Escribas, pequenos, médios e grandes vultos do jornalismo,
intelectuais discretos, modestos ou finórios, atuais e ex-ministros, grandes
catedráticos de pequenas instituições, enfim, toda uma luzida comitiva de
porta-vozes confessos ou apenas professos da velha direita portuguesa,
juntam-se para bramar a indispensabilidade de António Costa apresentar um
governo com a solidez do basalto com a dureza do diamante. Ou então volta-se ao
Estado Novo: só contam os votos da direita ( que por acaso são apenas 38%),
ficando no poder o Pedro e o Paulo.
Como se a António Costa fosse exigível o infinito, quando à
direita a tradição é a de lhe não se exigir nada. Como se a direita tivesse o
direito natural de ser governo; e como se o Partido Socialista fosse excecionalmente
autorizado a preencher algumas pausas, desde que obedeça ás condições políticas
que a direita entenda por bem pôr-lhe. E, na conjuntura atual, desde que além disso
se submeta a uma bateria de exigências pesporrentes, uma vez que ousa querer
ser governo com o apoio das outras esquerdas, de modo a ter assim um apoio
maioritário no parlamento. Exigências que a direita se esqueceu de que não são
constitucionalmente exigíveis, como se, azamboada por lhe terem tirado o
rebuçado que imprudentemente dera como certo, esteja possuída pelo sonho de que
o 25 de abril nunca existiu.
Mas afinal a alternativa é entre um governo de António Costa
suportado por um acordo político de razoável solidez e um governo de direita suportado
por uma maioria sólida ? Não, não é. A alternativa é entre um governo do PS com
um apoio maioritário na AR e um governo de gestão protagonizado pela direita
que foi rejeitado formalmente na AR; e, portanto, politicamente sem maioria,
provocatório e constitucionalmente inadmissível. Realmente, se Cavaco recusar
um governo liderado por António Costa fá-lo-á ao arrepio da Constituição e sem ter qualquer a hipótese de gerar uma
solução mais sólida que lhe possa opor. Ora, um hipotético governo de gestão
não só desobedece ao disposto na Constituição, como é uma solução
incomensuravelmente mais frágil do que a que teria sido recusada. Com uma
maioria contra ele na AR não tem qualquer viabilidade prática.
O que a matilha mediática tem pois que mostrar é qual é a solução governativa
que, na actual conjuntura, pode ser mais sólida do que um governo PS liderado
por António Costa com apoio parlamentar maioritário na AR. Não o conseguirá
porque essa solução não existe. E assim podemos dizer com justiça que a matilha
mediática da direita ou é
intelectualmente desonesta ou é estúpida.
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