sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Sob o manto diáfano da democracia, a nudez autoritária da direita.


Ao ter-lhe sido frustrada a tentativa de ser governo,  mesmo contra uma maioria de deputados na AR que o não queriam, a direita entrou numa desorientadas e vertiginosa  roda livre. Os seus expoentes mais extremistas (ou menos contidos) levam ( ou fingem que levam) a sério a lenda tosca de uma ilegitimidade democrática que contaminaria o actual governo do PS, apoiado parlamentarmente por toda a esquerda.
Tentaram um golpe de Estado subtil que os blindasse no poder e reduzisse a nada o significado político de se votar numa parte da esquerda e condenasse a outra parte a servir de aguadeira triste de suas excelências. Mas a resposta que receberam, afinal, demoliu uma constância estrutural que a favorecia e condenou-a à modesta necessidade de ter que ganhar realmente as eleições, tendo maioria absoluta, para nos voltara a mergulhar no pesadelo da sua governação.
A direita só gosta de eleições quando as ganha. E não tem um grande prazer em correr o risco de o não conseguir. Pelo menos de correr esse risco muitas vezes, estruturalmente.
As sombrias figuras que realmente personificam a direita e os seus poderes, os seus agitados escudeiros parlamentares, as meninas finas da linha e as matronas finas já um tanto passadas , os  maus e os bons filhos das abastadas famílias, que como todos sabemos são o coração mais puro da democracia, gritam desalmadamente a ilegitimidade irremediável do actual Governo.
O velho abutre de santa comba disse um dia tranquilamente que as eleições durante o seu triste reinado eram tão livres como na livre Inglaterra. Consta que foram então discretamente tratados em hospitais de referência gravíssimos ataques de riso. O actual coro de alucinados da direita não inaugurou, como se vê, o delírio. Tem nas sua raízes um  mestre triste.
De tal modo que poderíamos ousar perturbar a glória serena de Eça de Queirós para que nos emprestasse uma das suas frases mais límpidas: “Sob o manto diáfano da fantasia, a nudez forte da verdade”.

Mas , supremo atrevimento  pelo qual pedimos desde já um perdão: vamos usar a frase de Eça para despirmos  a vacuidade desta direita . E dizemos:  “ Sob o manto diáfano da democracia, a nudez autoritária da direita”.

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