sexta-feira, 22 de junho de 2012

O CASO DO MINISTRO EMBRAVECIDO


O misterioso caso do ministro embravecido, também conhecido pelo Caso Relvas, atolou-se um pouco mais na lama das tergiversações.

Apesar de contar com dois elementos saudáveis, a ERC, comandada pelo pequeno Magno, acaba de entrar, maioritariamente, no vasto clube dos “renhau-nhau-béu-béu”. De facto, após decidir doutamente, em longas sessões de minuciosa reflexão, que o ministro embravecido tinha feito pressões, mergulhou fragorosamente na destranscendência mais tosca, quando vislumbrou no âmago dessas pressões uma misteriosa licitude. É certo que ronronou melifluamente uma vaga alusão a uma ética de que o ministro se terá distanciado, mas sempre a uma prudente distância de qualquer condenação. Forte por  uma alegada atmosfera da serenidade mais grave, a ERC cometeu a pernóstica proeza de absolver condenando ou de condenar absolvendo.

Aliás, o pequeno Magno, na sua pose imperial, quando comentou a decisão que esforçadamente conseguiu na sua ERC, pela esmagadora maioria de três votos contra dois, a razão que alegou para se sentir “confortável” não foi a óbvia razão de ter apurado a verdade, mas uma algaraviada qualquer que nada tinha a ver com os factos em apuração.

Ou seja, nem ele se atreveu a dizer que tinham apurado a verdade, que era no entanto o que se lhes pedia. E assim ficou claro que a própria maioria da ERC sabe que fugiu da verdade em vez de a procurar.

Já antes, o embravecido Relvas ostentara publicamente a evidência de uma mentira , quando após ter negado quaisquer pressões sobre uma jornalista, reconheceu que lhe tinha pedido desculpa. Confrontado com a grosseira contradição, tirou apressadamente um coelho da cartola. Um coelho  gasto, improvável, falhado. Na verdade, acabou por dizer que pediu desculpa pelo tom e não pelo conteúdo.

Ou seja, o inefável Relvas deu-se a ao trabalho de pegar no telefone para dizer a uma jornalista, a propósito de uma notícia que lhe dizia respeito, num tom agressivamente grosseiro, um conjunto de coisas de conteúdo anódino ou até amável. Ou seja, o ministro Relvas reconheceu implícita e publicamente que mentiu. A não ser que achemos natural que qualquer de nós, quando quiser dizer coisas amáveis a alguém, o faça num tom grosseiro e agressivo, para mais tarde lhe pedir desculpa pelo tom. Mas desculpa de quê se só lhe disse coisas boas ou inócuas. Ou seja, desta vez o espertalhão do Relvas meteu os pés pelas mãos.

Depois,apanhado o homem nesta escorregadela da verdade, agarrou-se como náufrago a uma tábua de salvação, ao resto já escalavrado de uma mentira , insistindo desesperadamente na sua verdade. De facto, quem acha verosímil que, não tendo Relvas feito a sombra de uma ameaça à jornalista, tenha sido ela a enlamear-se a si própria, para culpar da sujeira o inocente ministro. Só mesmo Magno e os dois “erquistas” indicados pelo PSD.

Temos, portanto, que salvar este governo de um ministro que ostensivamente faltou à verdade, na AR e em declarações públicas. E que faltou à verdade, porque com essa mentira pretendeu ocultar pressões que fez a uma jornalista que escreveu ou podia escrever verdades que não lhe convinham, sendo essas verdades relacionadas com gravíssimos anomalias e promiscuidades que envolviam Relvas e os serviços secretos do Estado português. Temos que ajudar este governo a desembaraçar-se deste ministro, já. E eis aqui uma ajuda ao Governo que o PS não pode deixar de dar. Urgentemente. Energicamente.

[ Com a devida vénia, fui buscar a figura que ilustra este texto ao blog Kaosinthwegarden.]

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