O misterioso caso do ministro embravecido, também conhecido
pelo Caso Relvas, atolou-se um pouco mais na lama das tergiversações.
Apesar de contar com dois elementos saudáveis, a ERC, comandada pelo pequeno Magno, acaba de entrar, maioritariamente, no vasto
clube dos “renhau-nhau-béu-béu”. De facto, após decidir doutamente, em longas sessões de minuciosa reflexão, que o ministro embravecido tinha feito
pressões, mergulhou fragorosamente na destranscendência mais tosca, quando
vislumbrou no âmago dessas pressões uma misteriosa licitude. É certo que
ronronou melifluamente uma vaga alusão a uma ética de que o ministro se terá
distanciado, mas sempre a uma prudente distância de qualquer condenação. Forte por uma alegada atmosfera da serenidade mais grave, a ERC cometeu a pernóstica proeza
de absolver condenando ou de condenar absolvendo.
Aliás, o pequeno Magno, na sua pose imperial, quando comentou
a decisão que esforçadamente conseguiu na sua ERC, pela esmagadora maioria de três
votos contra dois, a razão que alegou para se sentir “confortável” não foi a óbvia
razão de ter apurado a verdade, mas uma algaraviada qualquer que nada tinha a
ver com os factos em apuração.
Ou seja, nem ele se atreveu a dizer que tinham apurado a
verdade, que era no entanto o que se lhes pedia. E assim ficou claro que a própria
maioria da ERC sabe que fugiu da verdade em vez de a procurar.
Já antes, o embravecido Relvas ostentara publicamente a evidência
de uma mentira , quando após ter negado quaisquer pressões sobre uma jornalista,
reconheceu que lhe tinha pedido desculpa. Confrontado com a grosseira contradição, tirou apressadamente um coelho da cartola. Um coelho gasto, improvável, falhado. Na verdade, acabou
por dizer que pediu desculpa pelo tom e não pelo conteúdo.
Ou seja, o inefável Relvas deu-se a ao trabalho de pegar no telefone
para dizer a uma jornalista, a propósito de uma notícia que lhe dizia respeito,
num tom agressivamente grosseiro, um conjunto de coisas de conteúdo anódino ou
até amável. Ou seja, o ministro Relvas reconheceu implícita e publicamente que
mentiu. A não ser que achemos natural que qualquer de nós, quando quiser dizer
coisas amáveis a alguém, o faça num tom grosseiro e agressivo, para mais tarde lhe pedir desculpa pelo tom. Mas desculpa de quê se só lhe disse coisas boas ou inócuas. Ou seja, desta vez o espertalhão do Relvas meteu os pés pelas mãos.
Depois,apanhado o homem nesta escorregadela da verdade, agarrou-se
como náufrago a uma tábua de salvação, ao resto já escalavrado de uma mentira , insistindo
desesperadamente na sua verdade. De facto, quem acha verosímil que, não tendo Relvas
feito a sombra de uma ameaça à jornalista, tenha sido ela a enlamear-se a si própria,
para culpar da sujeira o inocente ministro. Só mesmo Magno e os dois “erquistas” indicados
pelo PSD.
Temos, portanto, que salvar este governo de um ministro que
ostensivamente faltou à verdade, na AR e em declarações públicas. E que faltou à
verdade, porque com essa mentira pretendeu ocultar pressões que fez a uma
jornalista que escreveu ou podia escrever verdades que não lhe convinham, sendo
essas verdades relacionadas com gravíssimos anomalias e promiscuidades que
envolviam Relvas e os serviços secretos do Estado português. Temos que ajudar este governo a desembaraçar-se deste ministro, já. E eis aqui uma ajuda ao Governo que o PS não
pode deixar de dar. Urgentemente. Energicamente.
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