Hoje vamos recordar um poema emblemático do grande poeta brasileiro Manuel Bandeira [ Recife, 19 de abril de 1886 — Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968]. O livro de onde transcrevo o poema está incluído numa edição de 1956, da Editorial Minerva ( Lisboa)." Obras Poéticas " é o título.
No prefácio, de um algo inesperado Henrique Galvão, comenta-se e procura contextualizar-se a poesia de Manuel Bandeira. Sucedem-se, ao longo de mais de quatrocentas páginas, vários livros do autor até então publicados: A Cinza das Horas, Carnaval, O Ritmo Dissoluto, Libertinagem, Estrela da Manhã, Lira dos Cinquent'Anos, Belo Belo e Opus 10.
Lembremos então o poema.
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau de sebo
Tomarei banho de mar !
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mais triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
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