Hoje, vou recordar Vinicius de Moraes, poeta brasileiro do século XX [ Rio de Janeiro -1913/1980] que se espraiou pela vida com alegria e genialidade. Diplomata, cronista e jornalista, intrometeu-se na música brasileira, misturando verbo, voz e música, na sua fraternidade boémia com Tom Jobim, João Gilberto e Chico Buarque. Usando o seu próprio modo de dizer, como poeta voou alto.
Lembro hoje, dois dos seus poemas incluídos na 17ª edição do seu "Livro de Sonetos", publicada no Rio de Janeiro pela José Olympio Editora em 1987. Num deles Vinicius homenageia Pablo Neruda, noutro exalta o futebol brasileiro através do lendário Garrincha.
Como evocação adiciono uma fotografia que ilustra a passagem de Vinicius por Coimbra, nos anos 60.
Soneto a Pablo Neruda
Quantos caminhos não fizemos juntos
Neruda, meu irmão, meu companheiro...
Mas este encontro súbito, entre muitos
Não foi ele o mais belo e verdadeiro?
Canto maior, canto menor — dois cantos
Fazem-se agora ouvir sob o Cruzeiro
E em seu recesso as cóleras e os prantos
Do homem chileno e do homem brasileiro
E o seu amor — o amor que hoje encontramos...
Por isso, ao se tocarem nossos ramos
Celebro-te ainda além, Cantor Geral
Porque como eu, bicho pesado, voas
Mas mais alto e melhor do céu entoas
Teu furioso canto material!
[Atlântico Sul, a caminho do Rio, 1960]
Neruda, meu irmão, meu companheiro...
Mas este encontro súbito, entre muitos
Não foi ele o mais belo e verdadeiro?
Canto maior, canto menor — dois cantos
Fazem-se agora ouvir sob o Cruzeiro
E em seu recesso as cóleras e os prantos
Do homem chileno e do homem brasileiro
E o seu amor — o amor que hoje encontramos...
Por isso, ao se tocarem nossos ramos
Celebro-te ainda além, Cantor Geral
Porque como eu, bicho pesado, voas
Mas mais alto e melhor do céu entoas
Teu furioso canto material!
[Atlântico Sul, a caminho do Rio, 1960]
O anjo das pernas tortas
A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.
Vem-lhe o pressentimento: ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés ─ um pé-de-vento!
Num só transporte a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.
Garrincha, o anjo, escuta e atende: ─ Goooool!
É pura imagem: um G que chuta um o
Dentro da meta, um 1. É pura dança!
[Rio, 1962]
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Em Coimbra, nos anos 60, na República Baco, confraternizando com estudantes,Vinicius, de óculos escuros, com o braço sobre o ombro de Joaquim Namorado. De costas no primeiro plano, Zé Niza; mexendo no nariz, Quim Brandão.
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