terça-feira, 27 de maio de 2014

CONTRACAPA DA VÉRTICE PROIBIDA PELA CENSURA - 6

Da série de frases, destinadas à Contracapa da revista Vértice, cuja publicação a censura salazarista proibiu, eis aqui a sexta. 


VÉRTICE - Nº 338 – Março de 1972

"Crer que basta sonhar a força para ser forte, bem vimos ao que isso leva, a que terríveis desastres."

ZOLA ( Discurso aos estudantes de Maio de 1893)

domingo, 25 de maio de 2014

CONTRACAPA DA VÉRTICE PROIBIDA PELA CENSURA - 5


Da série de frases, destinadas à Contracapa da revista Vértice, cuja publicação a censura salazarista proibiu, eis aqui a quinta.
Hoje, que vai ser um dia de vitória, esperamos também que seja o começo de uma nova respiração política que oxigene a esperança.

VÉRTICE - Nº 306- Março de 1969

"O povo há-de erguer o braço; não o duvidemos; há-de pelejar, e há-de vencer. Façamos quanto em nós está, para que bem o erga, bem peleje, bem vença, e bem saiba usar a vitória."

GARRETT

sábado, 24 de maio de 2014

CONTRACAPA DA VÉRTICE PROIBIDA PELA CENSURA - 4

Da série de frases, destinadas à Contracapa da revista Vértice, cuja publicação a censura salazarista proibiu, eis aqui a quarta. 
Muito sugestiva neste dia de reflexão.

"É tempo de dizer ao povo que o povo em massa deve precipitar-se sobre os seus inimigos."

DANTON ( Discursos )

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Que Europa depois das eleições ?


 Colóquio do Clube Manifesto

              
 Que Europa depois das eleições ?  




No próximo dia 21 de junho (sábado) com início às 15 horas , vai ter lugar em Coimbra, um colóquio promovido pelo Clube Manifesto para uma Renovação Socialista, que procurará contribuir para uma reflexão sobre a Europa depois das eleições do próximo dia 25 de maio.
Que Europa depois das eleições ?  ── eis a interrogação que a todos se coloca e cuja resposta estará em debate.

O Colóquio constará de três intervenções e de um debate aberto a todos os presentes. Será moderado por um dos membros do Clube, Luís Marinho. Duas das intervenções serão feitas por convidados, Joaquim Feio, Professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Pedro Nuno Santos, vice-presidente da direção do Grupo Parlamentar do PS e Presidente da Federação de Aveiro do PS. A outra intervenção estará a cargo de outro membro do Clube, Rui Namorado.

Este colóquio é aberto a todos os cidadãos interessados, esperando-se que mereça uma  particular atenção dos militantes do PS. Vem na sequência  de um outro que o Clube Manifesto  promoveu em 1  fevereiro passado, o qual se desdobrou em três sessões e contou com intervenções de A. Casimiro Ferreira, Carlos Silva, José Medeiros Ferreira, Luís Marinho, Maria de Belém Roseira e Rui Namorado Moderaram as sessões: Jorge Strecht Ribeiro, Manuel Ferreira e Nuno Filipe

O colóquio de fevereiro foi um momento relevante no processo de elaboração de um documento político, entregue ao Secretário do PS e publicamente divulgado, subscrito por vinte e nove militantes do PS: “A  Europa  e as próximas eleições europeias ─ procurar um  horizonte  para não cair numa miragem.”
Deste documento, no qual foi salientada a relevância política das próximas eleições europeia, transcrevemos a sua terceira parte:
“Tudo isto, torna particularmente importante que os socialistas portugueses e europeus assumam o seu próprio caminho para uma  renovação do projeto europeu. Desde logo, através de uma fusão crescente com as aspirações dos trabalhadores, dos excluídos  e dos jovens europeus  tão expressivamente manifestadas nos últimos anos nas ruas de tantas cidades europeias.

Para isso, o PS tem que sublinhar a sua identificação, plena e sem ambiguidades,  com  algumas linhas de orientação política. Sem excluir outras, mas destacando a importância destas , o PS tem que ser fiel às seguintes :

3.1.Defender uma Europa radicada na igualdade entre os Estados, no protagonismo democrático dos cidadãos e numa participação solidária na comunidade mundial.
3.2.Reverter o processo de desvalorização do trabalho em face do capital, iniciando um processo de aumento continuado da parte do rendimento nacional remuneradora do primeiro, rumo a uma sociedade impregnada pela dignificação e humanização dos trabalhadores e das suas organizações. Neste contexto, impõe-se desde já estimular o emprego, combater a precariedade laboral  e assegurar o pagamento atempado aos trabalhadores.
3.3.Subordinar o poder económico ao poder político, de modo a assegurar o controle democrático do capital financeiro e das instituições que o consubstanciam, bem como a garantir um combate efetivo à criminalidade económica.
3.4.Mobilização geral e sistemática dos poderes públicos, em todos os seus níveis, no apoio às organizações que constituem a economia social, encarada como simbiose entre a utilidade social imediata e um potencial  futurante, como instância de transformação social que, em sinergia com os poderes públicos, antecipa e procura um novo tipo de sociedade.
3.5.Promover a educação pública como dever fundamental do Estado e direito fundamental dos cidadãos, encarando-a como um processo de transformação das pessoas através do conhecimento e dos saberes, como lugar por excelência de integração social, cultural e cívica, como espinha dorsal da República  e da identidade cultural dos povos. Ou seja, recusa inequívoca  da mercantilização do ensino e da transmissão do saber.
3.6.Promover um serviço público de saúde universal como condição para o conseguimento do máximo de bem-estar das pessoas. Ou seja, recusa inequívoca da mercantilização da prestação dos cuidados de saúde, assente na garantia de um direito universal à saúde , materializado pelo  protagonismo público na prestação desse serviço.
3.7.Garantia da perenidade e reforço  de um sistema público de proteção social  e do seu funcionamento justo, pautado pelo respeito  pelos direitos humanos , pela legalidade democrática e pela defesa irredutível dos direitos dos reformados, encarando-os como equivalentes a direitos de propriedade, respeitando por completo o montante e a natureza das pensões já atribuídas, tal como tenham sido legalmente reconhecidas, ao longo de toda a vida contributiva.”

A Europa depois das eleições vai traduzir-se num feixe de novos problemas que provavelmente virão complicar ainda mais os que já existem. Em Portugal, uma derrota da coligação governamental, consubstanciada na obtenção de um número de deputados eleitos menor do que o que for eleito pelo conjunto das oposições, poderá acelerar o processo político. E acelerá-lo tanto mais quanto maior for a dimensão dessa derrota. Uma derrota que será tanto mais relevante e contundente quanto melhor for o resultado do Partido Socialista, único partido que tem dimensão eleitoral e política para gerar uma alternativa política ao atual governo.

            Pela Coordenadora do Clube Manifesto para uma Renovação

                                                          Rui Namorado

quinta-feira, 22 de maio de 2014

O Mistério das Campanhas Autopunitivas


1. Nas campanhas eleitorais, é natural que cada partido defenda as suas próprias posições e que combata politicamente as dos outros. No entanto, todos sabemos que os 16 partidos ou coligações que concorrem a estas eleições europeias são diferentes entre si. Várias linhas de clivagem  os separam: 1) serem contra ou a favor do atual governo; 2) terem ou não representação parlamentar; 3) de acordo com as sondagens, elegerem deputados ou não; 4) estarem à direita ou à esquerda, hesitarem ao centro.
Neste contexto, o impacto de cada força política não só depende das respetivas opções programáticas e das posições conjunturais assumidas, mas também do lugar que ocupe na paisagem política acima mencionada. A qualidade e a eficácia de uma linha de orientação dependem muito, por isso, do modo como se conjugam as propostas feitas com o lugar ocupado nessa paisagem. Radicam-se na coerência lógica, mas também no grau  de  harmonia com a posição que ocupam no xadrez político.

2. Isto vem a propósito de um dos vetores mais insistentes da campanha da CDU e do BE. Mais fortemente os primeiros, mas também os segundos, têm associado o PS aos partidos do Governo, metendo-os no mesmo saco. Não pretendo discutir aqui o mérito substancial das críticas ao PS e das posições criticadas.
 Quero, neste caso, apenas discutir a compatibilidade entre o apelo que ambos fazem a um castigo forte aos partidos da coligação que nos governa, de modo a deslegitimá-la ainda mais, e a tentativa de os colocar em conjunto com o PS, como se os três partidos tivessem uma responsabilidade conjunta pelo que aconteceu entre nós durante os três anos mais recentes.
De facto, se as sondagens não forem completamente desmentidas pelos resultados das próximas eleições europeias, a soma dos votos que venham a obter os partidos do governo mais o PS situa-se entre os 65 e os 70 % do total de votos. Em contrapartida, a soma dos votos que se espera virem a ser obtidos pela CDU e pelo BE, excedendo provavelmente os 15% dificilmente chegará aos 20%.
Deste modo, a CDU e o BE, quando for o momento de se comentarem os resultados eleitorais, ou caiem no ridículo de afirmar que os três partidos que eles puseram no mesmo saco sofreram uma pesada derrota por terem só 65% dos votos; e cada um deles uma brilhante vitória por ser parte de um bloco que teve menos do que um terço dos votos dos alegadamente derrotados. Ou reconhecem que o eleitorado homologou as políticas da troika ao dar cerca de dois terços dos votos aos partidos que o BE e a CDU acham ser os responsáveis pela política de austeridade.
Qualquer pessoa percebe que esta abordagem é objetivamente  favorável ao governo, uma vez que o poupa de ser confrontado com a existência de uma maioria eleitoral que  repudia as suas políticas. Ou seja, o BE e a CDU, ao não se dispensarem de atacar o PS, somando-o à direita, anulam uma boa parte da virulência com que atacam o governo, nessa medida se enfraquecendo a si próprios.

3. Por outro lado, a aposta na queda deste governo feita por estes dois partidos pressupõe que pensem substituí-lo por um melhor, ou que se aproxime mais das posições deles. Mas ao identificarem o PS com os partidos da direita que estão no governo, designando-os em conjunto, preconizando um castigo eleitoral que a todos envolva, estão a dizer que não consideram que um governo do PS seja melhor para eles do que atual.
Isto significa que implicitamente só um governo apoiado pela CDU e pelo BE representaria para ambos um passo em frente. Ora, a soma dos votos nos dois partidos, em eleições anteriores, nunca chegou aos 20%. Provavelmente, isso também acontecerá nas próximas eleições europeias. Ou seja, menos de metade dos votos daqueles  que necessitariam para formar governo. Por isso, só verdadeiros nefelibatas políticos podem assentar as suas estratégias no pressuposto de que conseguem passar, em pouco mais de um ano, de menos dos 20% que nunca alcançaram para mais de 40%.
Dir-se-á: embora não o digam, consideram que um governo do PS, em coligação com eles ou apoiado por eles, seria a solução que, concebível em termos de relação de forças, se traduziria num progresso. Duvido que isso aconteça. Mas se acontecesse, refletiria uma inqualificável hipocrisia. De facto, se assim fosse, a CDU e o BE atacariam o PS tentando colá-lo à direita, mas teriam também o sonho de se coligarem com ele ou de celebrarem com ele um acordo político de incidência governamental.
Poder-se-á dizer que estas considerações não colhem, porque estamos a falar de eleições europeias e não legislativas. No entanto, todos sabemos que não faz sentido desligar politicamente estas duas eleições, tanto mais que há apenas um ano a separá-las e que as oposições advogam, mais ou menos fortemente, a antecipação das próximas eleições legislativas.
É como se a CDU e o BE andassem afanosamente a embotar a acutilância dos seus próprios ataques ao governo, hipnotizados pela compulsão de terem que atacar sempre o PS. Este tem-se revelado mais sereno e seletivo nos alvos visados pelos seus ataques, centrando-os na direita governamental e reduzindo ao mínimo as respostas aos ataques que lhe fazem outros partidos de esquerda.

4. A CDU e o BE lamentam o alegado desprestígio da política, mas estruturam as suas campanhas com base em estratégias autopunitivas que quase se poderiam considerar estúpidas, se não fossem, porventura, reflexo de uma idiossincrasia passadista que ainda não acordou para o presente. Só a direita e os interesses instalados beneficiam com isso.

Na verdade, diga-se o que se disser, o Governo será derrotado se os deputados que os respetivos partidos elegerem não forem mais de metade daqueles que cabem a Portugal. A sua derrota será tanto maior, quanto mais longe ficar desses onze deputados. A oposição, pelo contrário, terá um êxito conjunto desde que no seu todo tenha esses onze deputados. A medida do êxito de cada um dos partidos que a compõem será dada pelos deputados que cada um eleger. O PS terá uma vitória devastadora se atingir sozinho os 11 deputados, pois isso equivaleria a obter uma maioria absoluta, se as eleições fossem legislativas. Terá uma vitória relativa, se for o partido com maior número de deputados. Terá uma vitória importante se tiver mais deputados do que os dois partidos da coligação governamental juntos. O BE e a CDU terão que comparar o número de deputados que elejam com o que elegeram na eleição anterior. As percentagens que forem obtidas podem sublinhar ou atenuar o mérito ou o desastre envolvidos pelo número de deputados eleitos. Se o MPT conseguir eleger um deputado, o sentido político da relação de forças assim gerada pode ter que ser reponderado, embora pareça claro que esse eventual deputado deve ser integrado nas oposições ao governo.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Resultado das próximas eleições europeias

                                            [ Para o aumentar podre clicar sobre o gráfico]

É publicada hoje no CM uma sondagem da Aximage, respeitante às intenções de voto para as eleições europeias, que merece ser comentada. Comparando-a com outra feita há um mês, detectam-se algumas novidades.  A abstenção sobe, as intenções de voto na aliança governamental (30,2%) e no PS (37,8%) descem, o mesmo acontecendo com a CDU(8,8%). Dos partidos com representação no PE, só o BE (6,3%) sobe. Dois novos partidos são considerados na sondagem: o MPT e o Livre. O primeiro chega a uns surpreendentes 4,3 %, aparentemente impulsionada pela popularidade do seu cabeça de lista; o segundo, modestamente abaixo do 1%, mostra bem os limites do seu ambicioso projecto de ressurreição de toda a esquerda. Ressalvada a hipótese de o MPT poder eleger um deputado, no essencial a relação de forças mantém-se.


Se compararmos  os resultados desta sondagem com as percentagens obtidas realmente pelos mesmos partidos nas legislativas de 2011, verificamos que o BE está ligeiramente a cima dos 5,17 % então obtidos; o mesmo acontecendo com a CDU em face dos 7,91 de então. O PS está quase dez pontos acima dos 28, 06 % que então obteve. A coligação dos partidos do Governo está cerca de 20%  abaixo dos 50,35 % (PSD- 38,65 + CDS – 11,7%) alcançados em 2011.Quanto ao MPT, em 2011 teve apenas 0,41 %.

Se a comparação for feita com as eleições europeias de 2009, verificamos que Paulo Rangel tem agora menos expectativas de votos, como líder da coligação governamental, do que aqueles que teve então á frente apenas do PSD ( 31,71 %). Se acrescentarmos  a este número os 8,36 % que em 2009 teve o CDS, verificamos que a coligação governamental perde  cerca de 10 %, em face dos 40, 07 % dos votos obtidos então pelos dois partidos somados. Quanto ao PS  ele tem a expectativa de superar em cerca de 12 % os 26,53 % então conseguidos. Já a CDU fica algo distante dos 10,64 então obtidos e o BE muito longe dos 10,72 % atingidos em 2009. O MPT ficou-se então por uns modestos 0,67 %.

Quer valorizemos uma quer outra das comparações, as expectativas da coligação governamental apontam para um resultado muito penalizador. No caso do PS, o nível de progressão em ambos os casos é bom, sem ser devastador. A CDU aponta para uma relativa  estabilização eleitoral e o BE parte angustiado para a prova eleitoral do dia 25. O MPT, impulsionado pela exposição  mediática do seu cabeça de lista, parece poder abrir a porta a uma  alteração do xadrez político nacional, em próximas eleições.

Embora haja sondagens que dão um pouco mais de alento aos partidos do actual governo, outras aproximam-se desta. E é isso mesmo que nos ajuda a compreender o desespero que grassa nas suas hostes, visível no trauliteirismo da respectiva campanha e na forma descarada como os mandantes dos partidos de direita mobilizam recursos em prol da construção de cenários prospectivos  optimistas, que possam  levar a uma contenção de danos.  Isso é aliás bem visível, na forma intelectualmente desonesta,  através da qual os comentadores sousas, tentaram colocar como concorrente  do PS, não cada um dos partidos do Governo, mas a soma de ambos. De facto, por temor de um desastre eleitoral histórico, somaram o PSD e o CDS, dando  ao PS como meta a concorrência com a soma dos dois. Mesmo assim, parece que não conseguem evitar a derrota, mas procuram, pelo menos, disfarçar o seu dramatismo , forjando uma disputa entre, por um lado, um único partido  ( o PS); e, por outro,  a soma dos partidos do governo ( PSD+CDS). 

Ora a verdade é que , politicamente, este governo ganha as eleições se atingir uma percentagem de votos que , a ser repetida nas legislativas, possa conduzir a uma nova maioria parlamentar dos dois partidos da direita. Perde-as, se o não conseguir. E a  gravidade da sua derrota medir-se-á pela distância a que fique desse maioria, não por qualquer outro critério.Procurar medir a eventual derrota do actual governo pela distância a que fique do PS é uma grosseira mistificação intelectual. Isso será certamente um dado político relevante, a ter em conta na avaliação da relação de forças política pós-eleitoral,. mas não mais do que isso. 

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Ainda a diminuição do número de deputados.


Em 6 de outubro de 2012, publiquei neste mesmo blog um texto intitulado "DIMINUIÇÃO DO NÚMERO DE DEPUTADOS ?",que por sua vez remetia para um outro datado de 5 de fervereiro de 2011. 

A direita conseguiu instilar no senso comum a ideia de que o número de deputados, atualmente existente em Portugal, é excessivo, como se isso fosse uma verdade evidente e objectiva. Não é. É uma simples opinião que está longe de ser inatacável. Primeiro, porque comparando com outros países se pode ver  que é falsa; segundo, porque suscita incontornáveis consequências políticas. 

Por isso, achei que pode ser útil insistir na minha posição e na difusão dos seus fundamentos. Eis a transcrição do texto que aqui publiquei no dia 6 de outubro de 2012 :





A notícia:

“O secretário-geral do PS, António José Seguro, revelou hoje durante um jantar de comemoração do 5 de Outubro que o PS vai entregar ainda este ano uma proposta para reduzir o número de deputados na Assembleia da República.”

As justificações divulgadas:

1."maior proximidade entre eleitos e eleitores e uma menor dependência dos eleitos face às direções partidárias".
……………………………………
2. "introduzir maior transparência na vida pública e aumentar a exigência na prestação de contas".


Debate:

Como contributo para um debate que tem  necessariamente que ser travado dentro do PS , permito-me transcrever na íntegra um texto que publiquei neste mesmo blog, em 5 de Fevereiro de 2011, sob o título,

DIMINUIÇÃO DO NÚMERO DE DEPUTADOS


"O fantasma da diminuição do número de deputados é um dos fetiches mais perversos da vulgata do populismo de direita. Mas o que é mais estranho é que em diversos pontos da área socialista se levantem vozes também aliciadas pelo referido fantasma.

Sob pena de se resvalar para um concurso de palpites, em que será grande o risco de uma acumulação de dislates, não é possível analisar o caso português sem o comparar com o de outros países, nomeadamente com outros países europeus.

Pode ajudar muito essa reflexão, o importante estudo, que sustenta uma proposta de reforma do sistema eleitoral, da responsabilidade de André Freire, Manuel Meirinho e Diogo Moreira, publicado pela Sextante Editora em 2008 e intitulado
“Para uma melhoria da representação política”. Não pretendo comentar aqui esse trabalho, indispensável para quem quiser ter uma opinião sustentada sobre a temática em questão, apenas querendo chamar a atenção para a página 48, onde se pode ver um quadro comparativo da relação entre o número de deputados de cada país e a respectiva população, de um conjunto de trinta países, onde se incluem todos os países de União Europeia, acrescidos de um pequeno número dos que ficam de fora.

No quadro, considera-se para os países com uma única câmara o número dos seus deputados, para os países com duas câmaras a soma dos membros das duas câmaras. A maior parte dos dados reportam-se aos anos de 2005 a 2007, sendo subdivididos os trinta países em três grupos, em função da população de cada um. No primeiro grupo, situam-se os sete países com mais população; no segundo, que abrange Portugal, os dez países com um número de habitantes intermédio; no terceiro, os treze países menos povoados.

Se considerarmos em conjunto os 30 países, há nove países que têm um número de deputados por habitante inferior a Portugal, entre os quais se situam os sete países do primeiro grupo, mas há vinte países com um número de deputados por habitante superior ao de Portugal. Isto mostra que, em termos comparados, é uma lenda mistificatória alegar que no nosso país há um excesso de deputados. Aliás, se tivermos em conta que, como muitos especialistas sublinham, há uma tendência natural e objectiva para que nos países com elevada população a relação entre o número de habitantes e o número de deputados diminua, quanto mais não seja por razões funcionais, mais se acentua o carácter mistificatório dessa lenda. Aliás, entre os dez países do escalão intermédio, só a Holanda e a Bélgica têm menos deputados que nós, em termos relativos.

Revelando-nos esta comparação que a dimensão do nosso parlamento não está mal calibrada em termos relativos, ela milita, por si só, a favor da conveniência de não se diminuir nem aumentar o número de deputados, que aliás é hoje menor do que o foi nas primeiras Assembleias da República posteriores a 1974.

Mas alguns outros argumentos militam no mesmo sentido, desde logo o do agravamento das distorções de proporcionalidade que existem no sistema actual. Não só os partidos de menor dimensão correm o risco de se verem mais severamente retraídos do que os dois maiores, tornando-se a paisagem política artificialmente menos variegada, mas também o PSD alarga a sua vantagem em face do PS, no que diz respeito ao limiar percentual que cada um deles precisa atingir para conseguir maioria absoluta de deputados. Pode dizer-se que neste último caso o desfasamento entre os dois partidos é curto, mas é suficiente para ter um enorme significado político em termos práticos. Compreenderemos isso, se nos lembrarmos que, se os votos que obteve o PS com Guterres tivessem sido obtidos na altura pelo PSD, este partido teria chegado à maioria absoluta nas duas vezes, mas o PS não chegou lá em nenhuma. Quanto menor for o número de deputados mais se alarga esse pequeno desfasamento; o que talvez ajude a compreender por que razão o PSD procura com tanta sofreguidão e insistência a diminuição do número de deputados.

Ora, não achando eu que o PS deva subordinar a sua posição, quanto ao número de deputados, a uma expectativa de quaisquer vantagens, muito menos acho que o PS deva consentir que o PSD o faça, em seu detrimento. E o faça, não para corrigir qualquer injustiça que no sistema actual o prejudique, mas para alargar um favorecimento com que já o sistema actual o presenteia. Também por isto, quando vejo um dirigente do PS advogar a diminuição do número de deputados, numa dócil obediência à mais rasteira agenda da direita populista, fico na dúvida sobre se está apenas mal informado ou se foi possuído por alguma tontura política.

Por outro lado, a diminuição do número deputados, que só pode fazer sentido se for mais do que um simples ajustamento numérico de três ou quatro, iria acentuar, nos distritos menos povoados, o deslizamento para uma menor proporcionalidade a que a evolução demográfica tem vindo a conduzir.

Por último, não pretendendo ser exaustivo na argumentação, acho que se deve ter em conta que um parlamento para além de ser um órgão de soberania com funções específicas de natureza política, constitucionalmente fixadas, que envolvem naturalmente tarefas que devem ser bem desempenhadas, é também uma instância que exprime e representa a diversidade política de um povo e que outorga aos governos a legitimidade democrática; ou seja, é a fonte única (no caso português) e primária da legitimidade democrática dos governos. A essa expressão e a essa representação não é indiferente o número de deputados, nem a relação entre o seu número e o número de habitantes de um país. Abaixo de um certo limiar não podem deixar de se ressentir a respectiva qualidade. E para determinar esse limiar não pode deixar de se ter em conta a análise comparatística acima esboçada.

O único argumento concreto é o da poupança. Mas a diminuição de despesas em termos relativos é tão escassa que seria estulto atribuir-lhe relevo como condicionante das escolhas quanto à questão em causa. Aliás, seria de uma enorme irracionalidade politico-institucional, desqualificar o cerne, o lugar central da democracia em nome de uma pequena poupança, que poderia tornar inúteis muitas outras despesas em zonas políticas menos nobres ou mais periféricas, zonas essas que elas sim devem ser as que mereçam o reexame que possa conduzir a desejadas contenções de gastos. Repito, tentar essas contenções no número de deputados é pura demagogia simbólica, simples rendição, discreta mas efectiva, ao ranço mais desprezível dos ódios à democracia cultivados pelos sectores mais conservadores da nossa sociedade.
Em suma, faz bem o PS ao recusar firmemente a diminuição do número de deputados, não cedendo nem à sofreguidão interesseira do PSD, nem à vozearia rasteira do populismo mediático que odeia salazarentemente tudo o que cheira a órgãos eleitos.


De facto, deverão ser outras as suas preocupações do PS neste campo, tais como:

1º- instituir as eleições primárias, como método de escolha dos candidatos do PS ;

2º- garantir um leque diversificado
e ambicioso de competências políticas, técnica e culturais no seu grupo parlamentar ;
3º- procurar fazer com que a escolha dos deputados do PS recaia sobre pessoas cuja indicação prestigie mais o PS do que a elas próprias."

Depois do texto uma prevenção:

Nada de politicamente mais estéril e de eticamente mais discutível do que procurar compensar um conservadorismo imobilista quanto ao modo de funcionamento do PS, com cedências no plano institucional feitas na esteira do PSD ao populismo anti-parlamentar e reaccionário que sopra no ambiente de confusão reinante. 
E nada pode agravar mais  o risco dessa deriva do que passar por cima da realidade( ou não ter o cuidado de a conhecer) e recorrer a argumentos superficiais que possam parecer tontos.


quinta-feira, 8 de maio de 2014

CONTRACAPA DA VÉRTICE PROIBIDA PELA CENSURA - 3

Eis a terceira da série de frases, destinadas à Contracapa da revista Vértice, cuja publicação a censura salazarista proibiu.

VÉRTICE - Nº 289 - Outubro de 1967
"Pois, embora os usurpadores tomem as rédeas do governo por algum tempo, os céus são justos e o tempo suprime as iniquidades."


SHAKESPEARE

sábado, 3 de maio de 2014

CONTRACAPA DA VÉRTICE PROIBIDA PELA CENSURA - 2



Eis a segunda da série de frases, destinadas à Contracapa da revista Vértice, cuja publicação a Censura salazarista na altura proibiu.

Vértice - Nº 267 – Dezembro de 1965
"Uma sociedade onde a paz não tem outras bases senão a inércia dos súbditos – que se deixam levar como carneiros e se não exercitam senão na escravidão – não é uma sociedade, é uma solidão."


Espinosa  

sexta-feira, 2 de maio de 2014

CONTRACAPA DA VÉRTICE PROIBIDA PELA CENSURA - 1

1. Recentemente, repeti a publicação de frases da contracapa da revista Vértice que haviam sido divulgadas neste blog, a partir de 6 de  Fevereiro de 2010. Isso ocorreu com 21 das 50 frases que haviam sido difundidas nessa altura.

Hoje, vou iniciar a transcrição de uma série de dez frases aqui publicadas em  2011. No caso destas dez frases, trata-se de textos que a censura salazarista  proibiu.

Como então aqui disse, foi no espólio documental correspondente à primeira série da revista da Vértice, existente no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, que encontrei esses textos. Museu esse que, como aqui escrevi, “é o resultado de uma parceria feliz entre a associação que é a alma do Museu e a Câmara Municipal que soube incorporá-lo e acarinhá-lo. Uma parceria que oferece à cultura portuguesa um precioso instrumento, perpetuando muito justamente a memória de um dos mais importantes movimentos culturais do século XX português, o movimento neo-realista”.

Os números a que se vão referir são os que constam das provas censuradas, sendo por isso natural que na série das frases realmente publicadas surjam menções de números que repetem os que nesta série são referidos.

O facto de publicar de novo  esta série de textos da contracapa da Vértice, não impede que depois retome a série das frases efectivamente publicadas depois de vencerem o crivo da Censura.

Recorde-se que a primeira série a revista Vértice, se editou em Coimbra, entre Maio 1942 e Dezembro de 1986. A segunda série iniciou-se em Lisboa, em Abril de 1988, sob a responsabilidade da Editorial Caminho, e ainda hoje está em curso.

Como já disse neste blog : "Fiz parte da Redacção da revista Vértice, entre 1964 e [Dezembro de ]1974. (...) Durante dez anos, (...) integrei a redacção que se reunia na sede da revista na Rua das Fangas. As reuniões eram dirigidas por Joaquim Namorado, director de facto, que coordenava toda a vida da revista. (...) Durante cerca de ano e meio, cheguei mesmo a ser secretário da redacção da revista, como antes o haviam sido, entre outros, José Carlos de Vasconcelos e Fernando António de Almeida, e depois, viriam a sê-lo Carlos Fraião, Fernando Moura e João Seiça Neves”.


2. Eis a primeira da série de frases, destinadas à Contracapa da Vértice, cuja publicação a Censura na altura proibiu.


Vértice - Nº 341 – Junho de 1972

"São as classes chamadas superiores que têm perdido Portugal, serão as classes trabalhadoras, as mais humildes, mas as mais úteis e activas, as de maior fé e de maior dedicação, as que contribuirão para o salvar".

Afonso Costa (discurso parlamentar de 06/02/1907)