sábado, 29 de setembro de 2007

PSD - o recipente virtual




A relativa surpresa da eleição de Luís Filipe Menezes para lider do PSD tornou oportunas algumas reflexões.

Já há quem veja neste episódio um verdadeiro regresso do PPD, como se a sombra dessa identidade profunda do Partido sempre tivesse pairado, como fantasma pronto a regressar, sobre o disfarce radicado no marketing político que um dia travestiu o PPD de PSD. De facto, estamos perante um caso limite de inautenticidade política que se traduz no paradoxo de haver um partido oriundo do conservadorismo liberal, aliás actualmente filiado no Partido Popular Europeu, que assume uma nova designação,destinada a sugerir a pertença a uma outra família política europeia (a dos partidos socialistas, trabalhistas e sociais-democrtas europeus, todos eles integrados no Partido Socialista Europeu e na Internacional Socialista). Não se trata de um partido comunista que se esquecesse do comunismo, de um partido socialista que esquecesse o horizonte socialista, de um partido democrata cristão que nada tenha a ver com a doutrina social da igreja. Trata-se de um partido que mantendo os seus valores fundadores, o essencial do seu programa e o seu posicionamento no xadrez político, tomou um nome que o conexiona com outro espaço, outros valores e outros horizontes.Como se, envergonhando-se de ser quem era, tentasse que o chamassem de uma outra meneira.Não cabe aqui tentar compreender o que revela esta ocultação, mas apenas de recordar que esta ambiguidade identitária não pode deixar de suscitar equívocos e tensões na vida interna do PSD.

Compreende-se assim que um politólogo tão insuspeito de desvio esquerdista como é o caso José Adelino Maltez,professor catedrático de Ciência Política, seja citado no Diário de Notícias de hoje como tendo dito, referindo-se ao PSD:

"As directas têm pelo menos a vantagem de permitir uma fotografia exacta do partido. Dessa fotografia ficará a perceber-se que o PSD ficou reduzido a uma federação de caciques e notáveis locais. As bases são uma federação de bolsas de caciques. O partido esvaziou-se em boa parte da sua função. E num partido que não tem função todos ralham e ninguém tem razão. Os principais culpados são os senadores do PSD que lavaram as mãos como Pilatos."

Entretanto, começou já o "discurso-véu" da grande vitalidade do PSD. No entanto, lembremo-nos que apenas uma parte dos militantes se dispôs a ficar em condições de votar e que dessa parcela mais interessada, que terá rondado metade dos membros do partido,houve 40% que se abstiveram, que não se deram ao trabalho de votar. Podemos assim redimensionar muito o tal sinal de vitalidade partidária que supostamente estas eleições revelaram. De facto, dos mais de cento e vinte mil militantes do PSD não chegaram a votar 40.000. Recordo-me que, em noites de eleições autárquicas ou legislativas que lhes correram mal, diversos expoentes do PSD "choraram copiosamente",por causa de níveis de abstenção bem menores.
Ou seja, realmente, nas eleições internas do PSD, o exacerbar dos detalhes e a crispação mediática, distantes de qualquer diferenciação substancial, chamaram a atenção do público para o que se passava no "ring", mas não foram suficientes para levar a votar metade que fosse dos militantes do partido.

2 comentários:

SOPAPOS disse...

Há uma verdade insofismável, cujo experiência vem desde o 25 de Abril: umas eleições nunca se ganham e sempre se perdem.
É por isso que o Presidente da República, cuja função se reduz à difusa e amibiana magistratura de influência, e que, em boa verdade, significa pouco mais que coisa nenhuma na intervenção política, sempre t5em vindo a ser reeleito para um segundo mandato.
Assim não acontece com os governos. São as sucessivas asneiras, idiotices, agressões, péssimos desempenhos, nepotismos, compadrios, corrupções institucionalizadas, que levam o elitor a votar no desconhecido, na (in)fundada expectativa de que atrás pode vir o melhor... ou que enquanto o pau vai e vem folgam as costas....
SEmpre que se aproximam eleições há rebuçados para o potencial eleitor.... E como ( ainda) não votam só os poderosos, há que distribuir algumas migalhas por quem se pode aproximar das urnas de voto....
O PSD vai ser o recipiente inevitável das calinadas governativas do nosso partido... E doi ver que não sensibilidade para proteger os mais necessitados e tudo é decidido em favor do aumento da riqueza dos mais ricos...
É desta forma que o PSD vai ser o "recipiente" sem quaqluer mérito, da governança nacional...
Zedomar

Anónimo disse...

Se a politica hoje é o que é, mesmo assim nao podemos desvalorizar esta votaçao. Qd o povo partidário ou de qualquqer especie estas decontente muda sempre.Atençao Socrates!ou melhor Atençao PS!

AAroso