sexta-feira, 29 de junho de 2012

DISCUTIR A EUROPA


1. Hoje, dia 29 de junho, sexta-feira, às 21 h e 30 m, o   “CLUBE MANIFESTO – para uma renovação socialista”, vai promover mais um colóquio no Hotel D. Luís, em Coimbra. 
O colóquio é de entrada livre, pelo que todos  os cidadãos interessados em discutir a Europa se podem considerar como convidados.
O tema do colóquio será: “A Europa no seu Labirinto”. 
O interveniente convidado será Augusto Rogério Leitão, Professor de Relações Internacionais na FEUC.
O interveniente membro do Clube Manifesto será Luís Marinho, ex-deputado europeu.
O debate será moderado por um outro membro do Clube, António Casimiro Ferreira.

  
2. Os problemas acumulam-se no horizonte europeu. Os dirigentes políticos, quase exclusivamente pertencentes ao Partido Popular Europeu, mostram-se  incapazes de solucionar os problemas a que o fanatismo neoliberal  conduziu. Mas, nos últimos tempos, houve mudanças políticas importantes. A insalubre pareceria  germano-francesa desvaneceu-se com a vitória dos socialistas em França. A evidência de que a chamada crise das dívidas soberanas foi sempre, essencialmente, uma crise do euro no seu todo; e de que as políticas da União Europeia (e não as decisões nacionais) foram a principal causa do seu agravamento, cria uma desorientação crescente entre  os principais dirigentes europeus, que fogem com uma dificuldade cada vez maior ao imperativo de reconhecerem que seguiram  o caminho errado.
3. É uma boa ocasião para se discutir a Europa. Tanto mais que mesmo as instâncias dirigentes das várias esquerdas europeias parecem confinadas a uma fraseologia  repetitiva  , própria de quem parece perdido e longe de qualquer ideia consistente que possa realmente fazer-nos sair do atoleiro em que estamos.

domingo, 24 de junho de 2012

OS MAGNOS PODEM SER PEQUENOS



As primeiras informações que transpiraram acerca da deliberação da ERC sobre o Caso Relvas deixaram no ar fortes indícios de que o grande Magno, chefe dessa autoridade, corria o risco de uma preocupante pequenez. Inesperadamente, conhecido o conteúdo da deliberação e ouvidas as suas espantosas declarações públicas, ficou-se a saber que afinal Magno não se tornou apenas pequeno. Realmente, ele condenou-se a si próprio a não ser mais do que minúsculo.

Na verdade, começou por se saber que os dois votos contra que os três”magnos” do PSD venceram, não foram apenas  o resultado de opiniões avisadas sobre um abuso de poder intolerável. Muito mais do que isso, foram a manifestação de uma recusa  mais do que legítima  de serem cúmplices de um deliberação empastelada, atrabiliária e estúpida.

Ora, no deserto lógico que a ERC tanto demorou a tecer, foi semeada  uma ameaça de oásis. Por dor de consciência do próprio Magno, foi introduzido um juízo de valor negativo sobre as reconhecidas pressões de Relvas à jornalista do Público: elas eram reconhecidas como inaceitáveis. Inaceitáveis. Mesmo esta menção não libertava a deliberação do dislate de absolver uma atitude que implicitamente condenava (como se a liberdade de decisão dos membros da ERC da confiança do PSD acabasse onde começava o generoso espaço de impunidade do ministro Relvas). Mas essa modesta alusão a uma óbvia inaceitabilidade do comportamento dele era pelo menos um pálido sinal,  um vislumbre  de imparcialidade da ERC.

Eis senão quando, mistério dos mistérios, essa ligeira  presença de decência da deliberação foi apagada pelo implacável dedo de um destino inesperado. Aquilo que Magno fizera questão de incluir na deliberação e que fora expressamente votado, havia desaparecido. 

Qualquer jovem estudante do nosso primeiro ciclo diria: houve um erro, corrija-se. Mas isso, era qualquer estudante do primeiro ciclo, não Magno. Para este, viu-se com espanto que mesmo essa modesta acção era para ele  uma tarefa hercúlea.

De facto, quando se esperaria que o arguto comentador dos erros dos políticos desse um enérgico murro na mesa, exigindo que se corrigisses o erro ou a falsificação  e se  apurassem responsabilidades, ei-lo que ronrona inesperadamente a mirífica ideia de que estando escrita e publicada uma falsidade não é possível recuperar a verdade. Nem sei se isto é para rir ou é para chorar. Sei que um presidente de uma autoridade de controle da maior importância defende que deve valer um texto que deturpa uma decisão tomada e é impossível corrigi-lo, de modo a que valha o que realmente foi votado. Inenarrável! Em vez de ter ordenado a imediata correcção de um texto que falseia uma deliberação, com imediata abertura de um inquérito para que se apure se houve um involuntário erro grosseiro ou uma deliberada falsificação (o que seria crime), Magno tornando-se minúsculo, diz que o erro consubstanciado na ausência de uma menção crítica às pressões de Relvas é agora uma fatalidade irremovível.

Não posso deixar de encontrar em tudo isto uma ironia objectiva. Aquele Magno enorme que ano após ano reduziu a cinzas a tantos e tantos políticos, quando tem a oportunidade de deixar o seu sinal de excelência em funções políticas importantes mostra que afinal terá muito ainda que progredir para chegar ao nível mais baixo daqueles que tão implacavelmente atacou ano após ano.


sexta-feira, 22 de junho de 2012

O CASO DO MINISTRO EMBRAVECIDO


O misterioso caso do ministro embravecido, também conhecido pelo Caso Relvas, atolou-se um pouco mais na lama das tergiversações.

Apesar de contar com dois elementos saudáveis, a ERC, comandada pelo pequeno Magno, acaba de entrar, maioritariamente, no vasto clube dos “renhau-nhau-béu-béu”. De facto, após decidir doutamente, em longas sessões de minuciosa reflexão, que o ministro embravecido tinha feito pressões, mergulhou fragorosamente na destranscendência mais tosca, quando vislumbrou no âmago dessas pressões uma misteriosa licitude. É certo que ronronou melifluamente uma vaga alusão a uma ética de que o ministro se terá distanciado, mas sempre a uma prudente distância de qualquer condenação. Forte por  uma alegada atmosfera da serenidade mais grave, a ERC cometeu a pernóstica proeza de absolver condenando ou de condenar absolvendo.

Aliás, o pequeno Magno, na sua pose imperial, quando comentou a decisão que esforçadamente conseguiu na sua ERC, pela esmagadora maioria de três votos contra dois, a razão que alegou para se sentir “confortável” não foi a óbvia razão de ter apurado a verdade, mas uma algaraviada qualquer que nada tinha a ver com os factos em apuração.

Ou seja, nem ele se atreveu a dizer que tinham apurado a verdade, que era no entanto o que se lhes pedia. E assim ficou claro que a própria maioria da ERC sabe que fugiu da verdade em vez de a procurar.

Já antes, o embravecido Relvas ostentara publicamente a evidência de uma mentira , quando após ter negado quaisquer pressões sobre uma jornalista, reconheceu que lhe tinha pedido desculpa. Confrontado com a grosseira contradição, tirou apressadamente um coelho da cartola. Um coelho  gasto, improvável, falhado. Na verdade, acabou por dizer que pediu desculpa pelo tom e não pelo conteúdo.

Ou seja, o inefável Relvas deu-se a ao trabalho de pegar no telefone para dizer a uma jornalista, a propósito de uma notícia que lhe dizia respeito, num tom agressivamente grosseiro, um conjunto de coisas de conteúdo anódino ou até amável. Ou seja, o ministro Relvas reconheceu implícita e publicamente que mentiu. A não ser que achemos natural que qualquer de nós, quando quiser dizer coisas amáveis a alguém, o faça num tom grosseiro e agressivo, para mais tarde lhe pedir desculpa pelo tom. Mas desculpa de quê se só lhe disse coisas boas ou inócuas. Ou seja, desta vez o espertalhão do Relvas meteu os pés pelas mãos.

Depois,apanhado o homem nesta escorregadela da verdade, agarrou-se como náufrago a uma tábua de salvação, ao resto já escalavrado de uma mentira , insistindo desesperadamente na sua verdade. De facto, quem acha verosímil que, não tendo Relvas feito a sombra de uma ameaça à jornalista, tenha sido ela a enlamear-se a si própria, para culpar da sujeira o inocente ministro. Só mesmo Magno e os dois “erquistas” indicados pelo PSD.

Temos, portanto, que salvar este governo de um ministro que ostensivamente faltou à verdade, na AR e em declarações públicas. E que faltou à verdade, porque com essa mentira pretendeu ocultar pressões que fez a uma jornalista que escreveu ou podia escrever verdades que não lhe convinham, sendo essas verdades relacionadas com gravíssimos anomalias e promiscuidades que envolviam Relvas e os serviços secretos do Estado português. Temos que ajudar este governo a desembaraçar-se deste ministro, já. E eis aqui uma ajuda ao Governo que o PS não pode deixar de dar. Urgentemente. Energicamente.

[ Com a devida vénia, fui buscar a figura que ilustra este texto ao blog Kaosinthwegarden.]

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A EUROPA NO SEU LABIRINTO.


1. O “CLUBE MANIFESTO – para uma renovação socialista”, vai promover mais um colóquio que terá lugar, no próximo dia 29 de junho, sexta-feira, às 21 h e 30 m, no Hotel D. Luís, em Coimbra. 

O tema do colóquio será: “A Europa no seu Labirinto”.
O interveniente convidado será Augusto Rogério Leitão, Professor de Relações Internacionais na FEUC.
O interveniente membro do Clube Manifesto será Luís Marinho, ex-deputado europeu.
O debate será moderado por um outro membro do Clube, António Casimiro Ferreira.



Todos os cidadãos interessados em discutir a Europa podem considerar-se nossos convidados.  
 

2. Os problemas acumulam-se no horizonte europeu. Os dirigentes políticos, quase exclusivamente pertencentes ao Partido Popular Europeu,  parecem cada vez mais incapazes de solucionarem os problemas a que o seu fanatismo neoliberal nos conduziu. Os numerólogos conservadores, que se julgam economistas, possuídos pela ilusão  de que  o modelo capitalista actual é eterno, cultivam uma nova  alquimia de falsos axiomas eticamente repugnantes e  politicamente absurdos. Axiomas que desqualificam  e agridem barbaramente os trabalhadores, ao mesmo tempo que servilmente se subordinam o capital. Confrontados com a evidência dos próprios erros, parecem mais dispostos a agravá-los (como se desse modo pudessem   transformá-los em acertos) do que a corrigi-los.
Mas, nos últimos tempos, a conjuntura passou por mudanças marcantes. O eixo conservador germano-francês desvaneceu-se com a vitória dos socialistas em França. A evidência de que a chamada crise das dívidas soberanas foi sempre, essencialmente, uma crise do euro no seu todo e de que as políticas da União Europeia (e não as decisões nacionais) foram a principal causa do seu agravamento, reduzem os principais dirigentes europeus a uma tropa fandanga, desorientada e medíocre, que sobrevive a si própria numa embriaguez perturbante.
3. É uma boa ocasião para se discutir a Europa. Tanto mais que mesmo as instâncias dirigentes das várias esquerdas europeias parecem confinadas a uma fraseologia  repetitiva  , própria de quem parece perdido e longe de qualquer ideia consistente que possa realmente ajudar-nos a sair do atoleiro em que estamos.

Tal como aconteceu com os anteriores, este Terceiro Colóquio do Manifesto vai decerto correr bem.

domingo, 17 de junho de 2012

AS MAÇÃS IMPOSSÍVEIS DA Sra. MERKL


O clamor cresce. Pedem-se coisas à Sr.ª Merkl, pedem-se coisas ao FMI, pedem-se coisas ao BCE.

A  loiraça teutónica rosna com animosidade crescente contra  a malandragem do Sul.

No sul os anafados acham que sim, que a loiraça tem razão. Estão rodeados por uma enorme malandragem, pobre é certo, mas malandragem. Não é aos seus ferraris que a sereia gorda alemã se refere. Os magros do sul, mês após mês inventando novos buracos nos cintos para os apertarem mais, olham-se ao espelho esquálidos e não compreendem que consumismo desembestado tenham praticado para merecerem os raios implacáveis da deusa germânica. Não percebem, mas desconfia-se que a própria deusa também não compreende o sentido último do que diz. Diz o que se recearia que dissesse e desse modo mostra-se prussiana  e nórdica, como se esperava.

Os alquimistas do fetichismo economicista alimentam diligentemente essa e outros deuses, cada vez mais convencidos que a realidade social tem algo de errado que contraria a eficácia das suas mezinhas. Mas uma coisa denodadamente não fazem : admitir, por um instante que seja, que o defeito está na qualidade do que receitam e não numa modesta realidade social que se limite a ser ela própria, sem estados de alma.

O clamor cresce. Pedem-se coisas à Sr.ª Merkl, pedem-se coisas ao FMI, pedem-se coisas ao BCE. É estranho. [E aqui peço licença para me repetir]: Se eu olhasse para essa plantação de inesperados cromos como se fossem um prosaico laranjal, esse clamor equivaleria a pedir-lhe que nos desse maçãs, que nos desse maçãs. Acham provável que as dê?

Confesso-me céptico: eu não acho!

E é por isso que, cada vez mais, me convenço que se queremos realmente maçãs será mais acertado plantar macieiras do que continuar pateticamente a instar os laranjais para que produzam maçãs.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

NADA MENOS DO QUE TODA A VERDADE


Uma neblina insalubre de suspeição tem vindo a rondar o PS, fazendo-o confundir com um ps em letra pequena, aparentemente protagonizado por jovens turcos com jeito para os negócios, uma pequena prótese desprestigiante que, no entanto, nos atinge no coração da nossa credibilidade política e de uma ética que devia ser natural e quotidiana. Uma pequena prótese é certo, mas talvez demasiado próxima, por vezes, de núcleos de poder político-partidário, dos quais deveria ter sido colocada bem longe.

É bem verdade que os que caiem agora sobre o PS como mastins de virtude são veludos de esquecimento, quando a suspeição recai em gente de outros quadrante políticos. Se, apesar disso, tiverem razão quanto às irregularidades que apontam, não é a sua parcialidade que diminui a censurabilidade dos comportamentos que denunciam. Por isso, também o PS só pode exigir que todos os factos sejam apurados, para que se verifique se houve erros, se mais do que erros houve irregularidades, se mais do que irregularidades houve crimes. Que se apurem os factos com celeridade, todos os factos, que se tirem deles todas as consequências jurídicas, todas as consequências sancionatórias que no quadro do nosso Estado de direito devam ser tiradas.

No entanto, para além desta perspectiva não devemos, sem prévia análise, descartar a hipótese dessas acusações serem suscitadas por uma insuficiente capacidade técnico-analítica dos acusadores. Por isso, é urgente que o PS crie internamente uma comissão de peritos que reanalise, com todo o rigor, tudo o que teve a ver com as parcerias publico privadas, começando por analisar as que estão agora no centro do debate público, com imputação de culpas a governos do PS pelo modo como as negociaram. As conclusões dessa peritagem devem ser tornadas públicas e delas devem ser tiradas consequências políticas internas, se for caso disso.

É imperativo que todo o PS garanta o máximo de cooperação e o máximo de empenhamento próprio no apuramento completo de tudo o que envolve as PPP em causa. Menos que isso, é eticamente inaceitável e politicamente suicida.

Mas esse intransigente rigor não pode funcionar apenas quanto ao que diz respeito ao próprio PS. Temos que ser também exigentes para com os outros, para com os nossos adversários, quanto a tudo o que envolva a hipótese de eles estarem envolvidos na prática de irregularidades ou de crimes, em atropelos da legalidade ou da ética política.

É certo que a nuvem de poluição oriunda das PPP parece uma oportuna encomenda destinada a desviar as atenções do aflito ministro Relvas, para fazer esquecer a enorme montanha de promiscuidades que se perfila no horizonte, misturando o actual governo, as secretas e os negócios, numa ressurreição de uma atmosfera pidesca que arrepia. Por isso mesmo, é urgente saber-se com objectividade o que há de verdadeiro em toda esta neblina insalubre. Conhecer a verdade para dela tirar em todos os planos as consequências jurídicas e políticas inerentes ao funcionamento de um estado de Direito democrático. Quanto ao PS, mas também quanto aos partidos que suportam o actual governo.

Não esqueçamos: não se trata apenas da habitual esgrima política em cada um se procura limpar e sujar o outro. Trata-se da exigência para com o nosso lado, mas também para com o outro, de desembaraçar a nossa democracia de uma atmosfera corrosiva que só pode debilitá-la. Por isso, nesta circunstância a actual direcção do PS tem pela frente no imediato  uma enorme exigência da qual não tem como escapar. É essencial para a nossa democracia que esteja  realmente à altura do que as circunstâncias lhe impõem.