sábado, 12 de outubro de 2013

MULTIDÃO


Se a multidão das vítimas se mover racional e organizadamente contra os pontos fracos das muralhas, o castelo não resistirá muito tempo. Se deixar que a raiva cega a ocupe, que a justiça do que pretende se dissipe numa revolta sem objecto, o castelo não correrá perigo.

Se a vertigem do imediato se apossar da multidão injustiçada e a transformar num toiro enraivecido, os senhores do capital, os barões do dinheiro, continuarão tecendo a desgraça dos povos sem perturbação. De facto, quem puser toda a sua energia no passo que está a dar ficará mais fraco para seguir o seu caminho. Ora, o caminho da libertação é longo, complexo e difícil, mas se a multidão ficar parada no tempo podre da injustiça, nunca alcançará a liberdade, permanecendo à mercê dos poderes de facto, sem mediações nem protecção.

Por isso, não havendo caminho nem libertação, sem coragem nem persistência, a nenhum lado se chegará sem inteligência política. E a primeira tarefa da inteligência política é assumir o combate à neblina ideológica que nos rodeia, disfarçando os nosso inimigos, tingindo de sombras os nossos amigos  e escondendo-nos muitas vezes de nós próprios.


E é bom que nunca esqueçamos : a multidão somos nós; nós também somos multidão.

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