terça-feira, 4 de março de 2008

Eleições em Itália: uma sondagem



Começo este texto com uma recomendação técnica: cliquem sobre o quadro que contém os números da sondagem, para assim o poderem ler num formato maior que assim o torne visível.
Esta sondagem, publicada já durante o corrente mês de Março, fornece um panorama actualizado da distribuição das expectativas, quanto às eleições que, em breve, vão decorrer em Itália.
Apesar de não ter sido possível modificar as leis eleitorais, como quase todos os quadrantes políticos defendiam, o panorama político italiano é muito diferente daquele que existia nas eleições anteriores.
Como se sabe, a Itália foi governada, até há pouco tempo, por um Governo de centro-esquerda , liderado por Romano Prodi, contra o qual combatia uma grande coligação de direita, liderada por Sílvio Berlusconi. Por força das leis eleitorais existentes, os dois campos estavam praticamente empatados no Senado, embora o Governo tivesse uma confortável maioria na Câmara de Deputados. A coligação que apoiava o Governo (a União) ia desde os comunistas e os verdes,até aos centristas católicos da UDEUR e aos liberais-democratas seguidores de Lambero Dini. Foram precisamente esses dois pequenos agrupamentos moderados a causa próxima da queda do Governo, por lhe terem retirado o apoio, fazendo-o perder uma votação decisiva no Senado.
Mas a grande novidade política recente foi a fusão dos ex-comunistas ( DS) com os democratas -cristãos de esquerda ( Margarida), no novo Partido Democrático. Berlusconi achou por bem responder e diluiu a sua "Força Itália" num novo partido, o Povo da Liberdade, para onde acbaram por entrar os ex-neo-fascistas da AN, liderada por Fini.
O Povo da Liberdade tem acordos pré-eleitorais com a Liga Norte e com o Movimento pela Autonomia da Sicília, indicando todos eles como candidato a Primeiro-Ministro, Sílvio Berlusconi.
Em contraponto, o Partido Democrático tem acordos pré-eleitorais com a Itália dos Valores ( Di Pietro ), havendo a hipótese ( tida como certa na sondagem) de incluir radicais nas suas listas, com destaque para a popular Ministra cessante, Emma Bonino; todos convergindo na designação de Walter Veltroni , leader do PD, como candidato a primeiro-ministro.
Neste momento, o bloco que se congregou em torno do PD atinge 36% e o que apoia Berlusconi chega aos 43%. A vantagem é grande, mas nos últimos tempos o PD subiu significativamente nas sondagens, ao mesmo tempo que o PDL estagnava.
Mas a paisagem política italiana não se esgota nesses dois blocos. À esquerda, sem contar com dois pequenos partidos de extrema-esquerda que encabeçam o quadro com a sondagem ( somam 1,5%), surge uma coligação que é novidade também : A Esquerda Arco-Iris, com 7,5%. Apresenta como candidato a Primeiro-ministro, Fausto Bertinotti, actual Presidente da Câmara de Deputados e ex-leader da "Refundação Comunista", com a qual convergem neste bloco, o Partido dos Comunistas Italianos, os Verdes e a Esquerda Democrática ( cisão dos Democratas de Esquerda que não aceitou a diluição no Partido Democrático, liderada por um Ministro do Governo cessante, Fabio Mussi).
Recentemente, falhou a tentativa de acordo entre o PD e o Partido Socialista Italiano ( de Boselli) que protagoniza uma tentativa de reconstituição do velho PSI, na qual se envolveu uma outra dissidência dos DS, que também não aceitou a diluição no Partido Democrático. A sondagem dá a este PSI, a magra percentagem de 1,5%.
Há também uma tentativa de constituir uma força política de centro entre o PD e o PDL, que alguns encaram como tentativa de reconstituir a velha Democracia-Cristã italiana, que foi o partido hegemónico, durante dezenas de anos do pós-guerra italiano. A sua principal componente é a UDC, partido que abandonou recentemente o bloco de Berlusconi e ao qual se juntaram alguns expoentes da democracia-cristã clássica. As sondagens atribuem a esta força ceca de 7%. Menos expressiva é a força dos democratas-cristãos da UDEUR ( 0.30) que abandonaram o Governo de Prodi, tendo-o praticamente feito cair, mas que não se conseguiram entender com Berlusconi.
O bloco de direita liderado pelo PDL ( 38%) atinge no seu todo os 43%. À sua direita há um novo partido saído dos pós-fascistas da AN, "A Direita" que vale 2,5% nas sondagens e que poderá dar o apoio a Berlusconi.
Até ás eleições, haverá uma significativa batalha política. O PD apostou fortemente na bipolarização e na redução do peso dos sectores que se situam à sua esquerda, quase todos resultantes de cisões no processo que levou do velho Partido Comunista Italiano, ao actual Partido Democrático.
Berlusconi estava confortavelmente instalado em sondagens que há mais de um ano lhe eram amplamente favoráveis, mas enfrenta agora uma conjuntura, em que inesperadamente essa vantagem parece dia a dia mais frágil.
Assim, pode acontecer que um dos dois grandes blocos possa vir a governar com sózinho estabilidade. É muito difícil que seja o PD a consegui-lo. Mas pode acontecer que os resultados eleitorais façam emergir uma Itália ingovernável. Quanto ao Centro, que joga nestas eleições uma inesperada ressurreição, podendo vir mais tarde a beneficiar da deserção dos democratas cristãos dos outros dois blocos, num hipotético cenário de ingovernabilidade. Se tudo lhe corresse bem, poderia até surgir, a médio prazo, em futuras eleições como um bloco com aspirações a voltar a ser hegemónico. A impressionante máquina política da igreja italiana, com o Vaticano ali tão perto está certamente á espreita , pronta a explorara todas as oportunidades.
E à esquerda, se for aí o epicentro de uma crise, não é impossivel que os procesos de rearrumação, que hoje parecem consumados, se reabram.
Entretanto, como ameaça surda ou pântano anunciado, há quem ponha já a hipótese de um inesperado centrão, sob o comando conjunto de Berlusconi e Veltroni. Se aí se chegar, algum dia, ficará então claro que a longa marcha feita pelos ex-comunistas italianos, longe de ser uma caminhada para o futuro, terá sido apenas uma longa agonia.

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