A bárbara agressão, contra os trabalhadores, a classe média e os excluídos, perpetrada pelo neoliberalismo, por intermédio do capital financeiro e dos seus sequazes, tem procurado buscar alguma legitimidade, alegando estar a seguir os ditames de uma infalível ciência económica, objectiva e neutra. Obedecer ao que é de facto um verdadeiro esoterismo numerológico seria afinal garantir, a longo prazo, a melhor solução; que, pela sua exclusiva conformidade com a ciência, seria afinal a única possível. O breve texto que a seguir transcrevo contribui muito para desmontar essa mistificação. Por isso, as instâncias de poder do capitalismo financeiro internacional podem ainda reproduzir como autómatos as vulgatas ideológicas do neoliberalismo; mas fazem-no já como espectros de uma ideologia que a realidade tornou obsoleta.
Desta vez, achei que devia traduzir o referido texto, para que todos o possam ler sem serem embaraçados pela barreira da língua. O texto foi publicado no jornal italiano Repubblica (31 de maio de 2013), sendo seu autor o jornalista Roberto Petrini . Trata-se de um comentário a uma recente descoberta do economista norte-americano Joseph Stiglitz, nome sobejamente conhecido que se tem imposto pelo rigor e desassombro crítico. O título alerta-nos desde logo :"A desigualdade mata o crescimento: eis a demonstração de Stiglitz". E acrescenta-se de imediato:
Desta vez, achei que devia traduzir o referido texto, para que todos o possam ler sem serem embaraçados pela barreira da língua. O texto foi publicado no jornal italiano Repubblica (31 de maio de 2013), sendo seu autor o jornalista Roberto Petrini . Trata-se de um comentário a uma recente descoberta do economista norte-americano Joseph Stiglitz, nome sobejamente conhecido que se tem imposto pelo rigor e desassombro crítico. O título alerta-nos desde logo :"A desigualdade mata o crescimento: eis a demonstração de Stiglitz". E acrescenta-se de imediato:
"Com o teorema de Stiglitz foi infligido outro duro golpe à
ortodoxia neoliberal dominante nos tempos da grande crise: se o índice de Gini
( ou seja, o indicador que mede a desigualdade) aumenta, o “multiplicador” dos
investimentos diminui e assim o PIB abranda. Eis porque
razão".
Segue-se depois o texto:
"É a desigualdade o verdadeiro “killer” do PIB. Nos países
onde os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres o
produto interno bruto marca passo e às vezes cai. Nas nações onde existe uma
grande “middle class” , pelo contrário, a prosperidade aumenta. O Prémio Nobel
Joseph Stiglitz rompe com as demoras e
formaliza num verdadeiro teorema, como ele próprio o define, a síntese dos
estudos que dirige há anos.
A ocasião para serem apresentados os extraordinários resultados
da investigação de Stiglitz, numa espécie de antestreia mundial, é a convenção
organizada em roma pela SIEDS ( la Società italiana di economia, demografia e
statistica), iniciado ontem (30 de maio de 2103), onde o Prémio Nobel enviará
as considerações conclusivas, escritas a quatro mãos com o seu próximo
colaborador italiano da Università Politecnica delle Marche, Mauro Gallegati.
Assim o “mainstream” é posto a um canto. O teorema é claro e
luminoso como uma fórmula química ou um relação física: se índice de Gini ( ou
seja, o indicador de desigualdade inventado por um economista italiano, Corrado
Gini) aumenta, logo aumenta a desigualdade, o “multiplicador” dos investimentos
diminui e portanto o PIB trava.
A equação de Stiglitz arrisca-se a ser o terceiro golpe nas
posições da teoria económica dominante agora vacilante. O primeiro, dado há
alguns meses, foi aquele que pôs em causa o 2dogma2da austeridade: o FMI na
verdade calculou que o corte do deficit num ponto percentual reduz o PIB em
dois e não apenas ̶ como se cria até hoje ̶ em meio ponto percentual. O outro golpe
desajeitado foi aquele que desmontou, desmascarando um erro “Excel”, a teoria
da dívida de Rogoff e Reinhard, segundo a qual para além dos 90 por cento na
sua relação com o PIB ela levaria inevitavelmente à recessão.
Mas o novo assalto de Stiglitz arrisca-se a ser ainda mais
perigoso para as teses do “status” económico. A desigualdade, de facto para o
Prémio Nobel, fere profundamente o PIB, não só através da queda dos consumos mas
também porque o sistema é “ineficiente” se prevalecem rendas e monopólios.
“Frequentemente a caça ás rendas ̶
concluem Stiglitz e Gallegati ̶ comporta um verdadeiro esbanjamento de
recursos que reduz a produtividade e o bem-estar do país”.
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