Há dez anos, pouco tempo depois de ter iniciado este blog, no dia 25 de Novembro de 2007, escrevi aqui o seguinte texto:
"Hoje, passados 40 anos, transcrevo três pequenos poemas que escrevi, em homenagem a quem morreu nas cheias de 1967, ocorridas na região de Lisboa. Foram incluídos, mais tarde, em 1970, no meu livro “Maio Ausente”, editado no Cancioneiro Vértice."
Hoje, quando passaram mais dez anos, volto a transcrever os mesmo poemas, ou talvez um poema desenvolvido em três breves momentos. O salazarismo constrangido escondeu a desgraça. O povo em carne viva foi solidário. Caminhou-se muito, mas não o suficiente. Meio século depois, faz ainda sentido reiterar a homenagem consubstanciada no poema que então escrevi.
25
de Novembro de 1967
(Aos que sofreram as inundações de Lisboa)
Há essa noite
rudemente escrita
no experimentado espanto
da cidade
algas lentas de medo
à flor da água
longo soluço
duma morte larga
Lisboa
sua excessiva dimensão
de mágoa
*
Tragédia persistente
escolheu atores
mais que experimentados
coisa por eles mal possuída
única lautamente repartida
já estava sua morte anunciada
Não são heróis
os mortos perfilados
na memória tão forte dessa noite
há muito estava a morte na cidade
nas baixas casas tristes da cidade
na carne podre deste tempo nosso
*
Homens de igual morte prometida
é escasso bem o pranto da cidade
é preciso
romper o nevoeiro
escolher a morte
mais que ser escolhido
Rui
Namorado
( publicado no
livro “Maio Ausente”, em 1970, no Cancioneiro Vértice- Coimbra)
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