segunda-feira, 17 de abril de 2017

Regresso a 17 de Abril de 1969




Regresso a 17 de Abril de 1969

Como princesa triste está deitada
Coimbra do eterno encantamento
Lembrada desse dia eternamente
Irmã antiga do que mais quisemos.

O fio da memória traz ainda
A luz aberta e limpa desse dia.
Uma luz crua, imensa , sem fronteiras,
Como se o tempo fosse hoje e não passasse.

Lenta a saudade paira sobre nós
Brisa de um tempo que não tem limites.
Há nomes que nos rasgam por partirem
Quando era ainda o tempo de ficarem.

Vamos sendo esculpidos docemente  
Por dias novos  sempre já passados,
Quando ágeis se escapam entre os dedos
Como se antes de serem, regressassem.

Voltamos por todos os caminhos
Ao tempo que fundámos nesse dia.
Cada hora nos lembra do mistério
De termos sido o vento da alegria.

E agora que os anos se cansaram
Da limpidez sem margens do futuro
E parecem perdidos da aventura
Esquecidos do clamor e da viagem,

Voltamos às planícies que inventámos
Para sermos  a semente,  tempestade,
Na linha vertical que cultivámos
Subindo desmedida em todos nós.

Escrevemos a memória no futuro,
Colhemos a saudade sem temor,
Onde estivermos está o mês de Abril
A cólera dos sonhos, o amor.

Subimos a garganta dos clamores
No gume das palavras mais cortantes,
Queremos  a voz exacta da justiça
O som de respirar a liberdade.


[ Rui Namorado -17/04/2017]


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