Se a multidão das vítimas se mover racional e
organizadamente contra os pontos fracos das muralhas, o castelo não resistirá muito
tempo. Se deixar que a raiva cega a ocupe, que a justiça do que pretende se
dissipe numa revolta sem objecto, o castelo não correrá perigo.
Se a vertigem do imediato se apossar da multidão injustiçada
e a transformar num toiro enraivecido, os senhores do capital, os barões do
dinheiro, continuarão tecendo a desgraça dos povos sem perturbação. De facto,
quem puser toda a sua energia no passo que está a dar ficará mais fraco para
seguir o seu caminho. Ora, o caminho da libertação é longo, complexo e difícil,
mas se a multidão ficar parada no tempo podre da injustiça, nunca alcançará a
liberdade, permanecendo à mercê dos poderes de facto, sem mediações nem protecção.
Por isso, não havendo caminho nem libertação, sem coragem nem
persistência, a nenhum lado se chegará sem inteligência política. E a primeira
tarefa da inteligência política é assumir o combate à neblina ideológica que
nos rodeia, disfarçando os nosso inimigos, tingindo de sombras os nossos
amigos e escondendo-nos muitas vezes de nós próprios.
E é bom que nunca esqueçamos : a multidão somos nós; nós
também somos multidão.
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