sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Minha Pátria é a lingua portuguesa.


No jornal brasileiro "Folha de S. Paulo" vem hoje publicado o texto de autoria de Thiago Guimarães sob o título,"Português terá de ser ensinado em todas as escolas argentinas", o qual a seguir se transcreve:


"O ensino do português passará a ser obrigatório na Argentina, em escolas de nível médio e também em escolas primárias de Províncias da região de fronteira com o Brasil.A disciplina será optativa para estudantes de instituições públicas e privadas, mas as escolas deverão ofertá-la de maneira permanente.Projeto de lei sobre o tema foi aprovado por unanimidade anteontem à noite pelo Senado, após ratificação também unânime na Câmara de Deputados. A iniciativa agora vai à sanção da presidente Cristina Kirchner.A Argentina agora se equipara ao Brasil, que tornou obrigatório o ensino de língua espanhola em agosto de 2005, com prazo de cinco anos para implantação da lei.As leis aprovadas são semelhantes. No Brasil, o ensino de língua espanhola também é de oferta obrigatória e matrícula facultativa no ensino médio. A lei brasileira também abre a possibilidade de inclusão da disciplina no ensino fundamental.A norma argentina determina que a lei esteja em plena vigência até 2016, com prioridade para as Províncias da região de fronteira -Misiones, Entre Ríos e Corrientes.A senadora governista Blanca Osuna, presidente da Comissão de Educação do Senado, reconheceu à Folha que haverá dificuldades até que a lei saia do papel. Disse que a capacitação do corpo docente para o ensino do português é desigual nas Províncias e que as regiões de fronteira saem na frente.Osuna disse, contudo, ter sentido disposição favorável do setor de educação e afirmou que a presidente irá sancionar a medida. "Recebi muitas mensagens de pessoas e instituições que manifestavam interesse e satisfação pelo passo que estávamos dando."´

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Esta notícia deve dar-nos que pensar. Comecemos por conjugá-la com a evidência crescente de que a língua de cada povo é um insubstituível recurso cultural, um vector da sua identidade histórica e um elemento nuclear da sua afirmação na cena internacional. Não estamos, por isso, autorizados a esquecer que a língua portuguesa está entre as dez línguas mais faladas do mundo, sendo uma das poucas que é língua oficial em países de mais três continentes, além daquele de que é originária.

Devemos também ponderar a medida em que é indispensável uma maior ambição e uma maior sistematicidade numa política de reforço da difusão e dignificação da língua portuguesa, no mundo, nos areópagos internacionais, mas também em Portugal. De facto, não podemos consentir que um imediatismo tonto esqueça que a nossa língua não é comparável a uma das muitas línguas de outros países europeus que apenas são línguas oficiais em pequenos espaços geográficos de um único Continente.

Por isso, se é certo que é importante difundir o uso de outras línguas, através do sistema de ensino e por outros meios, se é importante o diálogo cultural que só o conhecimento de mais do que uma língua verdadeiramente possibilita, se é compreensível a importância de uma difusão generalizada do uso do inglês, como segunda língua, nunca poderemos admitir que o português em Portugal não seja realmente a língua oficial e a primeira língua.

Como maus exemplos gritantes que devem ser corrigidos, cito o verdadeiro escândalo que representa o facto de, sob um um estranho manto de silêncio mediático e a complacência insólita dos poderes públicos, haver concursos de projectos financiados por dinheiros do Estado e processos de avaliação de entidades sob controle público, integrados apenas por textos redigidos em inglês.

Como podemos querer dar um estatuto internacional mais ambicioso à língua portuguesas, se nem sequer lhe damos a primazia em Portugal? Como é admissível que em instituições públicas portuguesas, situadas em Portugal funcionando principalmente com portugueses para uso de portugueses haja reuniões formais que decorrem sob a égide da língua inglesa ?

O poder político não pode continuar adormecido, permitindo que, por omissão, se estrague, por um lado, o que se constrói, esforçadamente, por outro.

Paralelamente, o exemplo que ressalta da notícia transcrita sugere que, talvez, valha a pena explorar uma via que alguns especialistas aconselham e que se traduz na elaboração de estratégias cooperativas, para a expansão de línguas com grandes afinidades entre si. Seria, por exemplo, o caso do português e do espanhol, que poderiam assim ganhar uma outra capacidade de irradiação mundial. De facto, envolver a Península Ibérica, a América Latina e os PALOPS de outros continentes, numa estratégia global, que potenciasse a difusão de ambas as línguas, sem prejuízo da salvaguarda das respectivas especificidades e da sua diferenciação, poderia criar uma dinâmica que aproximasse este conjunto do relevo que tenderão a ter o inglês e o chinês.

De uma maneira ou de outra, o que parece claro é que uma política de língua é hoje em dia, no caso de línguas como a portuguesa, um elemento estruturante de uma política de cultura, mas também um factor relevante da política internacional, da política económica e da política comercial.

Não se reduz por isso a uma política sectorial, que se possa deixar ao cuidado de um pequeno departamento perdido num qualquer recanto da burocracia estatal. Tem que ser uma política de Estado, um dos aspectos essenciais da política internacional do Estado português, um vector decisivo para que possa ter completo êxito a nossa inserção no projecto europeu .

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo inteiramente.
E até há leis, decretos-leis e portarias recheados, com a maior naturalidade, de palavras e expressões inglesas!
Por isso acho importante a implementação do acordo ortográfico. Com efeito, a continuar a haver duas ortografias, qual é que vai ser ensinada na Argentina ou noutros países latino-americanos? É evidente que é a brasileira! Eu gostava mais de continuar a escrever como sempre escrevi, e a ler como sempre li, mas razões pragmáticas importantíssimas levam-me a achar que temos de ceder qualquer coisa para que o português tenha o lugar que lhe cabe no mundo.É que, se não houver unificação, será o "nosso" português que será considerado em todo o mundo como um dialecto do brasileiro! Temos de ser relistas.