domingo, 19 de setembro de 2010

Eleições no Brasil

A direita brasileira que é oposição a Lula, até há cerca de um ano atrás, tinha alguma razão para esperar colocar um dos seus na Presidência da República. De facto, nas sondagens, José Serra , Governador de S.Paulo, e Aécio Neves , Governador de Minas Gerais, os dois mais importantes colégios eleitorais, entre os vários Estados brasileiros, apareciam em posição claramente destacada. Tudo parecia indicar que era no processo interno de escolha de um destes dois candidatos, ambos pertencentes ao PSDB, que se ia jogar a questão de saber quem seria o próximo Presidente da República do Brasil.

Para agravar as dificuldades do campo "lulista", dentro do PT não havia um candidato cujo potencial eleitoral conhecido se aproximase de qualquer dos nomes acima referidos e muito menos da popularidade de Lula. Também por isso, com alguma naturalidade, entre os partidos seus aliados emergiam nomes como potenciais candidatos. Para complicar, uma ex-Ministra do Governo de Lula, membro do PT, ex-Senadora prestigiada, com apreciável notoriedade pública, abandonava o PT, para aderir ao PV( Partidos dos Verdes) e assim ter a possibilidade de se candidatar também à Presidência da República.

Começou, entretanto, a dar-se por adquirido que Lula tinha uma preferência pela qual se bateria: Dilma Roussef, chefe da sua Casa Civil, o que na estrutura política brasileira envolve a responsabilidade pela coordenação dos ministros, alguém que está acima deles, alguém que com eles partilha o Governo. Mas, de início, Dilma nas sondagens estava abaixo dos dez por centro, atrás de outros pré-candidatos apoiantes de Lula, como era o caso de Ciro Gomes ( PSB).

O PT e Lula convergiram, realmente, nesse nome e apostaram num combate claro entre um candidato da direita anti-Lula e um candidato que representasse a continuidade do actual governo, liderado por Lula. Marina Silva, apoiada pelos Verdes , pareceu ser um factor perturbador dessa dicotomia. Os partidos de direita, ou por ela hegemonizados, convergiram no apoio ao candiato escolhido pelo PSDB que acabou por ser José Serra.

No entanto, o PT e Lula evitaram que Ciro Gomes se candidatasse e conseguiram o apoio do PMDB que indicou o candidato a vice-presidente na respectiva chapa. Os vinte pontos de vantagem de Serra em relação a Dilma foram-se esvaindo. Em Agosto, Dilma e Serra já estavam praticamente empatados, à volta dos 35%, enquanto Marina estacionava em torno dos 10 %. Depois Dilma foi subindo e Serra descendo; Marina permaneceu estável; os outros candidatos continuaram irrelevantemente abaixo de 1%.

Já em Setembro, passou a ser tema central das reflexões sobre os resultados eleitorais, já não se Dilma era uma favorita consistente, mas se ganharia ou não à primeira volta. A sua vantagem sobre Serra passou a oscilar entre números bem acima dos 20 %.
Paralelamente, as estimativas quanto à futura relação de forças nas duas Câmaras do Congresso, com particular relevo para o Senado, passou a ser alarmante para os partidos de oposição a Lula. Tudo parecia fazer crer que o PSDB, a mais importante força dessa oposição, para conservar algum relevo político nacional, no próximo futuro dependia da conquista dos governos estaduais de S.Paulo e de Minas Gerais, perdidos que pareciam estar o Rio de Janeiro e a Baía para apoiantes do governo e, em grande risco, Rio Grande do Sul.
Desesperada a direita abandonou então o combate político, tendo-se deixado envolver numa estratégia caluniosa de aproveitamento e empolamento de erros ou deficiências da administração pública, para, em conjugação vergonhosa com os grandes órgãos de comunicação social, tentar reverter a situação e evitar a hecatombe política que se desenha. Tal como antes da segunda vitória de Lula, tentou demonizar Dilma e o PT. Sôfrega e ciente de que trilha um caminho arriscado, tem saltado de tema em tema num desepero confrangedor.

Curiosamente, talvez para evitarem o ridículo completo, os mesmos grandes jornais brasileiros que participam na dramtização de uma crise imaginária, são forçados a reconhecer que as sondagens não parecem mostrar qualquer penalização para Dilma.

Os mesmos candidatos da oposição que publicavam fotografias e imagens suas com Lula, numa descarada tentativa de colherem algumas migalhas da sua popularidade, voltam, na semana seguinte a demonizar o actual governo e o PT. Não inovam, mas insistem. Mas não devem ser menosprezados. Falharam nas duas últimas eleições , mas Lula teria sido eleito antes, se não tivesse tido êxito um golpe de mão mediático que ficou célebre e foi desferido numa das anteriores campanhas .
Vale a pena , entretanto, recordar que meses de combate político eleitoral no Brasil deixaram a comunicação social portuguesa largamente indiferente; quando o não esteve, limitou-se a ir ronronando superficialidades dispersas, sobre o que ia acontecendo. Todavia, excitada pelo alarido mediático da canzoada anti-Lula, a comunidade lusíada dos caniches políticos mais pernósticos parece ter-se começado a agitar. Procurará, talvez, associar-se, conquanto confusamente, a tudo o que morda em Lula e em Dilma. É certo que eles já estão habituados a ladrar a alvos domésticos semelhantes, mas seria de esperar que, internacionalmente, tivessem um pouco mais de objectividade.