segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O FMI E OS MIGUELVASCONCELISTAS


Nem o complexo mediático-financeiro que domina a agenda económica mundial, ao dar conta de pressões da Alemanha e da França sobre Portugal, para que recorramos ao FMI, nem ele, citou factos novos que, mesmo à luz da maneira unilateral como encara o mundo, dessem alguma base racional objectiva a essas pressões.

Não esconderam, assim, que essas notícias tinham mais a ver com alegados receios indefinidos e com interesses especulativos exteriores a Portugal, do que com qualquer procedimento errado que atribuíssem ao governo português. A Alemanha e a União Europeia já desmentiram, aliás, formalmente, a existência dessas pressões.

Mas, apesar de essas inqualificáveis notícias sobre pressões externas não terem, assumidamnente, nada que ver com qualquer eventual actuação menos feliz atribuída ao Governo português, quer Passos Coelho, quer Paulo Portas, se apressaram a responder-lhes da pior maneira. De facto, não só guardaram um vergonhoso e ronronante silêncio, próprio de mansos bichanos, em face das pressões noticiadas, mas também atacaram sôfrega e ferozmente o actual Governo, afirmando que, se viesse o FMI, ele não podia continuar.

Isto é, Portugal e o seu actual governo são vítimas de pressões e ameaças ilegítimas, lesivas do interesse e da soberania nacional, perpetradas por centros de poder estrangeiros. As oposições de direita apoiantes da Cavaco, em vez de levantarem a sua voz contra os poderes fácticos estrangeiros que nos agrediram, tiveram o despudor de se associarem a essa agressão. E associaram-se a ela na medida em que encararam o actual Governo, não como uma das vítimas, mas como o causador da alegada vinda do FMI que assim indirectamente branqueiam e legitimam. E, nessa medida, alegam que um Governo do PS não teria condições para continuar no Governo se essa ameaça se viesse a consumar.

É estranho que os mesmo agentes políticos que enchem a boca com a palavra Pátria e a cada momento ostentam uma enorme portugalidade, se comportem na prática, em momentos cruciais, de modo idêntico ao assumido por qualquer miguel de vasconcelos que existisse nos nossos dias.

É estranho e não deixa de ser vergonhoso.

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