Percorremos sofridamente os caminhos sombrios de uma comédia trágica. O governo da direita mergulha na vertigem das mais complexas equações, para apurar com rigor até que ponto é que deve apertar o pescoço do povo. A si próprio se considera corajoso por levar um pouco mais longe a violência de cada aperto. Homens graves, esguios, cinzentos e estrangeiros, analisam à lupa o grau de aperto e muito circunspectamente, com a mais fria das objectividades, concluem que o governo está a ter a coragem de ser excessivo. No entanto, à cautela, murmuram vagamente a necessidade de um pouco mais de aperto. É certo que do pescoço do povo (ou do povo, enquanto pescoço que outros apertam) nada sabem. Mas não se lhes pode exigir algo de diferente. Eles são apenas técnicos de aperto, sacerdotes frios do sacrifício dos fracos para que os fortes possam continuar tranquilamente a vampirizá-los. É claro, que sem qualquer má intenção, escravos que são da fria objectividade de alegados números, que invocam com a força com que os crentes invocam o espírito santo.
As oposições de esquerda mais radicais gritam, é certo. Mas como já gritavam antes do garrote actual, quiçá com mais energia, vão passando despercebidas. O PS discorda da intensidade do aperto, é forte na recusa da posição dos dedos, no repúdio pela brusquidão dos gestos. Murmura, quando se esperava que gritasse.
O próprio pescoço apertado, ou seja, o povo, agita-se aflito com a falta de ar, espantado com esta comédia trágica que o atinge, representada por uns quantos almofadinhas que chegaram de repente para lhes apertar o pescoço, envoltos na ingénua fleuma de quem joga ao berlinde com a vida dos outros; mas vai consentindo no garrote que o asfixia. Por enquanto...
Ninguém parece ainda suficientemente acordado para poder perguntar: “É absolutamente inevitável que o governo aperte o pescoço do povo, apenas prometendo que terá coragem de o apertar ainda mais se os oráculos loucos da finança internacional assim o ordenarem ?” Ou talvez ninguém tenha ainda perdido suficientemente a paciência para dizer: “ Tirem imediatamente a mão do meu pescoço!” Dizer ; e pegar na mãozinha do poder, arrancando-a de vez deste pescoço.
As oposições de esquerda mais radicais gritam, é certo. Mas como já gritavam antes do garrote actual, quiçá com mais energia, vão passando despercebidas. O PS discorda da intensidade do aperto, é forte na recusa da posição dos dedos, no repúdio pela brusquidão dos gestos. Murmura, quando se esperava que gritasse.
O próprio pescoço apertado, ou seja, o povo, agita-se aflito com a falta de ar, espantado com esta comédia trágica que o atinge, representada por uns quantos almofadinhas que chegaram de repente para lhes apertar o pescoço, envoltos na ingénua fleuma de quem joga ao berlinde com a vida dos outros; mas vai consentindo no garrote que o asfixia. Por enquanto...
Ninguém parece ainda suficientemente acordado para poder perguntar: “É absolutamente inevitável que o governo aperte o pescoço do povo, apenas prometendo que terá coragem de o apertar ainda mais se os oráculos loucos da finança internacional assim o ordenarem ?” Ou talvez ninguém tenha ainda perdido suficientemente a paciência para dizer: “ Tirem imediatamente a mão do meu pescoço!” Dizer ; e pegar na mãozinha do poder, arrancando-a de vez deste pescoço.
Quando o fizer , os numerólogos engravatados da finança internacional esvaziar-se-ão como um balão furado, porque o povo está previsto na sua obscura ciência como vítima e não como sujeito. Essa é, aliás, uma das limitações dos teóricos do garrote que suportam o actual governo; e talvez uma das causas que os impede de compreender que o caminho que seguem os vai levar, forçosamente, ao mesmo tempo que ficcionam em vão uma saída para a crise, a praticarem uma perigosa sementeira de tempestades.