quarta-feira, 17 de abril de 2013

Poema ao 17 de Abril de 1969




no tempo dos desertos e das sombras
quando as manhãs custavam a chegar

fomos o gesto que não tem fronteiras
com sílabas sem medo com revolta

no pano negro que não tinha fim
rasgou-se então uma pequena luz

e as noites começaram a murchar
presas na teia do seu próprio fim

nos pátios tão augustos dos saberes
uma pequena luz foi inventada

sem o sabermos fomos a semente
do vento que chamou por outros ventos

[Rui  Namorado]

2 comentários:

marceloribeiro disse...

Como sempre: bem!, muito bem.
Abraço
M.

António Horta Pinto disse...

Belíssimo poema, como sempre!

É uma grande verdade que "o vento chamou por outros ventos", que vieram a tornar-se "ciclónicos" em Abril de 1974.

Só é pena que, aparentemente, esses ventos não tenham chegado até hoje. Custa-me a compreender que os atuais estudantes, com tantas razões de queixa que têm, não sigam o exemplo do 17 de Abril. Ontem protestaram, mas não foram além de uma manifestaçãozita com escassas dezenas de pessoas.
Que é feito das gloriosas tradições democráticas da Academia de Coimbra?