sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O homem do fato cinzento diz FMI.




O homem do fato cinzento diz FMI.

O homem do fato cinzento disse: “Ficámos surpreendidos com os resultados a que chegou a economia portuguesa”.
O homem do fato cinzento devia ter dito: “Enganámo-nos nas previsões pessimistas que fizemos quanto á economia portuguesa.”
O homem do fato cinzento acrescentou: “Mas devem ser feitas mais reformas estruturais”.
Eu pergunto ao homem de fato cinzento: “Se te enganaste porque nos dás os mesmos conselhos que darias se tivesses acertado?”
O homem do fato cinzento indica, embrulhando-as num economês internacional, quais são as suas reformas estruturais. Se traduzirmos pacientemente o seu economês internacional para português corrente, facilmente veremos que se reduzem a três tipos: prejudicar os trabalhadores, favorecer o capital e enfraquecer o Estado.
Como vemos é muito importante valorizar o português corrente, já que em economês internacional os portugueses como todos  os povos  podem ser enganados, mas em português corrente  os portugueses são muito mais dificilmente ludibriados. E os políticos-megafone do FMI em Portugal não podem ser tão desenvoltos como ainda não deixarem de ser, sob pena de correrem o risco de esqualidez eleitoral.
Duas perguntas me assaltam incomodativas, em conclusão:
1ª Por que razão milhares de cérebros sofisticados, pagos regiamente por dinheiros públicos, espremem a sua inteligência durante anos e anos para acabarem por recomendar  no essencial uma dócil obediência aos sonhos mais primários de qualquer patrão de esquina que esqueça a inteligência estratégica e a generosidade humana?
2ª Por que razão cabe aos Estados pagar e credenciar uma burocracia tecnocrática ostensivamente posta ao serviço do capital financeiro mundial?

Não espero que o homem do fato cinzento saiba responder.

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