à minoria que não apoiou António José Seguro no último Congresso. Recordo-me muito bem da fé com que se derramavam perante o novo triunfador tantos e tantas militantes. Conservo ainda no ouvido a música dos elogios ao novo chefe. Os protestos de apoio e fidelidade eternas. As fotografias ao lado do líder para a posteridade guardar esses grandes momentos.

Com espanto verifico agora que muitos desses entusiastas se assanham contra quem antes idolatraram. Com o mesmo entusiasmo. Acusam-no de algum desvio programático? De alguma traição ao que lhes prometeu? Não. Acusam-no de terem agora á mão um outro “general”  em cuja vitória têm mais fé. Apenas isso. A mesma fé que os fez erguer nos ombros AJS, faz com que agora  se esforcem por derrubá-lo.

Relembro: aclamaram Sócrates. Não foi o meu caso. Não me distanciei dele em segredo quando estava a perder brilho. Tomei as minhas posições à luz do dia no Congresso. Quando deixou de ser líder, muitos dos que antes o haviam adulado passaram a vociferar contra a “tralha socrática”, apoiando então entusiasticamente Seguro contra a “tralha socrática”. Não os acompanhei.

O vento mudou, são agora contra a “tralha segurista” que varreu a “tralha socrática”. Sempre o mesmo entusiasmo, sempre a mesma autenticidade. Mas é talvez imprudente vender desde já a pele do urso, porque o urso ainda vive.

2. Se nas primárias concorrerem Seguro e Costa , não decidi ainda em definitivo o meu sentido de voto, mas as propostas de Seguro quanto às primárias fizeram-me aproximar dele. Vamos a ver. Mas uma coisa eu sei, se aquele que ganhar vier a ser um mau governante também serei responsável por isso. Se tiver votado nele nas primárias a minha  responsabilidade será maior. A minha obrigação enquanto for militante do PS é a de ser solidário com o que vencer sem nunca deixar de o criticar quando isso me parecer justo. Quando achar que não devo fazer isso saio do partido.

Fui da oposição interna a alguns secretários-gerais. Nunca lhes atirei nenhuma pedra depois de o terem deixado de ser . Fui apoiante de alguns secretários-gerais. Senti-me solidário com os seus êxitos, corresponsável pelos seus erros e obrigado a criticá-los, quando a minha consciência mo ditasse.
É dever de qualquer militante  do PS exprimir as suas opiniões, principalmente se forem críticas. Mas há um esforço de inteligência a que todos estamos obrigados : temos de criticar os nossos de um ponto de vista socialista , na perspectiva das ideias e dos valores do PS. Nunca, mesmo nunca, deixando que nos transformem num megafone das críticas que os nossos adversários nos fazem  a partir dos seus pontos de vista.


 Olho com melancolia para o atual panorama do PS. Os nossos inimigos, os inimigos  do povo, os inimigos do PS preparam armas , preparam munições. Quando nos caírem em cima serão imparciais, combater-nos-ão por igual, a todos nós, sem quererem saber se apoiamos Seguro, se apoiamos Costa ou se não apoiamos qualquer deles.

5 comentários:

Anónimo disse...

Completamente de acordo.

Manuel Oliveira

JGama disse...

Nos idos de Março, lembram-se? Caius Cassius e Június Brutus.
Agora foi nos idos de Maio.
Como seria bem nobre resolver isto sem golpes!
Quanto ao texto do Rui recordo um célebre plenário no Instituto da Juventude em que um camarada, depois do cortejo para o beija-mão, foi ao palco, em frente de todos, avisar o António José Seguro de que muitas das palavras de fidelidade eterna ali ouvidas seriam esquecidas ao virar da esquina.

Anónimo disse...

Esse camarada , pelos vistos, conhecia bem alguns dos presentes. Com sargentos tão voláteis não há general que consiga ganhar batalhas.

Rui Namorado

Anónimo disse...

Segundo a antiga Ordenança do Serviço Naval - Um sargento tem de saber ler porque o oficial pode não saber...
Ora meus amigos é triste viver entre analfabetos...Que o diga o Manuel Alegre pós-Argel
O enrodilhar desta estória patética diz-nos que se estão marimbando para o povo.
A forma mais correta de cumprir os estatutos seria de um militante um voto e nada mais...
De o "Catraio" respeitosamente

Anónimo disse...

Os inimigos do povo são aqueles que por força da lei dominantes, leia-se das forças dominantes, o querem manter ignorante.
Ora o capital maior que uma nação pode ter são os seus homens e mulheres de saber.
Vivemos durante quase 50 anos a drenar cérebros para o estrangeiro, agora temos um governo que manda emigrar e os governos PS faziam quase o mesmo
Será que o PS é capaz de fazer parar a drenagem de cientistas, técnicos e operários especializados?
Já lá vão 40 anos de democracia e o PS tem sido governo ...Tirando o governo de Sócrates que deu algum impulso ás línguas e á tecnologia... de resto nada feito.
Os estatutos mal falam do ensino e do saber. Será que vai começar agora com qualquer dos dois candidatos?
Sabemos que a drenagem de intelectuais ante 25 de Abril deixou o país de rastos. sabemos
Haver vamos...
De o "Catraio" com respeito