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Dizem ao pobre: a tua pobreza é ainda pequena.
Dizem ao esfomeado: a tua fome é ainda passível de progressão.
Dizem ao desempregado: auferiste do privilégio do trabalho tempo demais, já não há postos de trabalho para toda a vida, não podes ter o luxo de um subsídio de desemprego.
Dizem ao doente: a saúde é um luxo que não podemos pagar-te. Estás doente? Cabe-te pagar a cura.
Dizem ao jovem que iria aprender: a educação é um privilégio, porque é demasiado cara para ser um direito.
Dizem ao que transporta o peso de muitos anos: a protecção pública na reforma e na velhice é um fardo para o país. Porque te obstinas em viver? Que egoísmo é o teu que te faz querer continuar vivo; e até teres a desmedida ambição de envelhecer com alguma dignidade, com alguma felicidade?
Dizem ao trabalhador: que sofreguidão é a tua que te faz pretender receber um salário digno pelo trabalho que prestas?
Pobres, esfomeados, desempregados, doentes, jovens, velhos e trabalhadores, são aos olhos dos sábios os grandes esbanjadores deste país. Por isso, continuam com paciência a exigir-lhes que travem a sua voracidade consumista, o seu hedonismo desbragado, a enorme luxúria dos seus ócios. Nem sempre são escutados com a atenção merecida. Mas não desfalecem. A toda essa tropa, tão alegadamente despesista, vão lembrando o dever irrecusável de apertarem o cinto, de apertarem o cinto, um furo, dois furos, todos os furos do mundo.
Distribuídos os conselhos, os sábios vão renovando diagnósticos e fornecendo terapêuticas, sempre seguidas à letra, por eles próprios enquanto agentes de um poder de Estado que representam e apoiam. Mas, respeitada a terapêutica o doente vai piorando. Por isso me assalta uma perturbante dúvida : Se são eles os paladinos do caminho errado porque cai sobre nós o peso do castigo ? Castigam o povo por seguir os seus conselhos ?
É paradoxal, mas os sábios continuam a não hesitar. Metodicamente, insistem em terapêuticas que agravam a doença. Chamam a isso austeridade e castigam-nos pelos seus erros.
Dizem ao jovem que iria aprender: a educação é um privilégio, porque é demasiado cara para ser um direito.
Dizem ao que transporta o peso de muitos anos: a protecção pública na reforma e na velhice é um fardo para o país. Porque te obstinas em viver? Que egoísmo é o teu que te faz querer continuar vivo; e até teres a desmedida ambição de envelhecer com alguma dignidade, com alguma felicidade?
Dizem ao trabalhador: que sofreguidão é a tua que te faz pretender receber um salário digno pelo trabalho que prestas?
Pobres, esfomeados, desempregados, doentes, jovens, velhos e trabalhadores, são aos olhos dos sábios os grandes esbanjadores deste país. Por isso, continuam com paciência a exigir-lhes que travem a sua voracidade consumista, o seu hedonismo desbragado, a enorme luxúria dos seus ócios. Nem sempre são escutados com a atenção merecida. Mas não desfalecem. A toda essa tropa, tão alegadamente despesista, vão lembrando o dever irrecusável de apertarem o cinto, de apertarem o cinto, um furo, dois furos, todos os furos do mundo.
Distribuídos os conselhos, os sábios vão renovando diagnósticos e fornecendo terapêuticas, sempre seguidas à letra, por eles próprios enquanto agentes de um poder de Estado que representam e apoiam. Mas, respeitada a terapêutica o doente vai piorando. Por isso me assalta uma perturbante dúvida : Se são eles os paladinos do caminho errado porque cai sobre nós o peso do castigo ? Castigam o povo por seguir os seus conselhos ?
É paradoxal, mas os sábios continuam a não hesitar. Metodicamente, insistem em terapêuticas que agravam a doença. Chamam a isso austeridade e castigam-nos pelos seus erros.
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